segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Convivendo Com o Culto Sexual Devadasi

Mala e Belavva em casa esperando seus clientes



TEXTO POR SARAH HARRIS, FOTOS POR PEGAH FARAHMAND


Mala e Belavva são melhores amigas e membros de um antigo culto hindu de prostituição. Elas têm os nomes uma da outra tatuados na parte interna do braço, ao lado das iniciais de seus clientes favoritos. As meninas são conhecidas como devadasis, ou “serventes de Deus”.

Nos encontramos em uma vila em Karnataka, no Sul da Índia, e sentamos no chão de uma cabana de terra e fizemos chapatis juntas. O que eu fiz ficou com um gosto estranho.

Era minha primeira semana filmando um documentário da VBS (o canal de TV online da Vice) sobre esta prática religiosa secreta, na qual garotas pré-pubescentes “se casam” com uma deusa Hindu e são vendidas como escravas sexuais.

“Não há mais religião agora, só sexo”, diz Belavva, 19, que tinha oito anos quando sua mãe a vendeu para um fazendeiro local por 200 rúpias (8 reais).

“Às vezes fico com raiva da minha família e digo ‘Como vocês puderam fazer isso comigo sabendo das consequências? Como puderam fazer de mim uma prostituta ao invés de me casar?’ Minha família diz ‘Se tivéssemos casado você, teríamos morrido de fome’.”



Malava (esquerda), 45, foi vendida como prostituta por sua mãe quando tinha 12 anos. Ela agora vende seu corpo a cami-nhoneiros na beira da estrada por uma mixaria.



Como devadasis e sem casta (ou intocáveis), Mala e Belavva são banidas da sociedade. “As pessoas nos olham com nojo porque vendemos nossos corpos, mas, para falar a verdade, somos deusas para as famílias que dependem de nós. Se pararmos de fazer este trabalho, quem vai nos alimentar?”, pergunta Belavva.

Ela contraiu HIV recentemente, mas tem medo de falar para seus clientes usarem camisinhas, pois eles podem deixar de vê-la.

Ela me diz: “Nós, devadasis, somos bonitas por fora. A feiura está escondida do lado de dentro. As pessoas só virão até nós se formos bonitas”.

A prática foi tornada ilegal em 1988, mas famílias de castas baixas ainda são encorajadas por cafetões e traficantes sexuais para venderem suas filhas pela bagatela de 20 reais. Nesta região da Índia, 1.000 garotas ainda são vendidas todo ano.



Comprando saris com as devadasis. As garotas, que são da casta "intocável", geralmente não vão à cidade por medo de serem encaradas por pessoas de castas "superiores".


Durante as três semanas posteriores, viajamos pelos vilarejos do Norte de Karnakata, onde vivem 25.000 devadasis, para descobrir como esta tradição hindu clandestina e ilícita continua a florescer na Índia em pleno século XXI. Quanto mais descobríamos, mais horrorizada ficávamos. Você poderá conferir as nossas descobertas em breve num filme na VBS.




Fonte:
Vice

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