segunda-feira, 20 de julho de 2009

O retorno do Pé grande e seus mistérios


Nova pesquisa revisita a lenda do monstro peludo, e analisa as razões para o interesse coletivo que provocou nos Estados Unidos em uma época de profundas mudanças sociais no pós-guerra.

O recém lançado livro "Pé grande, vida e época de uma lenda" (University of Chicago, 2009), do pesquisador americano Joshua Blu Buhs relata avistamentos, encontro de pegadas e supostos raptos de mulheres e crianças que o animal com forma humana teria cometido nas montanhas da costa do Pacífico dos Estados Unidos, durante as décadas de
60 e 70.

Em uma rápida narrativa, o autor conta como uma lenda provocou raiva e histeria na então baixa classe média rural daquele país e que nas grandes cidades se converteu em ícone de algo mais profundo.

"Pé grande", o mais recente dos dois outros livros dedicados a este personagem, centra seu interesse em como o mito e a lenda do Grande Selvagem encontrou terreno fértil no inconsciente coletivo deste país, brilhantemente explorado por Hollywood e a publicidade.

O autor ensaia que a razão está na difícil situação econômica enfrentada por esse segmento da população, os homens brancos da América rural, após o colapso econômico e moral da Segunda Guerra Mundial.

Ameaçados pela luta pelos direitos civis, pelo progresso econômico das mulheres e a sua entrada no mercado de trabalho, massificação da industrialização, este setor apresenta um interesse radical no personagem selvagem e ardiloso que "toca o seu ser essencial", não obstante, sua natureza fantástica.

Para o autor, Pé grande torna-se um "representante da realidade do que está para além da superficialidade, e que simboliza o mundo da vida e da morte e as questões vitais do homem"

Evidentemente, seriam os meios de comunicação e publicidade que compreenderiam plenamente esse fenômeno e dariam carta branca para revistas, supostas fotografias e provas da sua existência, filmes e dezenas de anúncios de produtos com a figura do personagem peludo. O público atuaria com total fascínio por este monstro moderno.

Blu Buhs conta como o Pé grande é apenas o herdeiro de uma mítica raça de homens selvagens que vieram a luz nos tempos bíblicos.

Assim, lembra-se como Gilgamesh dominou o cenário com as suas proezas de fera, e que é este arquétipo, o ser selvagem, "o homem da floresta", que chegou mesmo a fazer parte dos primeiros textos de antropologia e de história natural ou bestiarios, como se popularizaram, que se tem registro.

O autor ressalta que em todas as culturas do mundo, sempre perdura esta figura inimiga do homem, que afasta a população, vaga sozinho na natureza e é indomável. Assim, juntamente com o Pé grande, o panteão dos monstros peludos também partilha créditos com o Sasquatch e o Yeti.

Blu Buhs especula inclusive, que a existência e inclusão destes seres na cultura pop, tem a ver com razões psicoanalíticas da espécie humana. A idéia da presa, permanentemente temerosa de ser caçada, seria um terreno fértil para criar e aprofundar estes monstros, e alimentar a lenda em torno deles.

Isto também explicaria a existência de predadores gigantes e praticamente indestrutíveis da humanidade desde Grendel, o ogro nórdico, a Godzilla, o réptil radioativo japonês do pós-guerra.


Fonte: Terra Chile

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