Cientistas de 12 países participaram dos estudos sobre o sequenciamento do genoma do celacanto africano.
Uma equipe internacional de cientistas conseguiu
decodificar o genoma dos celacantos, uma façanha que ajuda a explicar a
estranha aparência deste peixe e permite levantar o véu de mistério
sobre a emergência dos vertebrados terrestres, inclusive os humanos.
Este fóssil vivo, testemunha do surgimento dos primeiros
vertebrados terrestres há 365 milhões de anos, fascina os cientistas,
mas continua sendo pouco conhecido. Durante muitos anos foi considerado
desaparecido já na antiguidade até que um pescador sul-africano
conseguiu capturar um exemplar vivo em suas redes em 1938.
O evento é considerado uma das maiores descobertas da
zoologia no século 20. Foi necessário esperar outros 15 anos para que
outro exemplar fosse capturado e desde então apenas 309 indivíduos foram
descobertos.
Cientistas de 40 institutos de pesquisa de 12 países
diferentes participaram dos estudos sobre o sequenciamento do genoma do
celacanto africano, aproximadamente 3 bilhões de "letras" do DNA,
segundo reportou esta quarta-feira a revista científica britânica Nature.
A análise confirmou aquilo que os cientistas suspeitavam
há tempos: os genes deste peixe evoluem mais lentamente do que os de
outros peixes e vertebrados terrestres. Os pesquisadores trabalham com a
hipótese de que os celacantos não precisaram evoluir porque viviam nas
profundezas, onde poucas coisas mudaram em milênios.
"Não é um fóssil vivo, mas um organismo vivo", afirmou
Jessica Alfoldi, do Broad Institute, nos Estados Unidos, uma das
encarregadas do estudo. "O celacanto não vive em uma bolha de tempo, mas
no nosso mundo, e por isso é tão fascinante descobrir que seus genes
evoluem mais lentamente do que os nossos", disse.
O genoma do celacanto permitiu também aos cientistas
abordar a questão da evolução dos primeiros vertebrados terrestres de
quatro patas, os tretrápodes.
O animal apresenta vestígios da passagem do peixe para
as criaturas terrestres: espaços para membros em quatro de suas
nadadeiras e uma bolsa de ar que seria um pulmão primitivo.
Os pesquisadores compararam vários conjuntos de genes:
os dos celacantos, os de outro peixe estranho que também possui
nadadeiras similares a patas e os pulmões, conhecido com o nome de Protopterus annectens (dipnoicos), e de outras 20 espécies de vertebrados.
Segundo o estudo, os tetrápodes parecem mais
estreitamente ligados aos dipnoicos do que aos celacantos. O problema é
que o genoma dos dipnoicos, com 100 bilhões de letras, é muito mais
complexo para conhecer sua sequência correta.
A sequência mais modesta dos celacantos se revelou útil
para proporcionar indícios preciosos sobre as mudanças genéticas que
permitiram aos tetrápodes, como os membros e dedos, assim como a
placenta.
O estudo comparativo do genoma dos celacantos com os de animais terrestres permitiu descobertas originais.
Os cientistas se concentraram em grandes regiões
genéticas que poderiam ter desempenhado um papel na formação de
elementos inovadores dos tetrápodes, como os membros e os dedos, assim
como a placenta.
Também constataram um importante número de modificações
ligadas ao sistema imunológico. Estas mudanças poderiam constituir uma
resposta aos novos agentes patogênicos encontrados em terra.
"É apenas o começo de muitas análises sobre aquilo que
os celacantos podem nos ensinar sobre a emergência dos vertebrados
terrestres, inclusive os humanos", disse Chris Amemiya, outro autor do
estudo.
Para aprender ainda mais sobre a vida dos misteriosos
celacantos, uma equipe franco-sul-africana desenvolve atualmente
pesquisas em profundidades marinhas no Oceano Índico, na costa leste da
África do Sul.
Fonte: Terra
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