Pouco nos dizem como seria o ancestral comum a todos os seres vivos, que se crê ser um organismo amante do calor como as arqueas hipertermófilas (microrganismos unicelulares que, à semelhança das bactérias, não têm núcleo), que vivem nas fontes hidrotermais submarinas.
Os cientistas acreditam que pelo estudo da vida nestas estruturas, que se encontram nas hidrotermais açorianas, se possa explicar a origem e evolução da vida na Terra.
As fontes hidrotermais localizam-se nas zonas de rifte, fossas tectônicas com centenas ou milhares de quilômetros de extensão na forma de um vale alongado com fundo plano.
São o resultado dos movimentos combinados de falhas geológicas paralelas ou quase paralelas na planície oceânica, onde se regista um vulcanismo ativo.
Atualmente, são conhecidas nos Açores cinco fontes hidrotermais (‘Lucky Strike’, descoberta em 1992, ‘Menez Gwen’, em 1994, ‘Rainbow’, em 1997, ‘Saldanha’, em 1998 e ‘Ewan’, em 2006), todas elas localizadas a sul do arquipélago açoriano, e a serem alvo de estudos científicos.
NA MIRA DA MEDICINA
Um dos objetivos da investigação científica nas fontes hidrotermais de profundidade é encontrar respostas para sectores como a Medicina e a indústria farmacêutica, que procuram descobrir propriedades anticancerígenas nesses organismos, que sobrevivem em condições extremas (libertação de gases e temperaturas elevadas).
Ao adaptarem-se às condições dessas fontes, bactérias e outros organismos podem ter desenvolvido moléculas úteis à Medicina ou à indústria.
Na biotecnologia, as fontes hidrotermais do mar profundo são vistas como um mundo admirável...
NOTAS
ROV 'LUSO'
O único equipamento português de prospecção do fundo do mar foi recentemente comprado pelo Ministério da Defesa. O ROV ‘Luso’ pode atingir os 6000 metros.
'ALVIN'
O submersível ‘Alvin’, da Infremer, que em 1979 mergulhou pela primeira vez no rifte dos Galápagos em busca de fontes hidrotermais, tem sido um dos mais ativos nos Açores.
DORSAL MÉDIA OCEÂNICA
Nos locais onde as placas tectônicas divergem, produz-se novo fundo do mar. Quando as placas se afastam, criam um rifte (abertura).
O magma ascende do manto através do rifte, formando vulcões e criando uma cadeia montanhosa submarina, chamada dorsal média oceânica.
ONDE É
A Dorsal Média Atlântica, a mais longa do mundo e fica no ponto onde as placas Eurásia e Africana estão a divergir da placa Norte-americana e Sul-americana.
Estende-se por 16 mil quilômetros desde o oceano Árctico até depois da extremidade sul da África. É equidistante dos continentes que estão de ambos os lados do Atlântico e ergue-se 2000-4000 metros acima do fundo do mar.
Uma cadeia de vulcões percorre a sua extensão, nomeadamente na Islândia, onde uma erupção em 1963 criou uma nova ilha vulcânica, Surtsey. A ilha de Ascenção e os Açores ficam sobre a dorsal.
COMO ACONTECE
1. A água do mar penetra na crosta terrestre através das falhas que se abrem à medida que o fundo se expande, penetrando vários quilômetros na crusta recém-formada.
2. A água fria reage com a rocha quente perto do depósito de magma atingindo 350-400º centígrados.
3. Sobreaquecida, a água dissolve minerais das rochas por onde passa, incluindo enxofre, que forma ácido sulfídrico.
4. A água quente ascende através das fendas e é expelida pelas fontes sob a forma de névoa quente cheia de minerais.
A VIDA A MAIS DE 300º C
Aquecida pelo magma a água dissolve os minerais das rochas. Quando sai pelas fontes, é arrefecida pelo mar e faz os minerais separarem-se e formar algo parecido com nuvens de fumo, brancas (sílica e anidrite, um mineral branco) ou negras (partículas de sulfureto); outros minerais depositam-se e formam chaminés, que podem crescer 30 cm por dia.
Apesar da alta temperatura, muitos seres ali vivem, sem luz solar, com destaque para os vermes tubiformes.
Podem ter dois metros de comprimento e a espessura de um braço humano. Não tem boca nem intestino. Tem dentro de uma bolsa corporal um órgão chamado trofosoma, cheio de aglomerados de bactérias.
Fonte: Correio da Manhã
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