quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pássaros inteligentes atraem mais fêmeas, diz estudo

Os pássaros-cetim passaram por testes cognitivos


Pássaros-cetim que se mostram mais inteligentes atraem um número maior de parceiras, segundo um estudo da Universidade de Maryland publicado pela revista científica Animal Behaviour.

Os pesquisadores aplicaram uma série de testes cognitivos a machos da espécie para avaliar sua capacidade de resolução de problemas.

Os pássaros que tiveram melhor desempenho também foram os que procriaram com mais fêmeas, em comparação com os pássaros menos inteligentes.

Este é o primeiro estudo a mostrar que os machos que se saem melhor na resolução de problemas também têm maior número de parceiras.

Os cientistas estudaram os pássaros-cetim (Ptilonorhynchus violaceus) que vivem na floresta ao sul de Brisbane, na Austrália.

Os pássaros-cetim são conhecidos por seu complexo sistema de cortejar as fêmeas e a construção de elaborados ninhos, na forma de caramanchões.

Os machos passam horas construindo o ninho, que decoram por dentro com objetos coloridos e até flores. As fêmeas visitam os ninhos antes de escolher os machos.

“Os pássaros-cetim são o tipo de pássaro que faz você pensar que a expressão ‘cérebro de passarinho’ deveria ser usada como um elogio”, disse Jason Keagy, que liderou o estudo.

Os cientistas desconfiaram que, por conta do complexo sistema para cortejar as fêmeas, os pássaros mais inteligentes teriam vantagens.


Teste


Para descobrir o quão inteligente os pássaros eram, os cientistas desenvolveram uma série de testes envolvendo resolução de problemas.

“Os pássaros-cetim machos não gostam de objetos vermelhos dentro de seus ninhos e imediatamente tentam removê-los”, disse Keagy.

“Nós criamos situações em que os machos tinham que remover um obstáculo para remover os objetos vermelhos.

O primeiro teste consistia em um pote transparente colocado sobre três objetos, e os machos tinham que encontrar um meio de derrubar o pote para retirar os objetos ofensivos.”

“Os melhores em resolução de problemas conseguiram remover o pote mais rapidamente”, disse ele.

A equipe de cientistas ainda desenvolveu um segundo teste em que os pesquisadores fixaram um azulejo no chão, que o pássaro-cetim não poderia remover.

Os pássaros mais inteligentes perceberam isso mais rapidamente e cobriram o azulejo com folhas e gravetos.

Quando os cientistas avaliaram o sucesso dos pássaros junto ao sexo oposto, descobriram que os que se saíram melhor nos testes também tinham maior número de parceiras.


Cérebro sexy


Há várias razões potenciais para a o sucesso dos machos inteligentes, explica Keagy.

“Ajuda se pensarmos no cérebro como uma vitrine da qualidade genética de um macho por conta da complexidade do cérebro”, disse ele.

Por exemplo, diz Keagy, outros estudos mostram que indivíduos doentes, com muitos parasitas, em geral não se saem bem em testes cognitivos.

Esses mesmos machos geralmente têm parasitas por causa de um sistema imunológico deficiente.

“Se você for fêmea, esses não são os tipos de genes que você quer encontrar no pai de seus filhos.”

“Além disso, se você está falando de fêmeas de uma espécie em que o macho também assume responsabilidade sobre os filhos, os machos mais ‘inteligentes’ podem se sair melhor na procura de comida e em cuidar dos filhos e, portanto, ser uma escolha melhor de parceiro”, diz ele.


Escolha


“Neste momento, não sabemos com certeza como as fêmeas estão escolhendo parceiros mais ‘inteligentes’, mas há duas hipóteses básicas de como isso pode ocorrer”, afirma Keagy.

“As fêmeas podem ter evoluído para escolher machos que tem inteligência cognitiva superior e observam o comportamento deles durante a corte que indicam o quão ‘inteligente’ eles são.”

O complexo sistema de cortejar dos pássaros-cetim, que envolve dança, e a construção dos ninhos permite às fêmeas ter uma idéia de seu desempenho cognitivo.

Outra possibilidade, sugere Keagy, é que os machos usem seus cérebros para convencer as fêmeas a não deixá-los.

Eles podem fazê-lo ao responder efetivamente aos sinais das fêmeas, já conhecidos na espécie.

“O mais provável é que esteja ocorrendo uma espécie de combinação dessas duas coisas”, diz Keagy.

O cientista espera que o estudo levante a discussão sobre como a seleção sexual pode influenciar a evolução cognitiva.

“Normalmente, quando a evolução do cérebro é discutida, a gente supõe que deve ter sido um tipo de seleção natural, como melhor desempenho em procurar comida ou se integrar em grupos sociais”, diz o cientista.

“Mas nós não podemos ignorar que, a menos que um macho consiga se reproduzir com uma fêmea, ele não vai passar seus genes adiante.

Se o animal carrega algo tão grande e valioso como um cérebro, por que não usá-lo para aumentar suas chances de procriar?”


Fonte: BBC

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