Restos do Dr. Bentley, carbonizado misteriosamente em 1966, na Pensilvânia (EUA) Reprodução.
Por Reinaldo Coutinho
A parapirogenia é um caso reputado como
parapsicológico de combustão espontânea, ou seja, a queima inexplicável
de objetos ou pessoas. Algo ainda distante dos domínios das ciências
oficiais que a desconhece.
Seria o fogo secreto, dos antigos alquimistas
e de herméticos tratados de magia. Queima de dentro para fora,
carbonizando pessoas e objetos. Provoca terror só em se pensar em algo
tão horripilante. Autores como Jacques Bergier (1912-1978), Charles Fort
(1874-1932) e Vincent Gadois se ocuparam minuciosamente do tenebroso
assunto.
Tecnicamente é também conhecida como Combustão Humana Espontânea com sigla CHE em português e SHC em inglês. Entretanto, para muitos autores, a ideias de um ser humano simplesmente incendiar e carbonizar-se raia ao absurdo.
Mas ao
longo dos últimos 300 anos foram centenas de casos registrados pela
polícia e estudados com afinco por cientistas. Antigamente se explicava
como sendo causada por pessoas que bebiam muito e por algum mecanismo
desconhecido, seria disparada uma ignição e o incêndio teria início.
Mas não é necessário muitos testes para saber que, por maior o
conteúdo de álcool num organismo humano, nunca seria suficiente para
haver a combustão.
Muitos
policiais e peritos britânicos e norte-americanos ficaram perplexos
ante o estado de cadáveres inteiramente carbonizados dentro de cômodos
que não apresentavam grandes sinais de incêndio.
Às vezes os próprios
móveis em que estavam sentadas, ou o tapete em que caíram permaneceram
intactos ou ligeiramente chamuscados, enquanto que o corpo, totalmente
carbonizado, deve ter sofrido temperaturas acima de 2.000 graus...
Apelou-se para
cigarros deixados cair sobre roupas e incendiado as vítimas; ou então
criminosos teriam tentado apagar vestígios queimando as vítimas. Porém
as temperaturas que carbonizaram estas pessoas só seriam possíveis de
ser obtidas em fornos crematórios, durante muitas horas.
Em
1833, em trabalho lido para Academia Francesa de Ciências, M.J. Fontelle
passou em revista vários casos e observou que as vítimas tendiam a ser
mulheres idosas que gostavam de bebidas alcoólicas e que os danos do
fogo não se estendiam aos materiais inflamáveis perto ou no corpo delas.
É interessante notar, também, que há indícios, em certos casos, de que a
destruição fora maior por causa da gordura humana derretida.
Muitas
teorias pretendem explicar o fenômeno cientificamente como: impulsos
psicocinéticos destrutivos ou flutuações geomagnéticas, porém, o maior
defensor da autenticidade da SHC, Larry E. Arnold
vincula esses eventos a certa variedade de fenômenos paranormais.
Enquanto discute isso a combustão humana espontânea permanece como um
dos mistérios mais extraordinários da natureza, absolutamente
inexplicável pela ciência moderna.
Sobre a parapirogenia nos explica o célebre escritor Jacques Bergier no seu livro "A Volta dos Mágicos" (1973):
Segundo
os antigos alquimistas existiria outra variedade de fogo além das que
conhecemos. Este fogo secreto seria extremamente perigoso. Em termos de
física moderna, poder-se-ia interpretar este fenômeno como intermediário
entre energia química e energia nuclear.
No seu
livro, Bergier cita o pesquisador Ronald Willis que reporta inúmeros
casos de pessoas que apareceram carbonizadas nos EUA, Inglaterra,
Holanda, França e até em navios em alto-mar. Em alguns dos casos, a
pessoa foi espontaneamente carbonizada e sua cabeça teria se reduzido ao
tamanho de uma bola de tênis... Mas a poltrona em que ela estava
sentada só foi ligeiramente chamuscada... Noutros casos, houve a
carbonização do corpo e a roupa também sofreu apenas leves
queimaduras... Diz Willis:
Seria necessária uma temperatura aproximada de 2500 graus e perto de três horas para consumir um corpo humano a este ponto.
