Hominídeos
primitivos podem ter coexistido na África com os primeiros seres
humanos modernos, anunciaram na terça-feira 09/05 pela primeira vez
cientistas, um cenário que complica ainda mais a árvore genealógica da
espécie humana.
De
acordo com pesquisas, a datação de fósseis descobertos em 2013 em uma
caverna no sítio arqueológico de Maropeng, perto de Johannesburgo,
sugere que estes primos muito distantes viveram há entre 200.000 e
300.000 anos, no mesmo período que os primeiros Homo sapiens.
Estes antepassados são os Homo naledi, uma nova espécie cuja descoberta agitou a ciência.
Em
2015, o controverso paleontólogo americano Lee Berger ocupou as
manchetes ao anunciar a descoberta em Maropeng de uma rica coleção de
1.500 ossos de quinze hominídeos de um tipo inédito.
A
análise dessas ossadas revelou o retrato de um humanoide deslumbrante,
dotado com características de espécies de vários milhões de anos, como
um pequeno cérebro, e de outras mais recentes, como pés contemporâneos e
mãos capazes de segurar ferramentas.
Lee
Berger imediatamente ordenou seu achado no gênero Homo, a do homem
moderno. Mas depois de não conseguir datar esses fósseis, atraiu a ira
de muitos colegas que negaram qualquer novidade.
Na terça-feira 09/05, o professor da Universidade de Witwatersrand e sua equipe revelaram a idade dos ossos.
Seus
resultados são surpreendentes. Os Homo naledi viveram entre 335.000 e
236.000 anos atrás, "no início do que nós consideramos como o começo da
era dos humanos modernos", segundo Berger.
"Eles
são surpreendentemente jovens", entusiasmou-se diante da imprensa.
"Esta é uma espécie primitiva que sobreviveu por milhões de anos e que
havia permanecido invisível".
"E
é muito possível que o Homo naledi, esta espécie de hominídio de
cérebro pequeno, tenha encontrado o Homo sapiens", ressaltou.
Casos
de coabitação entre espécies já foram identificados. Na Europa, por
exemplo, o homem de Neandertal cruzou seu caminho com o Homo sapiens
antes de sua extinção há 30.000 anos.
Mas este cenário jamais havia sido traçado na África.
- Elo perdido -
"Humanos,
parentes de humanos e parentes muito distantes dos humanos como o Homo
naledi viveram aqui, no sul da Áfruca, durante os últimos 1,5 a 2
milhões de anos de nossa evolução", ressaltou outro membro da equipe,
John Hawks, da Universidade de Wisconsin.
Esta realidade poderia colocar em questão as leituras lineares da evolução da Humanidade.
"Pensávamos
que o Homem era invencível (...) e que havia apenas uma história ou uma
linha reta cada vez mais humana com um cérebro maior e comportamentos
mais complexos", acrescenta o pesquisador da universidade de Wisconsin.
"Não
poderemos mais afirmar qual espécie fabricou quais ferramentas ou mesmo
que os homens modernos estão na origem de certas inovações técnicas ou
comportamentais", aventura-se Lee Berger.
"A
árvore da nossa família tem vários ramos e foi só muito recentemente
que um único se impôs", lembra Paul Dirks, da Universidade John Cook da
Austrália. "A datação destes fósseis sugere muitas possibilidades de
trocas (...) entre o Homo sapiens e o Homo naledi".
"Este pode ser um elo perdido crucial na história da nossa evolução", acrescentou o professor Berger.
- 'Neo' -
O
paleontólogo também anunciou nesta terça-feira a descoberta de mais uma
coleção de fósseis de Homo naledi em uma caverna próxima à de sua
primeira descoberta.
Entre
eles, um esqueleto bastante completo, incluindo um crânio muito bem
preservado, apelidado de "neo", "presente" na língua local sesotho.
"Homo
naledi (estrela em sesotho) é definitivamente uma nova espécie, este
material bem preservado confirma a morfologia dos fósseis com a qual já
estamos trabalhando", ressaltou Lee Berger a seus críticos.
O paleontólogo também voltou a falar sobre uma outra controvérsia relativa a sua descoberta inicial.
Em
2015, ele afirmou que a presença de ossos em uma caverna quase
inacessível significava que ela era de fato um tumba e que o Homo naledi
praticava ritos funerários, uma prática até então atribuída unicamente
aos seres humanos modernos.
Sua
hipótese suscitou muitas provocações de seus pares, mas Lee Berger
persistiu nesta terça-feira, revelando que o caminho para o local de sua
segunda descoberta era tão estreito quanto o primeiro.
"Isso
reforça, creio eu, a ideia de que o Homo naledi utilizava essa caverna
com um objetivo particular e potencialmente (...) que o Homo naledi
enterrava seus mortos lá", insistiu.
As descobertas foram publicadas na revista científica eLife e, segundo Lee Berger, estão abertas a críticas.
Fonte: Yahoo!
As duas espécies poderiam ter se miscigenado?
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