Adam, o recém-criado robô inglês que mais se parece com uma máquina de fotocópia, na Universidade de Aberystwyth (Inglaterra)
Batizado Adam (Adão, em inglês), ele conseguiu elucidar o papel de alguns genes do processamento de energia biológica de micróbios, e o resultado de seu primeiro estudo foi comprovado por cientistas humanos.
Adam não é o tipo de cientista que seria cotado ao Prêmio Nobel. Sua principal habilidade é realizar experimentos moleculares com uma paciência e uma perseverança que nem o mais aplicado dos estudantes de biologia teria.
Amanda Clare, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aberystwyth (Inglaterra), uma das criadoras do robô, explica que ele está mesmo mais para um técnico aplicado que para um gênio criador.
"Ele conduz muito do trabalho monótono de nível baixo", disse à Folha. "Nesses experimentos, é preciso fazer uma leitura de placas [com informações sobre DNA] a cada 20 minutos, noite e dia, sem parar, coisa da qual os graduandos não gostam muito."
Basicamente, o novo robô parte de hipóteses sobre a estrutura das moléculas que vai estudar e realiza experimentos com reações químicas para testá-las.
Surpreendentemente, consegue adivinhar também como prosseguir com o experimento caso o teste dê certo ou errado. É uma rotina semelhante à de biólogos que tentam entender o funcionamento de vários genes de uma vez para testar novos medicamentos.
O que Adam descobriu agora foi o papel de alguns genes do metabolismo de leveduras usadas para fermentar pão. Algo trivial para um biólogo molecular. Clare reconhece que dificilmente essa descoberta estaria descrita em estudo na edição de hoje da prestigiada revista 'Science' se ela não tivesse sido feita por um autômato.
Adam é uma versão aprimorada de outro robô, projetado por Ross King, líder do grupo de Clare, em 2004. Esta foi a primeira vez, porém, que um autômato descobriu algo que cientistas ainda não sabiam.
Marcelo Nóbrega, geneticista da Universidade de Chicago, leu o trabalho de King e Clare, mas não pareceu se impressionar com a inteligência de Adam.
"Nas coordenadas que foram dadas à maquina, já de cara estava toda a instrução das vias metabólicas e suas conexões", diz. "Mas isso não é para dizer que é algo imprestável. Alguém teria de fazer esses experimentos, e nem a paciência de um exército de monges tibetanos seria suficiente."
E não é só no campo da biologia que robôs ameaçam o emprego dos graduandos ao assumirem tarefas chatas em laboratórios.
Outro estudo hoje na "Science", de físicos da Universidade Cornell (EUA), mostra um autômato que elaborou equações para descrever o comportamento de um pêndulo articulado, um problema matemático complexo. Tudo com base na observação da geringonça balançando.
Clare tranquiliza os estudantes. "Graduandos não têm nos seus cérebros toda a maciça informação sobre genômica gerada hoje", diz. "Mas eles têm algo que os computadores não têm: o entendimento de biologia básica. Essa informação ainda não é possível codificar em computadores.
Fonte: Folha Online
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