Uma mudança ambiental radical --com terremotos e inundações-- é o que provavelmente aniquilou a cultura de Caral-Supe, no Peru, uma das primeiras grandes civilizações sul-americanas.
Um estudo mostra como esse povo, que ocupou o norte do país por 2.000 anos, abandonou a região de forma abrupta, em apenas 200 anos.
O principal fator foi uma alteração natural no ciclo climático ocorrida há 3.600 anos, com intensos El Ninõs, diz um estudo publicado hoje na revista "PNAS", liderado pelo antropólogo Daniel Sandweiis, da Universidade do Maine (EUA).
O trabalho se baseou em uma série de evidências geológicas nos sítios arqueológicos de Caral (localizado no interior, 182 km ao norte de Lima) e de Áspero, no litoral.
O cenário descrito por Michael Moseley, cientista da Universidade da Flórida que também participou do estudo, é desolador.
"No final do período analisado [entre 3.600 e 3.800 anos atrás] alguns templos foram reconstruídos, mas outros não."
Em Áspero, diz Moseley, o povo chegou a viver entre os templos danificados, perto de terras férteis que tinham sofrido depósitos de sedimentos e virado arenais.
"Houve até rejeição aos deuses, algo que aumentou quando a invasão da areia ficou maior."
O aumento de sedimentos no local foi resultado de uma sequência de eventos. Terremotos, primeiro, alteraram a configuração geológica local.
Ao mesmo tempo, inundações afetarem diretamente as cidades e carregaram mais areia para a região.
O depósito de sedimento perto da costa, então, fez com que o rio Supe --eixo do vale que abrigava a civilização- fosse modificado.
A pesca e a irrigação que sustentavam a economia local ruíram.
Segundo os cientistas, o desfecho foi quase imediato. A sociedade de Caral-Supe, que prosperou no norte do Peru 4.000 anos antes dos incas, acabou sucumbindo às intempéries da natureza.
Os povos que passaram a habitar a região depois mudaram seu modo de agir, afirmam os cientistas envolvidos na pesquisa.
"Essas novas pessoas usavam cerâmica, uma espécie de tecelagem e maior diversidade agrícola", diz Moseley.
Fonte: Folha Online
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