Verme aquático serviu de inspiração para cientistas criarem uma nova cola médica. O material, segundo os pesquisadores, poderá ser usado em cirurgias ósseas e dentárias e evitar danos estéticos para os pacientes.
Cientistas anunciaram nesta terça-feira (18), durante a American Chemical Society Conference, em Washington, a descoberta de um novo material que pode ajudar na recuperação de ossos esmigalhados.
Trata-se de um adesivo capaz de juntar com eficácia pequenos fragmentos de ossos. A nova cola foi inspirada em minúsculos vermes aquáticos, conhecidos como sandclastle, algo como castelo de areia.
O pesquisador Russell Stewart, da Universidade de Utah, afirma que descobrir uma cola realmente capaz de se fixar em ossos e superfícies molhados sempre foi um desafio.
Por isso, ele teve como inspiração para seu invento a “tecnologia” do verme aquático, que constrói sua casa em forma de tubo no fundo do oceano usando grãos de areia e pedaços de cascas. O animal cimenta esse material peça por peça, como se fossem tijolos unidos por argamassa.
Segundo Stewart, o verme tem de superar diversos problemas ao fazer sua casa debaixo da água."Sua cola precisa aderir a superfícies molhadas e evitar que, com o tempo, ela se dissolva”, diz. "O animal tem resolvido todos estes problemas, e tentamos copiar essas soluções", afirma o pesquisador.
O estudo realizado por Stewart e sua equipe descobriu como o verme consegue fazer isso. Segundo foi demonstrado, o animal utiliza mudanças no pH para endurecer a cola. Dentro do verme, quando o pH é baixo, a cola é um fluído. A exposição à água do mar, que tem um pH mais alto, lentamente, leva a cola a se solidificar.
Após alguns testes, os pesquisadores recriaram uma versão sintética do adesivo produzido pelo verme - uma cola de poliacrilato que é hidrossolúvel, tão forte quanto as colas instantâneas e duas vezes mais forte que a cola original do verme.
As pesquisas também não mostraram nenhum sinal de toxicidade. Testes já realizados em ratos produziram resultados positivos, sem qualquer reação incomum do organismo dos animais.
O engenheiro químico e biológico no Brigham and Women's Hospital, em Boston, Jeffrey Karp, diz que a descoberta pode atender a uma necessidade clínica de se melhorar as colas utilizadas em cirurgias ósseas.
Para ele, embora já existam materiais eficientes no mercado, eles ainda apresentam um risco grande de inflamações no local em que são aplicados.
Além do mais, segundo Karp, o novo adesivo é único na medida em que pode ser aplicado em uma superfície molhada.
"O uso de colas médicas tende a ser muito confuso. Os cirurgiões têm grande dificuldade em manipulá-las em ambientes molhados", diz ele. "É difícil conseguir colocá-las diretamente no local de interesse”.
O descobridor da nova cola, Russell Stewart, acredita que o adesivo possa ser usado como um complemento de fios, pinos e placas.
A ideia é que pedaços grandes sejam mantidos no lugar com a ajuda dessas ferramentas, enquanto as pequenas peças sejam coladas.
Além disso, no caso de uma fratura crânio-facial, por exemplo, a cola poderia ser injetada com a ajuda de uma seringa, evitando a cirurgia aberta e danos estéticos para o paciente.
Os cientistas acreditam ainda que a nova cola poderá ser utilizada em procedimentos dentários e até mesmo em consertos de cascos de navios.
O biólogo Jeffrey Karp observa que a descoberta ainda precisa de alguns ajustes."A ideia de se formar uma cola na presença de sangue pode ser muito diferente do que fazem no mar ou em laboratórios", diz ele.
Mas ele acredita que a pesquisa já é um bom começo. "Acho que o estudo é realmente interessante, é uma abordagem nova”, diz.
Fonte: Época
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