domingo, 1 de novembro de 2015

Histórias de fantasmas fazem parte de repertório de Museu em Minas Gerais


 
 Visitante viu família em trajes de época andando nos caminhos do jardim (Foto: Roberta Oliveira/ G1)
 Antigos funcionários disseram ter visto vultos em cômodos da Villa (Foto: Roberta Oliveira/ G1)


 Integrantes da família estão sepultados em mausoléu (Foto: Roberta Oliveira/ G1)
Relógio do acervo do Museu citado por Laurentino Gomes (Foto: Museu Mariano Procópio/Acervo)
 
 

Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora fica em 'vila' fundada em 1861. Para superintendente, prédios históricos despertam imaginário das pessoas.


O Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, possui um vasto repertório de histórias, sejam as catalogadas, outras em pesquisa e muitas ainda a serem descobertas e relatadas. No entanto, há algumas, extraoficiais, que despertam curiosidade, crenças e descrenças em igual medida. 


O G1 visitou o local para saber se fantasmas já foram vistos na instituição. Mesmo os descrentes já ouviram relatos de aparições, “presenças” sentidas ou vistas nos jardins históricos ou mesmo nos prédios da Villa e Anexo por antigos funcionários, frequentadores ou visitantes. 


Para o superintendente Douglas Fasolato é fácil de entender a origem destes relatos no Museu. “Os museus, prédios históricos, construções antigas, fazendas sempre despertaram o imaginário das pessoas. Algumas com muita criatividade. Mas eu ainda não me encontrei com fantasmas”, afirmou.


Entre os que acreditam em aparições está o auxiliar de serviços que trabalha no Parque, Malto Brandel. Em quase 34 anos na instituição, ele confirma ter visto “assombrações”, como define. “Um dia, eu fechei o portão, já eram 19h, hora de me arrumar para ir embora, quando apareceu uma mulher alta que perguntou, ‘Moço, onde eu saio aqui?’. Aí eu respondi, ‘Moça, já fechou o portão!’. Quando fui abrir para ela sair, ela desapareceu. É, foi embora”, disse.


E esta não foi a única vez que Brandel enxergou o que ninguém mais viu. "Na outra vez, depois que o portão foi fechado, apareceu do nada um homem negro e alto perto do lago. Até perdi a voz. Já estava escuro. Chamei um sargento, da equipe que fazia a ronda, mas ele não viu nada. E aqui perto do portão da saída na Rua Dom Pedro I, apareceu umas quatro pessoas carregando trouxas com lençóis vermelhos", disse.


Além das que presenciou, Brandel também ouviu histórias de outros funcionários. "Um vigia que fazia ronda contou que viu uma mulher vestida noiva, andando tranquila, perto da gruta no parque por volta da meia noite. Já teve gente que contou que ouviu assobios dentro dos prédios, mas não viram mais ninguém", lembrou. Para ele, a explicação para estes relatos é simples. “Pessoas viveram aqui. E tem gente que tem dom espiritual, não é?”.


Durante conversa com o G1, funcionários que preferiram não se identificar, lembraram outros relatos. Em um deles, uma universitária chegou assustada aos prédios após jurar ter visto um casal e uma criança, todos em trajes de época, andando pelos caminhos no jardim. 


Há quem se recorde de um grupo de restauradores em 2003 que ouviu barulhos de festa e, ao checar, o cômodo vizinho estava vazio. E quem ouviu descrições de pessoas que sentiam uma presença, como se houvesse alguém observando, quando não há mais ninguém por perto.


A historiadora Rosane Carmanini também não viu nada, mas ouviu relatos de outras pessoas sobre experiências semelhantes. “As museólogas mais antigas, inclusive que já se aposentaram, contavam histórias de que vigias ouviram barulhos e conversas durante a noite e de que funcionários de limpeza viam vultos na Villa. Eu nunca percebi nada não. Trabalho com o ponderável. Com o imponderável ainda não precisei lidar”, lembrou. 


Rosane Carmanini concorda com o superintendente Douglas Fasolato sobre a origem destas histórias.“O que a gente escuta vem muito do imaginário coletivo das pessoas a respeito de um museu, até pelo fato da gente estar em um que já foi uma residência, durante muito tempo. Por isso, surgem estas histórias”, analisou.



O relógio 


Há casos onde os objetos ganham o protagonismo. O escritor Laurentino Gomes narrou no blog pessoal em 2013 um episódio curioso vivido durante uma visita ao Museu para escrever o livro 1889. 


“Fui surpreendido pelas badaladas suaves e cadenciadas de um relógio antigo, que parecia marcar as horas de outro mundo e de outro tempo. O diretor do Museu, Douglas Fasolato, e alguns integrantes de sua equipe, que me acompanhavam na visita, se entreolharam espantados. Antes que eu perguntasse a razão, Douglas explicou. ‘Esse relógio está parado! Há anos que ninguém lhe dá cordas...’ Foi o que bastou para que apressássemos o passo em direção ao aposento vizinho, mais movimentado e exposto à luz do sol”, contou o escritor. 


Procurado pelo G1, Laurentino Gomes não pode dar entrevista por estar em trabalhos de pesquisa para o próximo livro, mas, via assessoria, confirmou e autorizou a publicação do relato nesta matéria. 


Funcionários explicaram que o relógio que causou a reação de surpresa narrada por Laurentino Gomes foi doado pela família de José Procópio Teixeira para o acervo do Museu. Durante um tempo, ficou exposto na Villa. Atualmente está guardado em uma das salas do arquivo. No entanto, não há informação sobre quem teria dado corda ao relógio no dia da visita do escritor. 


Histórias para contar 


A Villa foi construída em 1861, para ser a chácara da família de Mariano Procópio e hospedou o imperador Dom Pedro II em visitas à região. Em 1921, Alfredo Ferreira Lage decidiu transformar o local em casa-museu. Em 1922, foi inaugurado o prédio anexo, chamado Mariano Procópio, para abrigar a galeria de Belas Artes. Em 1936, ele antecipou a doação do acervo ao município.


O local também abriga os restos mortais de Mariano Procópio, Maria Amália, os filhos Frederico e Alfredo, criador do Museu, e a nora Alice, sepultados em um mausoléu em frente à entrada principal do prédio Anexo. 


Os relatos de aparições inexplicáveis não são a prioridade do acervo da instituição. No entanto, é uma opção de repertório para despertar a curiosidade sobre o Museu.


“As pessoas ficam, de uma certa forma, sensíveis a qualquer barulho, vento, a qualquer situação que possam levá-las a pensar que existam fantasmas. Nós trabalhamos com esta percepção do público, temos contação de história, até mesmo no alto do parque, a caça ao saci, que terá edição em novembro, e já fizemos uma apresentação de Histórias de Arrepiar”, destacou o superintendente Douglas Fasolato.



No entanto, em toda a sua história, seja como museu privado, depois doado à Prefeitura e, mais recentemente, tendo o jardim histórico reconhecido como patrimônio pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nenhuma aparição conseguiu despertar mais terror que a própria realidade: a situação de risco que levou à reforma emergencial do prédio Anexo e da Villa, considerada prioridade, para evitar que a instituição e o acervo de 53 mil itens se tornassem uma memória perdida no tempo. “Isso já faz parte do passado. Este fantasma está sendo exorcizado”, destacou Douglas Fasolato.



Fonte: G1

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