Representação artística da Titanoboa cerrejonensis. Ao lado dos fósseis dessa serpente, que tinha 13 metros e viveu há 60 milhões de anos, foram encontrados ossos de tartarugas gigantes e crocodilos, possíveis presas da serpente gigante (arte: Jason Bourque).
Clima tórrido, serpente gigante
Cobra de 13 metros da Colômbia ajuda a entender temperatura dos trópicos há 60 milhões de anos.
Cobra de 13 metros da Colômbia ajuda a entender temperatura dos trópicos há 60 milhões de anos.
A maior serpente de que se tem notícia viveu na Colômbia há cerca de 60 milhões de anos. Com 13 metros de comprimento e mais de uma tonelada, a Titanoboa cerrejonensis deixa no chinelo a sucuri brasileira, que pode passar de 7 metros.
Os fósseis dessa espécie ajudam a entender a temperatura dos trópicos durante o Paleoceno e servem de alerta para os impactos do aquecimento global.
Comparação da vértebra de uma sucuri moderna com 5 metros de comprimento (à esquerda) e de uma Titanoboa, que tinha até 13 metros (foto: Ray Carson / Universidade da Flórida).
Os fósseis da serpente foram encontrados por um grupo internacional de cientistas numa expedição à mina de Cerrejón, no nordeste da Colômbia.
Junto aos ossos da Titanoboa foram encontrados também fósseis de tartarugas gigantes e crocodilos, possíveis presas da serpente. A análise dos fósseis foi publicada na edição desta semana da revista Nature.
“Até agora, não haviam sido descobertos fósseis vertebrados com idade entre 55 e 65 milhões de anos nas florestas tropicais da América do Sul”, disse em comunicado à imprensa o paleontólogo Jonathan Bloch, pesquisador da Universidade da Flórida (EUA), coautor do estudo e um dos líderes da expedição. “A descoberta da Titanoboa, portanto, nos dá um vislumbre inédito desse passado.”
Quanto mais quente, maior
O tamanho impressionante da serpente colombiana está ligado ao clima das florestas tropicais no período em que ela viveu, pois répteis de sangue frio como ela (ditos ectotérmicos) dependem da temperatura ambiente para regular a sua própria.
Fósseis da maior serpente do mundo, descobertos no norte da Colômbia. O achado ofereceu aos cientistas mais informações sobre as condições naturais da região onde viveu o animal.
Os autores do estudo acreditam que cobras do tamanho da Titanoboa só sobreviveriam em temperaturas médias mínimas de 30-34°C.
A conclusão veio de cálculos feitos a partir da relação entre o tamanho de animais ectotérmicos e a temperatura em que vivem.
Se os cientistas estiverem corretos, isso significa que a temperatura média anual das florestas tropicais de 60 milhões de anos atrás eram pelo menos seis graus mais altas que as atuais, entre 24 e 26°C.
“A razão pela qual não há serpentes desse tamanho atualmente é que simplesmente as temperaturas não são quentes o bastante”, afirma Bloch em entrevista à CH On-line. “Se acharmos mais fósseis da Titanoboa, nossas estimativas da temperatura desse período podem subir ainda mais.”
Embora o estudo mostre que a flora e a fauna da região de Cerrejón tenham sobrevivido em um clima mais quente e úmido que o de qualquer floresta tropical moderna, esse pode ter sido o limite de sua tolerância.
No final do Paleoceno, há cerca de 56 milhões de anos, houve um aumento da temperatura do planeta conhecido pelos pesquisadores como “máximo térmico do Paleoceno-Eoceno”.
Segundo os autores, nos trópicos as temperaturas podem ter chegado a 38-40°C. Esse fenômeno pode ter pode ter ocasionado mortes em massa nos ecossistemas terrestres e marinhos em decorrência do calor.
Embora ainda não haja evidências claras da influência desse evento sobre a flora e na fauna tropicais da época, a possível associação serve de alerta diante do aquecimento global que vemos hoje.
“Nossa descoberta pode ser a base para o desenvolvimento de reconstruções climáticas mais precisas”, disse à imprensa o paleontólogo Jason Head, pesquisador da Universidade de Toronto (Canadá) e primeiro autor do artigo.
“Isso nos ajudará a entender como os ecossistemas respondem às mudanças climáticas, e esse conhecimento é extremamente relevante diante das mudanças climáticas atuais.”
Fonte: Ciência Hoje
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