De onde vieram os índios? Essa era uma velha controvérsia na paleoantropologia, que pode ter sido resolvida agora. Um estudo genético acaba
de revelar que alguns grupos indígenas brasileiros, como os xavantes,
suruís e karitianas, tem parte de seu código genético derivado de uma
população australo-asiática, mais parecida com os aborígenes australianos ou os negritos (sério, esse é o nome) de Papua Nova Guiné do que com os siberianos, mongóis e chineses.
A
controvérsia se arrastava há mais de 20 anos. Estudos genéticos e
achados arqueológicos de mais de um século indicavam claramente que uma
leva vinda da Sibéria, através do Estreito de Bering - que há 15 mil
anos podia ser cruzado a pé - era a origem de todos os nativos da
América, do Canadá ao Chile.
Mas um esqueleto encontrado em 1975
complicou a resposta. Era uma moça que viveu em Minas Gerais há 11.500
anos. Surpreendentemente, quando sua face foi reconstruída, mostrou
características australóides, diferente de qualquer nativo-americano
moderno.
O arqueólogo Walter Neves, da USP batizou
o achado de Luzia em homenagem ao fóssil africano Lucy. Neves teorizou
que uma primeira leva de imigrantes, também vinda pelo estreito de
Bering, chegou à América há 15 mil anos, antes dos paleoíndios, com um
fenótipo mais asiático. A teoria foi aceita e bastante discutida no
Brasil, mas se mantinha controversa no exterior.
Neves estava
certo, ainda que ele acreditasse que esses primeiros povos
australo-asiáticos não deixaram descendentes. O novo estudo indica que,
sim, eles não só existiram, como deixaram sua marca genética na América,
ainda que bem mais modesta que a dos paleoíndios asiáticos.
"Esse
foi um resultado inesperado e um tanto quanto desconcertante. Gastamos
um tempão tentando fazer o resultado ir embora, mas ele só se tornou
mais forte", afirma o autor David Reich, da Universidade de Harvard.
"Mas não sabemos a ordem, a separação cronológica ou a distribuição
geográfica [da migração]".
Reich e sua equipe, que inclui três
brasileiros, batizaram os migrantes australóides de População Y, do
termo tupi Ypykuéra, "ancestral".
Fonte: Brasil Post
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