Os ladrões de tumbas que saquearam um túmulo antigo no Vale do Elá, a poucos quilômetros de Jerusalém, não sabiam o quão precioso seria o fruto do saque.
Ao invés de ouro ou pedras preciosas, os gatunos descobriram no local - onde, segundo a Bíblia, Davi e Golias se enfrentaram - uma caixa de pedra calcária com desenhos e inscrições misteriosas.
Mal sabiam que se tratava de um ossuário (arca funerária) de 2 mil anos de idade que pode dar dicas sobre a vida de um dos principais personagens do Novo Testamento: o sacerdote Yossef Bar Kaiafa (em português “José filho de Caifás”, ou apenas Caifás) que, segundo os evangelhos, selou o destino de Jesus Cristo ao entregá-lo a Pôncio Pilatos.
O ossuário não é de Caifás, que presidiu o Sinédrio, o mais alto conselho de sacerdotes judeus na época da ocupação romana da Judéia (o que seria do sumo sacerdote foi encontrado há 1990 e está em exposição no Museu Rosckefeller, em Jerusalém).
Mas sim de sua neta, Miriam. Como os ladrões destruíram evidências, coube a dois especialistas - procurados pela polícia israelense em 2008, depois de confiscar o artefato dos larápios - descobrir se a relíquia é legítima.
Depois de meses de averiguação detalhada e com ajuda de equipamentos modernos, os arqueólogos Yuval Goren, da Universidade de Tel Aviv, e Boaz Zissu, da Universidade Bar-Ilan, concluíram que tanto o ossuário quanto os desenhos e as inscrições que o enfeitam são autênticos do primeiro século da Era Comum.
Eles usaram um microscópio eletrônico de varredura ambiental e um espectrômetro de energia dispersiva (ESEM/EDS) para avaliar a patina que cobre a caixa de pedra. As conclusões foram publicadas na edição mais recente do "Israel Exploration Journal".
-- Nosso objetivo foi verificar se a pedra e as inscrições apresentam sinais de deterioração consistentes com a idade alegada, como corrosão por água e acúmulo de silício. Isso é impossível de falsificar - explicou o arqueólogo Yuval Goren.
A inscrição em aramaico e os desenhos do ossuário (duas grandes rosetas) dão pistas da importância da família da morta e de onde ela veio.
Na pedra, está escrito: “Miriam filha de Yeshua filho de Caifás, sacerdote de Maaziah de Beit Imri”. Sabe-se que Caifás tinha um filho chamado Yeshua (nome que, por coincidência, também pode ser traduzido como Jesus). Ele, ao que tudo indica, teve uma filha de nome Miriam.
A palavra “Maaziah” se refere à última das 24 castas de sacerdotes que serviram dentro do Segundo Templo judaico, destruído pelos romanos em 70 D.C.. Já “Beit Imri” se refere ao sobrenome de casada de Miriam ou à vila de onde a família de Caifás originou, ao Sul de Hebron.
A inscrição pode comprovar a existência da famosa família de sacerdotes e, particularmente, da figura bíblica de Caifás. Mas, para Goren, não é prova do relato do Novo Testamento quanto à crucificação de Jesus Cristo.
-- É claro que se trata de uma descoberta importante, mas não comprova os evangelhos. A arqueologia não pode servir para provar acontecimentos religiosos - diz Goren.
A falsificação de artefatos bíblicos é quase uma indústria, que arrecada milhões de dólares de colecionadores ou curiosos ingênuos.
Um dos casos mais famosos é do ossuário com a inscrição “Tiago filho de José irmão de Jesus”, centro de uma polêmica internacional.
Depois de ser exposta em museus de todo o mundo e festejada como a peça mais próxima de Jesus jamais encontrada, testes laboratoriais feitos pela Autoridade Arqueológica de Israel indicaram que parte da inscrição era falsa.
Só a primeira parte da frase “Tiago filho de José” é autêntica. Os falsários acrescentaram a segunda parte (“irmão de Jesus”) para elevar o preço do artefato.
Fonte: Extra Online
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