Fragmentos ósseos atribuídos aos primeiros povoadores da Madeira e considerados dos "mais relevantes para a história da expansão portuguesa" foram apresentados na Junta de Freguesia de Machico.
"São os restos mortais mais antigos datados até ao momento na região,
correspondendo à segunda metade do século XV. Considero dos achados mais
relevantes para a história da expansão portuguesa nos últimos anos,
porque não se conhece para os Açores, não se conhecia para a Madeira",
disse o arqueólogo da Câmara Municipal de Machico, Élvio Sousa.
A descoberta das ossadas foi feita em 2005 quando se realizaram as
últimas escavações nas instalações da Junta de Freguesia de Machico,
local onde decorreu o desembarque dos descobridores da Madeira e onde
começou o povoamento da ilha.
Da escavação foram retiradas, entre inúmeras peças, muitas a aguardar
análise, uma mandíbula, um maxilar, um dente molar, dois fémures e
algumas falanges, carpos e metacarpos, contou o biólogo Rafael Nunes,
investigador do Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea
da Madeiros e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de
Lisboa.
"Chegou-se à conclusão, pela anatomia da mandíbula, que eram ossos de
uma mulher, que tinha idade mínima de 35 anos e possuía algumas
patologias ao nível dos dentes, nomeadamente uma hipoplasia do esmalte",
declarou Rafael Nunes.
Segundo o investigador, este fato pode dar algumas pistas sobre a
origem socioeconõmica da mulher: "Terá tido alguma carência nutritiva
aquando do seu desenvolvimento", observou.
"Nem precisamos de submeter a métodos de datação absoluta como o
carbono-14, porque temos dados arqueológicos significativos que dão a
indicação do século XV. Por exemplo, 70 centímetros acima do local onde
foram achadas as ossadas encontramos mais de 30 moedas do rei D. Afonso V
(1432-1481)", acrescentou Élvio Sousa, justificando: "Em arqueologia
quanto mais à superfície, mais recente, quanto mais profundo mais
antigo".
O arqueólogo adiantou: "Nos últimos dez anos, em termos de avanços da
história da expansão portuguesa, há uma questão curiosa, há estudos de
onde terão vindo os povoadores portugueses, temos documentação e agora
temos provas materiais".
Élvio Sousa referiu que a morte da mulher terá ocorrido em consequência
de um "acontecimento natural", em contexto de aluvião, e revelou-se
expectante quanto à história que este achado poderá fornecer no futuro:
"Esta mulher vai levar-nos a uma comunidade e por isso vamos poder ter
mais dados sobre a comunidade".
À descoberta foi dado o nome de Ana d`Arfet que a lenda diz ter sido
amante do inglês Robert Machim, que se presume estar na origem do nome
Machico.
Na mesma escavação foram encontrados outros objetos, como cerâmica,
componentes de besta, pontas de adaga (punhal), uma presilha de cobre
dourado, várias `brigandines` (couraças) e cota de malha do vestuário
militar.
Fonte: RTP
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