O Universo acaba de pregar uma peça em pesquisadores brasileiros e americanos. Um experimento configurado para medir a energia injetada no cosmo pelas suas primeiras estrelas, em tese, achou muito mais do que isso.
Em vez do sinal fraco dos primeiros astros, o Projeto Arcade registrou um ruído de rádio seis vez maior do que o previsto.
O quebra-cabeça do início do Universo acaba de ficar muito mais embaralhado, e a detecção das primeiras estrelas, mais difícil.
"É uma surpresa total. A diferença é grande. Estamos diante de um desafio totalmente novo", disse à Folha o astrofísico Thyrso Villela, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O cientista, ao lado de Carlos Alexandre Wuensche, também do Inpe, é um dos autores de quatro artigos científicos submetidos ao periódico "The Astrophysical Journal" descrevendo a descoberta.
Os cientistas estão classificando o novo estrondo primordial como algo misterioso porque todas as fontes já conhecidas para esse ruído foram descartadas.
Não é um rastro de nenhuma estrela antiga, de nenhuma fonte cósmica conhecida de ondas de rádio ou muito menos um resquício de gás de perto da Via Láctea.
Nem mesmo o resíduo do Big Bang, a chamada radiação cósmica de fundo (energia "fóssil" da infância do cosmo --os primeiros cem mil anos), pode estar na fonte do ruído misterioso --por causa da diferença de intensidade entre ambos.
Grandes ruídos, por sinal, podem ser boas trilhas para importantes descobertas. O eco do Big Bang nos anos 1960, achado também de forma acidental, rendeu o Nobel de Física (1978) à dupla Arno Penzias e Robert Wilson.
Tecnologia nacional
A detecção do novo ruído misterioso também ocorreu devido a instrumentos confeccionados em São José dos Campos, no Inpe: antenas que captam frequências de rádio de 3, 5 e 7 gigahertz.
Na prática, o Projeto Arcade obteve todos os resultados processados agora com um único voo, em 2006.
O balão estratosférico da Nasa, no dia 22 de julho, atingiu 37 km de altura por quatro horas. Os sensores do equipamento, mergulhados em aproximadamente 2.000 litros de hélio, permitem que o sistema funcione próximo do zero absoluto (-270°C).
Na astrofísica, os cientistas relacionam a energia de radiação de um corpo com sua temperatura. O balão do Arcade estuda desvios de temperatura de 2,7 Kelvin (-267,3°C) em relação à radiação cósmica de fundo.
Esse tipo de radiação primordial, medida há 20 anos, tem uma temperatura homogênea de -270,25°C.
Nessas diferenças sutis de temperatura estão as assinaturas cada vez mais "enigmáticas" do início do cosmo.
Fonte: Folha Online
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