Ilustração prevê como seria o animal
Há 240 milhões, os ancestrais das tartarugas tinham costelas, em vez
de cascos. A descoberta foi feita por um grupo de cientistas americanos
e alemães, a partir do fóssil de uma tartaruga primitiva - até agora
desconhecida - encontrado perto de Stuttgart, na Alemanha.
A tartaruga
primitiva, que viveu no período Triássico, foi descrita em artigo
publicado na quarta-feira, 24, na revista Nature.
Segundo os
autores do estudo, a descoberta trará novas pistas sobre a evolução da
carapaça protetora das tartarugas, que é pouco conhecida. A explicação
para isso, de acordo com os cientistas, é que existem poucos fósseis das
espécies intermediárias entre as tartarugas modernas com casco e outros
répteis mais primitivos.
O animal, que ganhou o nome de
Pappochelys rosinae (derivado das palavras gregas "avô" e "tartaruga")
media cerca de 20 centímetros e, embora fosse desprovido de casco, tinha
amplas costelas que os cientistas acreditam ter dado origem à carapaça
das tartarugas modernas.
O estudo conclui também que, pelo formato de
seu crânio, o animal está mais próximo do grupo dos lepidossauros - que
inclui lagartos e cobras - que do grupo dos arcossauros, que abarca os
dinossauros e aves.
De acordo com um dos líderes do estudo,
Hans-Dieter Sues, curador do Museu Nacional Smithsonian de História
Natural de Washington (Estados Unidos), a tartaruga possuía patas
delgadas, uma longa cauda, pescoço e "uma região torácica estranhamente
quadrada". Além das largas costelas nas costas, o animal também tinha
uma dura parede de ossos cobrindo a barriga.
"Ela realmente
tinha o início de um casco abdominal se desenvolvendo. Estruturas
semelhantes a costelas começavam a se fundir em placas mais largas",
disse Sues.
O fóssil, de acordo com o estudo, tinha duas
aberturas no crânio atrás das órbitas dos olhos. O fato é considerado
importante pelos cientistas, porque sugere que as tartarugas estão
estreitamente ligadas à linhagem dos répteis que deu origem aos lagartos
e serpentes. Até agora, os pesquisadores pensavam que as tartarugas
haviam evoluído a partir do grupo de répteis já extinto, que inclui
dinossauros.
O fóssil da primeira tartaruga conhecida com um
casco completamente desenvolvido tinha cerca de 214 milhões de anos,
segundo Sues. Mas havia uma imensa lacuna nos registros de fósseis de um
período anterior a esse.
De acordo com o cientista, pesquisadores
registraram em 2008, na China, a descoberta de fósseis de um animal
semelhante a uma tartaruga - sem carapaça e com costelas expandidas -,
com cerca de 220 milhões de anos. Um animal semelhante, com 260 milhões
de anos, havia sido descrito na África do Sul.
Segundo Sues, a
Pappochelys é um intermediário entre as duas espécies, do ponto de vista
cronológico e estrutural. Para os cientistas, a nova descoberta
preenche a lacuna e dá consistência à hipótese de que as carapaças
surgiram a partir da expansão das costelas. "Estudos modernos de
desenvolvimento indicam que a carapaça da tartaruga se formou a partir
da expansão óssea de costelas e vértebras", disse Sues.
Para os
autores do estudo, a descoberta sugere que as tartarugas não
desenvolveram sua carapaça exclusivamente para proteção dos órgãos
internos. Segundo eles, as costelas têm um papel fundamental na
respiração.
Assim, modificar as costelas para criar uma carapaça pode
significar que as tartarugas tenham desenvolvido uma maneira
inteiramente nova de respirar. "A configuração das costelas pode tê-las
imobilizado e as levado a desenvolver uma maneira inteiramente nova de
respirar".
De acordo com o estudo, é provável que a Pappochelys
vivesse nas proximidades de lagos, mergulhando neles com frequência. "Em
um cenário no qual o casco da tartaruga tenha inicialmente evoluído em
um contexto aquático, a carapaça pode ter se desenvolvido como uma
proteção e como um lastro para controlar a capacidade de boiar, tornando
o animal mais pesado", diz o artigo.
Segundo Sues, as espessas costelas
do animal são coerentes com hábitos aquáticos ou semiaquáticos. "Embora
as mais antigas tartarugas com cascos completos fossem provavelmente
terrestres, as espécies mais primitivas possivelmente viviam em regiões
de deltas e lagoas, junto à costa", disse.
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário