Retratos do Hubble foram feitos na comemoração do primeiro ano netuniano de sua descoberta Foto: Nasa/ESA/Hubble Heritage Team (STScI/AURA)/Divulgação
Casos de cientistas brilhantes que são ignorados por suas ideias
inovadores são comuns na história. Um desses exemplos é o francês Urbain
Joseph Le Verrier.
Quando se descobriu que o planeta Urano não orbitava
da maneira que era previsto pelos cálculos astronômicos, esse
matemático propôs que ele sofria a interferência de outro planeta - ele
inclusive deu a localização e massa desse corpo desconhecido.
Os
astrônomos franceses ignoraram sua hipótese, mas ele insistiu na ideia e
mandou suas predições para Johann Gottfried Galle, no Observatório de
Berlim. Galle encontrou Netuno na primeira noite de observações, com
menos de um grau de divergência do previsto por Le Verrier, em 23 de
setembro de 1846.
O matemático francês não foi o único a prever a existência do planeta, o
astrônomo inglês John Couch Adams também fez os cálculos - de maneira
independente, pouco tempo antes -, mas nunca publicou sua hipótese.
Dezessete dias depois de Netuno, Galle descobriu Tritão, sua maior lua.
Curiosamente, Netuno está tão longe do Sol (4,5 bilhões de km) que ele
demora cerca de 165 anos terrestres para dar a volta ao redor da estrela
- ou seja, somente em 2011 que completamos um ano netuniano de sua
descoberta. De presente, ele ganhou uma série de retratos do Hubble.
Outra curiosidade, é que a órbita irregular do planeta-anão Plutão faz
com que ele, de tempos em tempos, entre na órbita de Netuno e fique mais
perto do Sol que este (durante um período de 20 anos a cada 248 anos).
Contudo, não há risco dos dois colidirem.
Ao contrário do que muitos pensam, os planetas gigantes gasosos tem um
núcleo sólido. O de Netuno é do tamanho aproximado da Terra.
Existe
muito metano na composição de sua atmosfera (o que o deixa azul) e até
mesmo água. Contudo, o azul desse corpo é mais vívido que o de Urano -
mas não se sabe qual componente na atmosfera deixa a cor mais viva.
Em 1989, a Voyager 2 registrou uma grande mancha escura na atmosfera de
Netuno. Chamada de "Grande Ponto Escuro", a mancha é na verdade uma
gigantesca tempestade (grande o suficiente para devorar a Terra) com
ventos de 1,2 mil km/h.
Décadas depois, o Hubble não conseguiu registrar
o Grande Ponto, mas viu outras duas grandes tempestades ao longo dos
anos de seu funcionamento. A Voyager 2 ainda fotografou nuvens que
faziam sombra no planeta - o que permitiu calcular as distâncias entre
suas camadas.
Netuno tem pelo menos (sempre pode se descobrir mais) seis anéis e 13
luas. Seu maior satélite, Tritão, orbita no sentido contrário dos
demais, o que indica que ele foi capturado pela gravidade do planeta em
um passado distante.
A lua é extremamente fria (-235°C na superfície),
mas tem gêiseres que expelem material congelado a até 8 km. Desde as
primeiras medições pela Voyager 2, a atmosfera de Tritão está
esquentando - mas não se sabe o motivo.
Mas o que aconteceu com Le Verrier? Galle queria dar o nome do francês
ao planeta. A União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês),
contudo, negou e acabou dando o nome do deus romano dos mares.
Mas ele
ganhou diversas honrarias pelo feito, como a medalha Copley, em 1846 - o
mais tradicional prêmio da Royal Society (a Real Sociedade Britânica),
entregue desde 1731.
Ele ainda assumiu o Observatório de Paris - mas
suas medidas duras para restaurar a qualidade da instituição o levaram a
ser odiado pelos astrônomos.
O matemático foi afastado do cargo, mas
deu a volta por cima e voltou três anos depois. Ele ainda é um das 72
pessoas que teve seu nome eternizado na torre Eiffel. Le Verrier morreu
em 1877.
Fonte: Terra
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