quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O que aconteceu no Incidente Vela?


Há 31 anos, duas explosões de grande intensidade foram detectadas no Atlântico, e até hoje não sabemos ao certo a sua origem.


Em 22 de setembro de 1979, um satélite de vigilância dos EUA, o Vela 6911 - detectou dois clarões de alta intensidade no Atlântico Sul, entre a África e a Antártida.

A leitura dos sensores ópticos do satélite não foram muito claras, mas pode ser determinado que a energia necessária para gerar algo dessa magnitude estava dentro da faixa de 2 a 3 quilotons.

Especialistas acreditam que possa ter sido um teste nuclear clandestino de Israel ou da África do Sul ou um evento similar ao que devastou Tunguska há 100 anos atrás.
O que foi que causou o incidente Vela?


Os Estados Unidos lançou o Projeto Vela para monitorar os testes nucleares que ocorriam na superfície ou na atmosfera do nosso planeta.

Em 1963, o Tratado sobre Ensaios de Explosões Nucleares (Partial Test-Ban Treaty) foi assinado por 130 países e proíbia todas as explosões nucleares, exceto as subterrâneas, para evitar as precipitações radioativas.


Desenvolvido pelo DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) e supervisionado pela força aérea do país, o Projeto Vela se apoiava em três pilares: Vela Uniform, que detectaria explosões nucleares subterrâneas através dos eventos sísmicos relacionados; Vela Sierra, vários satélites destinados a detectar sinais de explosões nucleares na atmosfera, e Vela Hotel, outros satélites projetados para detectar sinais nucleares vindos do espaço.

A princípio, o programa devia funcionar por poucos anos, mas a robustez dos Vela, projetados para trabalhar por 6 meses, fêz com que fosse prorrogado por 26 anos.

Havia 12 satélites no total, seis do tipo Vela Hotel e seis do Vela Sierra, e giravam em órbitas situadas entre 100 mil e 113 mil quilômetros de altura, acima dos cinturões de Van Allen.

Foram equipados com 12 detectores externos de raios-X e 18 detectores internos de nêutrons e raios gama, que funcionavam através da energia fornecida pelos painéis solares.

Também tinham dois sensores especiais capazes de detectar ondas com duração menor do que o milissegundo, necessários porque as explosões nucleares atmosféricas, que eventualmente teriam que informar, produzem um único sinal de curta duração.


2 e 3 quilotons


Na verdade, uma explosão deste tipo emite um clarão que dura cerca de 1 milissegundo, seguido por uma segunda luz mais prolongada, porém menos intensa, com duração de poucos segundos.

Isto ocorre porque o primeiro clarão é alcançado rapidamente pela onda de choque atmosférica, composta de gás ionizado, que, ainda emite bastante luz, porém, rapidamente se torna opaco e esconde a explosão.

Não há fenômeno natural conhecido que possa produzir esse efeito, e os Vela não tiveram problemas em detectar estas explosões.

Em 22 de setembro de 1979, após informar com sucesso 41 explosões nucleares correspondentes a testes realizados pelas superpotências da época, o satélite Vela 6911 registrou com seus sensores ópticos dois estranhos clarões.

Embora tivesse as características habituais das explosões nucleares na atmosfera, havia ocorrido em uma região do mundo, o Atlântico Sul, entre a África e Antártica (47 º S, 40 ° E) - em que não se esperava detectar algo assim.


A potência estimada das explosões foi entre 2 e 3 quilotons, 10 a 20 vezes menor que a da bomba de Hiroshima. A imprensa rapidamente chamou estes clarões de "Incidente Vela". Os serviços de inteligência começaram a trabalhar, e foram consideradas duas hipóteses principais.

A primeira, a que foi atribuída uma maior probabilidade, é que estes clarões eram o resultado de duas detonações nucleares secretas pertencentes a Israel ou África do Sul.

A segunda, que um objeto do espaço exterior, possivelmente um cometa ou meteorito, detonou ao entrar na nossa atmosfera dando origem a algo similar ao "Evento Tunguska", mas sobre o mar.


África do Sul sob suspeita


Enquanto a mídia rapidamente se esqueceu do incidente, as agências de inteligência a todo o custo queriam saber o que tinha acontecido, e seguiam todas as pistas.


Naquela época a África do Sul iniciou um programa para desenvolver armas nucleares, e quando o
Vela 6911 captou os clarões, vários navios da marinha sul-africana realizavam manobras na área.

Quando tudo parecia indicar que este país era o responsável, Mordechai Vanunu, um técnico nuclear israelense, disse que seu país vinha desenvolvendo há 10 anos seu próprio programa nuclear no deserto de Negev, e tinha trabalhado em estreita colaboração com os sul-africanos.


Estas declarações fizeram com que muitos acreditassem que os dois países em conjunto, tinham realizado os testes.


No entanto, apesar de um primeiro relatório do governo dos Estados Unidos atribuir os clarões a uma explosão nuclear Sul Africana, uma comissão especial composta por peritos designados pela Administração Carter, concluiu que "devido a ausência de radiação nas imediações do evento, não se podia ter certeza de que esta fosse a causa do fenômeno".


Radiação na Área


No meio da confusão, juntaram-se as vozes dos responsáveis pelo radiotelescópio de Arecibo ("nós encontramos uma ocorrência inusitada na ionosfera), do governo da Austrália ("Nós detectamos níveis anormais de radioatividade na área.") e dos cientistas responsáveis pelo projeto e supervisionamento dos Vela ("o satélite está funcionando corretamente, e sua confiabilidade é demonstrada quando detectou 41 testes nucleares.").


O tempo passava, e parecia que jamais iríamos saber o que aconteceu.





Mas em Fevereiro de 1994, o comodoro Dieter Gerhardt, cujo currículo incluia atividades tão diversas como "espião soviético ","condenado" e " comandante da Base Naval de Simon Town na África do Sul ", surpreendeu a todos por ter declarado publicamente que "apesar de não estar diretamente envolvido, posso dizer que o clarão foi o resultado de um teste nuclear de Israel e África do Sul, cujo nome código era Operação Fênix. Se esperava que não fosse detectado, mas o clima mudou e os americanos descobriram".

A reputação de Gerhardt não era das melhores, e o incidente continuou sem uma causa oficialmente reconhecida.


Três anos depois, em 1997, um jornal israelense citou o ex-ministro das Relações Exteriores da África do Sul que confirmou que o incidente Vela tinha sido um teste nuclear Sul Africano.
No entanto, as dúvidas cresceram novamente, logo após o ex-ministro afirmar que seus comentários tinham sido "tirados do contexto".


Ainda hoje muitos dos documentos relacionados com o incidente continuam "classificados" por parte dos governos, que pouco fazem para esclarecer o que aconteceu.

A hipótese que responsabiliza um objeto extraterrestre parece ter perdido força,
especialmente depois de declarações feitas pelos australianos a respeito da presença de radiação na região.


É muito mais provável que tenha sido um teste nuclear clandestino ocorrido durante a Guerra Fria, embora ainda não saibamos ao certo.
Dentro de alguns anos, quando serão liberados alguns dos documentos que permanecem secretos, talvez a verdade venha à tona.


Tradução: Carlos de Castro


Fonte: ABC.es

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