Muitas
vezes as autoridades atribuem os casos às chamas de lareiras ou
imprudência de fumantes que inadvertidamente atearam fogos às roupas ou à
cama. Outros chegaram ao cúmulo de atribuir os casos a alcóolicos que
se aproximavam de lareiras, provocando a combustão do álcool acumulado
em seu organismo. Mas em quase todos os casos, são apenas explicações
circunstanciais, beirando ao ridículo, simplesmente para tirar o
embaraço das autoridades que não têm nenhuma ideia da causa do fenômeno.
Aqui
no nosso Piauí nós acompanhamos um destes casos na terra dos fenômenos
ufológicos e da pedra preciosa opala, Pedro II, no norte do Estado. No
nosso caso, a combustão se limitou a ocorrer em objetos, sem atingir
seres humanos. Nada de perdas humanas. Ainda bem... Segundo as noções de
parapsicologia, seria mais um fenômeno poltergeist do que propriamente
uma parapirogenia. Mas, como foi com fogo misterioso, vamos lá...
Passava-se
o ano de 1996 quando pesquisávamos sítios arqueológicos e outras
antiqualhas por aquele aprazível e serrano Município. É a Suíça
Piauiense, famosa por seu clima ameno, magníficas serras escarpadas,
fenômenos ufológicos, pedras preciosas (opalas) e artesanato têxtil
variado, principalmente de belíssimas redes.
Soubemos
então de um estranho caso, que de imediato nos prendeu a atenção. Na
sede do Município, uma modesta casa do bairro Vila Operária teria sido
palco de apavorantes fenômenos de parapirogenia no ano anterior ao da
nossa visita.
Juntamente
com o jornalista hispano-brasileiro Pablo Villarrubia Mauso e nossa
amiga Lourdes Frota nos dirigimos até a casa de número 214 da Rua União
pertencente ao Sr. Francisco Feitosa e dele anotamos o pacientemente o
caso macabro.
A casa onde aconteceu o fenômeno em Pedro II
Sr. Francisco nos conte tudo desde o princípio. - Pedimos.
Pois
bem! Tudo começou no início de outubro do ano passado (1995) e terminou
cerca de 10 de novembro. As coisas aqui de repente começaram a tocar
fogo sem que ninguém por perto acendesse coisa alguma. Queimava tudo em
qualquer cômodo da casa. Tanto fazia ter ou não ninguém por lá. Tudo
queimava do mesmo jeito. Aí começou a agonia e o desespero da gente. Era
medo e aquela sensação de impotência danada. Imagine, aparece fogo aqui
e acolá nas coisas de sua casa, e você não pode fazer nada, não sabe
nem de onde vem aquilo.
E como era esse fogo? Descreva-nos detalhes. - Pedimos.
A
gente não sabe o que fazia as coisas pegarem fogo. Vinha de onde menos a
gente esperava. Queimava tudo. Eu sei é que tudo queimava sem mais nem
menos. E mesmo os lugares fechados como a petisqueira queimavam.
Queimaram rede, escova de dente, colchão, rádio-gravador, sofás, roupas e
tudo mais.
E como começava o fogo?
Começava por onde menos se esperava.
Às vezes num canto, às vezes num lugar fechado. Era quando menos a
gente esperava. Não tinha assim um padrão ou uma sequência não.
E muita gente viu este fogo começar de maneira espontânea?
Se
viu? Minha mulher Maria, meus filhos, sobrinhos e a população quase
toda da rua. Quer mais? – Nos disse com certo nervosismo o Sr. Feitosa.
E foi muita coisa queimada?
