Dentes com características bem peculiares permitiram identificar o dinossauro no grupo dos noassaurídeos
Dentes fósseis de um dinossauro carnívoro encontrados na região
conhecida como Laje do Coringa, na Ilha do Cajual, a cerca de 20 km de
São Luís, Maranhão, permitiram identificar a existência de uma espécie
desconhecida no Brasil, com idade estimada em 95 milhões de anos, um dos
mais antigos do grupo já encontrados na América do Sul.
A descoberta, publicada recentemente na revista britânica Cretaceous Research,
foi realizada em conjunto por pesquisadores da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Segundo
Rafael Lindoso, estudante de doutorado do Instituto de Geociências da
UFRJ e líder da pesquisa, o dinossauro pertencia ao grupo dos
noassaurídeos, animais de pequeno porte e esqueleto frágil, considerados
raros no mundo.
"Esse dinossauro possuía uma dentição bastante incomum
entre os dinossauros carnívoros, caracterizada por bordas serrilhadas
que percorriam a face lateral dos dentes, e não a região anterior e
posterior, como comumente se observa na grande maioria dos dinossauros
carnívoros. Esse padrão aparece apenas em uma espécie de dinossauro
carnívoro de Madagascar, conhecida como Masiakasaurus knopfleri. Os
noassaurídeos mantinham uma dieta especializada, provavelmente
alimentando-se de peixes", completa.
Lindoso explica que há 95
milhões de anos, no período conhecido como Cretáceo, as massas de terras
do hemisfério sul formavam um único supercontinente chamado Gondwana,
que incluía a América do Sul, África, Antártica, Indo-Madagascar e
Austrália.
Apesar de já terem iniciado o processo de fragmentação, na
época, América do Sul e África ainda estavam muito próximas, o que teria
facilitado a passagem desses animais entre os dois continentes.
Os
fósseis mais antigos de noassaurídeos foram descobertos em rochas de 110
milhões de anos, durante o período Cretáceo inferior, na Europa e
África, e, de acordo com a pesquisa, teriam posteriormente migrado para a
América do Sul e Madagascar.
O ambiente na época era
caracterizado como um estuário: rios enormes desaguando no mar,
vegetação luxuriante em meio a um clima árido. Foi a época de surgimento
do Atlântico Sul, quando apareceram os primeiros golfões e as elevações
do nível do mar assolavam o litoral.
Os fósseis foram encontrados na Laje do Coringa, na Ilha do Cajual, a cerca de 20 km de São Luís, no Maranhão
Nesse cenário instável em profunda
transformação, os terremotos eram comuns na região. "O clima tornava-se
mais chuvoso, com a possibilidade de surgimento de novos habitats e,
consequentemente, de outras espécies animais e vegetais", acrescenta o
paleontólogo, Ismar Carvalho, da UFRJ, um dos autores da pesquisa e
Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.
Os noassaurídeos viveram
durante boa parte do Cretáceo na Argentina, França, Níger, Madagascar e
Índia. Porém, apenas uma espécie é bem conhecida: o Masiakasaurus
knopfleri, descoberto em Madagascar e medindo 2 metros de comprimento.
"Entretanto, ao estudarmos os dentes da espécie brasileira, constatamos
que se tratava de um parente distante e maior do Masiakasaurus, podendo
alcançar cerca de 3 metros de comprimento", destacam Lindoso e Ismar
Carvalho.
"É um dos maiores noassaurídeos já descobertos em todo o
mundo. Pesquisas como essa, consideradas inéditas no Brasil, sugerem que
a real diversidade dos dinossauros que habitaram a Terra ainda está
longe de ser compreendida", concluem.
Fonte: Faperj
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