Descobertas de sítios arqueológicos, como o de Sedeinga, podem ajudar o Sudão a desenvolver seu turismo
Pensar no Sudão traz à mente imagens de guerra, instabilidade, seca e
miséria. Tudo isso existe, com frequência e em trágica abundância.
Mas
perdem-se nessa narrativa as histórias de Cuche e da Núbia, que, no
passado, rivalizaram com Egito, Grécia e Roma.
Perdem-se para muitos, mas não para os arqueólogos que vêm ajudando a
trazer essa história à tona.
"O Sudão é o único país da África
subsaariana que possui arqueologia real e tem equipes arqueológicas
locais em operação", disse Claude Rilly, diretor da Unidade Arqueológica
Francesa no Sudão.
Embora sua importância histórica tenha sempre perdido espaço para a do
Egito, seu vizinho ao norte, o registro arqueológico do Sudão é crucial
para o entendimento da história da África, dizem especialistas, e uma
onda de descobertas está trazendo informações novas e importantes.
"A história do Sudão pode representar para a África o que a Grécia
representou para a história da Europa", disse Rilly. As margens do rio
Nilo são habitadas há 5.000 anos, segundo ele.
O Sudão possui mais pirâmides que o Egito, em lugares como Nuri e
Bijrawiyah, mas elas são menores e não tão antigas quanto as egípcias.
Na cidade de Sedeinga, por exemplo, no norte do Sudão, Rilly e outros
trouxeram à tona 35 pirâmides pequenas nos últimos anos, uma descoberta
que aponta para o que o arqueólogo considera ter sido a "democratização
das pirâmides na Antiguidade".
"Qualquer pessoa que tivesse meios para
isso construía uma pirâmide. A finalidade era a distinção social."
As pirâmides de Sedeinga são feitas de tijolos de adobe e variam desde
estruturas de menos de um metro de altura, para crianças, até outras de
dez metros, para nobres.
A pouca distância de Sedeinga fica a cidade de Dukki Gel, uma área onde o
arqueólogo suíço Charles Bonnet trabalha há 44 anos. Ele se concentra
na antiga civilização de Kerma, que viveu seu auge por volta de 1.500
a.C.
"Descobri em Dukki Gel uma cidade núbia com arquitetura africana
original de cerca de 1.500 a.C.. Lá encontramos 40 partes de sete
estátuas monumentais de faraós negros", contou Bonnet.
No auge de seu poderio militar, por volta de 750 a.C., o reino de Cuche,
no norte do Sudão, dominou o Egito e a Palestina, inaugurando o que os
historiadores chamam de a 25a dinastia e os faraós negros.
No coração do reino de Cuche, Richard Lobban Jr., arqueólogo americano
que visita o Sudão desde 1970, trabalha principalmente na área da ilha
de Meroé, acrescentada em 2011 à lista de Patrimônios Mundiais da
Unesco. No final de 2011, com colegas da Rússia e da Itália, Lobban
escavou um templo meroítico até então desconhecido.
Para o arqueólogo, as descobertas sugerem que o templo era dedicado ao rei sol Amon-Ra, do antigo Egito.
A antiga cidade de Meroé, atual Bijrawiyah, foi a segunda capital do
reino de Cuche, entre aproximadamente 300 a.C. e 350 d.C. A capital foi
um grande centro de fundição de ferro e possui dezenas de pirâmides.
A arqueologia enfrenta muitos desafios no Sudão, entre os quais a dificuldade de proteger os sítios arqueológicos.
Em fevereiro, o governo sudanês firmou um acordo de US$ 135 milhões com o
Qatar, pelo qual este fornecerá o dinheiro para 27 missões
arqueológicas, a renovação do Museu Nacional do Sudão e o
desenvolvimento de projetos de turismo.
A separação do Sudão do Sul, em 2011, provocou forte impacto negativo
sobre a economia sudanesa, porque a maior parte do petróleo fica no sul.
Em janeiro do ano passado, o Sudão do Sul suspendeu a produção, devido a
uma disputa com o Sudão.
Um acordo agora promete que o petróleo será
enviado ao norte, por uma taxa, mas alguns no Sudão vêm buscando novas
fontes de divisas, entre elas o turismo.
Para Geoff Emberling, arqueólogo da Universidade do Michigan que
trabalha na cidade de El Kurru, "a arqueologia no Sudão se prepara para
um boom".
Fonte: Folha de S. Paulo
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