Se
foi? Perdemos quase tudo. Num sobrou quase nada. Pra gente que é pobre
ficamos mais pobre ainda. Quando essa coisa medonha começou a queimar
tudo, levamos as coisas para a casa dos vizinhos e o fogo continuou
mostrando que a coisa era pessoal e se transferia pra onde a gente
levava as coisas. Também quando a gente tirava as coisas de casa e
levava pro quintal as coisas queimavam. Dava um desespero danado na
gente.
Às
vezes, antes de começar a pegar fogo nas coisas, algumas coisas caíam
no chão das prateleiras e mesas, sem ninguém tocar. Caíam copos, livros,
discos, tênis... Tudo acontecia durante o dia. A gente ficava apavorado
e rezava..
Detalhe de uma das mesas queimadas da casa do sr. Francisco
Alguns
maçons teriam sido convocados para rezar no local. Assustaram-se ao
observar que as chamas nos objetos aumentaram com a presença deles. Foi o
que colhemos de populares das vizinhanças.
Um crente, um tal de Antônio Ramos leu um trecho da Bíblia e um foco de incêndio numa cama se apagou...
No quintal de sua casa, sr. Francisco apresenta os objetos queimados
Se o Sr. Francisco Feitosa conseguiu
fazer algum tipo de fraude, enganando habilmente dezenas de pessoas, fez
um péssimo negócio. Com efeito, ante enorme prejuízo de objetos
domésticos queimados, a comunidade efetuou uma campanha para arrecadar
fundos para repor alguns bens à família. O arrecadado não passou de 25
reais... O suficiente para comprar uma rede...
Ademais,
sabe-se que durante alguns dias alucinantes do fenômeno, o Sr. Feitosa,
ao presenciar impotente as chamas a lhe devorar os pertences caseiros,
saiu correndo desesperado até a delegacia, solicitando sua própria
prisão, como que enlouquecido pelo pavor.
Este colchão ardeu de dentro para fora
Dizem
os parapsicólogos que neste tipo de fenômeno há sempre um foco,
geralmente um jovem ou adolescente, com tal energia descontrolada. Com
pouco equilíbrio psicológico, o jovem seria o responsável pelas
manifestações paranormais.
Pensou-se num bebê de 7 meses, neta
do Sr. Feitosa. Afinal, certo dia a rede em que o inocente dormia teve
vários focos de incêndio. A criança não se feriu, sendo retirada a
tempo.
Após
observarmos minuciosamente o ambiente em que ocorreu o estranho
fenômeno, passamos a colher mais informações na comunidade
pedrossegundense.
Foi
durante nossas indagações pela cidade que soubemos que o pároco da época
na Cidade, o jovem padre Paulo, acompanhou de perto o fenômeno.
Dirigimo-nos então à sua residência
no intuito de nos informar melhor sobre o inusitado caso. Encontramos,
pois o jovial e alegre sacerdote Paulo Roberto Cavalcante, cearense de
apenas 34 anos (em 1996), erudito e com grandes conhecimentos de
parapsicologia.
Simpático, brincalhão e irreverente, o padre nos contou o que se passara:
Na verdade, acredito que o foco do fenômeno esteja na nora do Sr. Francisco, de nome M.
E por que o Sr. diz isso?-Indagamos.
Ele
parece que tem muito medo dela. Ela é muito estranha e arredia. Ela tem
apenas 20 anos, é casada com um filho de seu Feitosa e mãe do bebê que
quase se queimou na rede. Essa moça tem sérios problemas de distúrbios
psíquicos. Ela é esquisita e já jogou pragas contra mim. Desde o começo
de tudo eu percebi que era ela o foco do fenômeno paranormal. Ela e a
mãe frequentaram terreiros de macumba próximos de onde moram. Você vê,
há um ambiente escuro e nefasto rondando aquela casa, com muita energia
negativa, capitaneado pela jovem. Aliás, sempre o fogo espontâneo
acontecia quando ela se zangava com algo ou discutia com alguém. Dizem
que uma vez ela fixou a vista numa rede e esta começou a arder...
