Um megalossaurídeo, como o que pôs ovos na Lourinhã, junto ao seu ninho Vladimir Bondar/GEAL/CIID/Museu da Lourinhã
Na praia de Porto das Barcas, descobriram-se cerca de 500 fragmentos de
cascas de ovos, com ossos de embriões e dentes com 150 milhões de anos.
Oito cientistas, cinco deles portugueses, anunciaram esta
quinta-feira que descobriram na Lourinhã os ovos com embriões de
dinossauros carnívoros mais antigos do mundo, com cerca de 150 milhões
de anos, noticiou a agência Lusa. É a descoberta da década em Portugal
em termos de paleontologia de dinossauros, considera a equipe.
Foi na praia de Porto das
Barcas, na localidade de Atalaia, concelho da Lourinhã, que o holandês
Aart Walen, voluntário do museu daquela vila, descobriu em 2005 os ovos
com os embriões.
O achado, segundo relata a equipe num artigo científico
publicado hoje na revista Scientific Reports, é composto por
cerca de 500 fragmentos de cascas de ovos, formando um conjunto com 65
centímetros de diâmetro, que continha ossos e dentes de embriões.
As
cascas dos ovos e os embriões encontravam-se num estado de preservação
“verdadeiramente excepcional”, segundo a equipa, que os estudou entre
2005 e 2009 utilizando diversas tecnologias de ponta.
Ricardo
Araújo, um dos investigadores, sublinhou à Lusa a raridade dos achados.
“Estes ovos têm 150 milhões de anos, por isso são de longe os mais
antigos de dinossauros carnívoros”, explicou o paleontólogo português,
que pertence ao Museu da Lourinhã e à Universidade Metodista do Sul, em
Dallas, nos Estados Unidos.
Com 150 milhões de anos, existiam até
agora os ovos com embriões de dinossauro encontrados na praia de
Paimogo, também na Lourinhã, em 1993.
A menos de dez quilômetros de
distância do novo achado, esses ovos pertencem também a dinossauros
carnívoros bípedes (terópodes): a equipe que os tem estudado considera
que são do Lourinhanosaurus antunesi.
Revelados ao mundo em
1997, os ovos de Paimogo estavam num ninho enorme, onde um grupo de
fêmeas tinha posto mais de uma centena de ovos, e colocaram desde então a
Lourinhã no mapa-múndi da paleontologia.
“Em conjunto com os ovos
de Paimogo, [o novo achado] representa os embriões de dinossauros
carnívoros mais antigos, sendo ambos do Jurássico Superior, com
aproximadamente 150 milhões de anos”, acrescenta por sua vez ao PÚBLICO o
paleontólogo Rui Castanhinha, do Instituto Gulbenkian de Ciências, em
Oeiras, e do Museu da Lourinhã.
“Nos últimos dez anos não se descobriu
nada em Portugal em paleontologia de dinossauros tão importante como
isto. Tem uma importância profunda na biologia, na reprodução, na
embriologia de dinossauros. É a descoberta da década”, resume Rui
Castanhinha. “Ovos com embriões são raríssimos.”
Ovos ainda antigos do que os da Lourinhã só os de dois dinossauros herbívoros, encontrados na África do Sul (do Massospondylus) e na China (Lufengosaurus), ambos com cerca de 190 milhões de anos.
“O registro fóssil tem apenas sete ou oito registros de ovos de dinossauro
em todo o mundo e ainda são mais raros os casos de ovos com embriões”,
referiu Ricardo Araújo, o primeiro autor do artigo, assinado ainda, além
de Rui Castanhinha, por Rui Martins, Octávio Mateus, Luís Alves e pelo
belga Christophe Hendricks, todos ligados ao Museu da Lourinhã, e pelos
alemães Felix Beckman e Norbert Schell.
A equipe determinou que os
achados pertencem a um torvosauro, um dinossauro carnívoro e bípede que
tinha os dentes afiados e atingia dez metros de comprimento e duas
toneladas.
Pertencia a um grupo primitivo de terópodes, os
megalossaurídeos, e é aqui que reside sobretudo a importância deste
achado, ao preencher uma lacuna no conhecimento sobre as relações entre
grupos distantes de dinossauros.
Em termos evolutivos, o
torvosauro de Porto das Barcas encontra-se entre os dinossauros que
puseram os ovos na África do Sul e na China, mais “primitivos”, e o de
Paimogo, mais “evoluído” ou “derivado”.
“Este novo achado vem preencher
uma lacuna entre os dinossauros muito derivados de Paimogo e os outros
muito afastados da África do Sul e da China”, sublinha Rui Castanhinha.
“Isto permite melhorar os conhecimentos sobre as origens dos
dinossauros, em particular dos carnívoros, e de como eles chegaram à
diversidade que vemos hoje – porque as aves são dinossauros.”
Fonte: Público
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