sábado, 15 de agosto de 2009

Grupo acha novas espécies de réptil em chapada baiana

O lagarto Acratosaura spinosa, com cerca de 12 cm, descoberto por biólogos da USP em Mucugê (BA), na Chapada Diamantina


Duas novas espécies de lagartos são os frutos mais recentes de pesquisas sobre a biodiversidade dos campos rupestres da Chapada Diamantina, ambiente que se caracteriza pelo grande número de animais e plantas que só existem por lá.

E um dos responsáveis pela descrição dos répteis avisa: ele já tem mais três potenciais novas espécies em identificação.

"Entre anfíbios e répteis, várias espécies foram descritas recentemente e outras tantas ainda estão por ser descritas", conta José Cassimiro, doutorando do Departamento de Zoologia da USP.

A diversidade desconhecida da região é tamanha que os dois novos bichos foram achados no mesmo município --Mucugê, na Bahia.

Cassimiro e seus colegas da USP e da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA) batizam os bichos, o Acratosaura spinosa e o Gymnodactylus vanzolinii, em dois artigos na revista científica "Zootaxa".

Ambos habitam elevações em torno de 1.000 m, nas áreas rochosas e de vegetação rasteira que caracterizam os campos rupestres. São criaturas de apenas 12 cm de comprimento, mas de aparência singular.

O A. spinosa ganhou o nome de "espinhoso" em latim por causa das escamas com quilhas, protuberâncias que dão ao bicho uma aparência áspera.

Os machos possuem poros característicos nas coxas e nos genitais, pelos quais são produzidas substâncias que, acredita-se, possam atrair parceiras ou marcar território.

Já o G. vanzolinii, apesar de suas belas listras no dorso, é um primo relativamente próximo da lagartixa "doméstica". "A lagartixa que conhecemos é originária da África, possivelmente trazida em navios negreiros", conta Cassimiro.

No artigo em que descrevem o G. vanzolinii, o biólogo e seu orientador, Miguel Rodrigues, aproveitam para esclarecer um equívoco do zoólogo e compositor Paulo Vanzolini, que já estudou lagartos do gênero. Uma das espécies batizadas por ele, a G. carvalhoi, não seria válida.

"Até 2005, só havia uma subespécie de G ymnodactylus no cerrado, a G. g. amarali. Vanzolini, baseado em um exemplar jovem e com pele danificada do Maranhão, concluiu que ela só ocorria lá, elevou-a à condição de espécie e resolveu colocar todos os outros exemplares do cerrado numa nova espécie, a G. carvalhoi.

Ao examinar esse animal, vi que ele não se diferencia dos do resto do cerrado", explica Cassimiro.

Parece um detalhe sem importância, mas um inventário preciso é essencial para entender uma fauna tão única --e ameaçada.

"Em campo, a gente constata que esse tipo de ambiente vai pelo mesmo caminho que os nossos outros biomas", lamenta o pesquisador.

"Plantações de eucalipto já são comuns em algumas áreas", afirma. Além disso, áreas montanhosas podem ser especialmente vulneráveis a mudanças trazidas pelo aquecimento global. "Mas ainda é cedo para saber quais seriam os danos a esse ambiente."

Procurado pela Folha, Vanzolini não quis comentar o estudo. "Não se faz debate científico em meio [de comunicação] para leigo", declarou.


Fonte: Folha Online

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