E o que o Sr. fez? Foi solicitado a realizar algum tipo de exorcismo?
Fui
sim. Mas a primeira coisa que fiz ver ao Sr. Francisco Feitosa era que o
centro da coisa horripilante era a M., casada com o filho dele e mãe do
bebê. Pedi que ele a mantivesse afastada deles por uns dez dias. Assim
eles fizeram e mandaram-na visitar algum parente sob algum pretexto. O
resultado é que nesta ausência não aconteceu nenhum fogo misterioso.
Porém depois ela voltou e os fenômenos continuaram.
E você presenciou alguma vez o fogo maldito?- Indagamos.
Sim. Uma vez eu cheguei a ver o colchão já ardendo. Curioso é que queimava como se fosse de dentro para fora.
Nós observamos e fotografamos este
colchão na residência do ocorrido. Realmente parece ter sido mais
intensamente queimado no seu interior e muito menos nas porções
superficiais. Assim também os outros objetos. Se o Sr. Feitosa fosse um
fraudador, o seria muito hábil.
E o exorcismo, o Sr. realizou?- Indagamos ao padre.
Não, a minha igreja não me autorizou. Porém tomei uma atitude que surpreendeu a todos.
E qual foi a sua atitude?- Quisemos saber.
Aqui em Pedro II há uma igreja protestante, a Deus é Amor. Eu recomendei ao Sr. Francisco que levasse o caso a eles.
Mas por que a esta igreja?- Perguntamos.
Eles
têm um poder psicológico de persuasão muito grande entre a população
mais simples, mais inculta. Eles vão logo falando na expulsão do Satanás
e a pessoa se impressiona muito, sente calafrios e se enche de emoções.
Isso poderia resolver ou amenizar o problema.
Mas, o Sr. tem certeza de que o foco da questão era mesmo M.?
Sim.
Todos tinham pavor dela. Chegavam ao ponto de atribuir o fenômeno ao
bebê, com medo de citar o nome dela. Ela ameaçava todos.
E houve a cerimônia de exorcismo dos pastores da Igreja Deus é Amor?
Creio
que não. Eles não quiseram. Aos poucos o fenômeno diminuiu de
intensidade. À medida que diminuía as pessoas ligavam menos para o caso.
Mas veio gente de muito longe por causa disso.
Nós sabemos que Pedro II é a
terra dos fenômenos celestes ditos ufológicos. Dos mais velhos às
crianças, todo mundo diz que já viu algo fantástico nos céus. E sobre a
parapirogenia referida, foi o primeiro caso do Município?- Quisemos saber do padre Paulo.
Não. Já havia acontecido no ano
anterior, ou seja, em 1994, na casa da mãe de um ex-prefeito do vizinho
Município de Domingos Mourão. Lá foi muito menos grave do que esse, mas
também havia um moço como foco. Também houve muito tumulto. Mas foi
menos duradouro. - Concluiu o religioso.
Sr. Francisco Feitosa mostra o canto do sofá queimado de maneira inexplicável
O que é
certo é que, haja o que tiver acontecido não podemos crer que tudo isso
fosse fraude, perpetrada por pessoas tão simples, que perderam a maior
parte de seus pertences. Mesmo porque as testemunhas, algumas delas
esclarecidas até em fenômenos parapsicológicos, como o padre Paulo, nos
asseguraram a veracidade dos fatos.
Além do que, o fenômeno foi
presenciado por dezenas de outras pessoas idôneas, dos mais diversos
graus culturais e crenças religiosas. Algo sempre acontece de estranho
em Pedro II...
Como diz Ronald Willis sobre o fogo espontâneo:
Não é muito agradável de pensar à noite ao deitar-nos...
Fonte: Portal Piracuruca
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