Do céu, o Monte da Cruz em Paquimé, uma ruína do século XIV no estado mexicano de Chihuahua, parece uma rosa-dos-ventos - o emblema arredondado que indica os pontos cardeais em um mapa.
Com cerca de nove metros de diâmetro e moldados com rocha e terra compactada retiradas das margens do rio Casas Grandes, os braços apontam para quatro plataformas circulares. Eles também podem designar N, S, L e O.
"É uma baita distância daqui ao Chaco", disse Steve Lekson, arqueólogo da Universidade do Colorado, enquanto observava o eixo norte-sul da cruz.
Siga seu olhar 645 km ao norte e você chegará ao Chaco Canyon, no noroeste do Novo México, um grande centro cultural habitado entre 900 d.C. e 1150 d.C. pelo povo conhecido como Anasazi.
Apesar da distância, Lekson acredita que as duas áreas estejam ligadas por um padrão antigo de migração e um conjunto comum de crenças religiosas.
Mas não pare em Chaco. Continue por cerca de 96 km ao norte, seguindo a mesma linha e você chegará a outro centro dos Anasazi, chamado de Ruínas Astecas. Para Lekson, o alinhamento deve ser mais do que uma coincidência.
Há uma década, em "The Chaco Meridian: Centers of Political Power in the Ancient Southwest" (O meridiano Chaco: centros de poder político no sudoeste antigo), ele sustentou que, por séculos, os líderes Anasazi, orientados pelas estrelas, alinharam suas principais colônias ao longo desse eixo norte-sul - o meridiano da longitude 108.
Neste ano, em artigo para a revista Archaeology, ele acrescentou duas ruínas mais antigas à trajetória: Shabik¿eschee, a sul de Chaco, e Cume Sagrado, a norte das Ruínas Astecas.
Ambas foram o foco regional do poder político e econômico de sua época, e ambas estão sobre o meridiano.
Quando um local era abandonado, devido à seca, violência, degradação ambiental - as razões são obscuras -, os líderes conduziam um êxodo para uma nova localidade: algumas vezes ao norte, outras ao sul, mas ficando o mais próximo que conseguissem ao meridiano 108.
"Acredito que a razão seja ideológica", disse Lekson em visita recente a Paquimé. "A resposta cultural a algo que não está funcionando é rumar ao norte e, quando isso não funciona, você vai para o sul.
E, então, você se muda para o norte novamente e depois de novo para o sul, até que finalmente você manda tudo para o inferno, vou sair daqui, e desce para Chihuahua.
Para muitos dos colegas de Lekson, isso é um salto extremamente grande. Com todas as ambigüidades envolvidas na interpretação de padrões de terra e rocha - os Anasazi não deixaram uma história escrita -, os arqueólogos ficam mais confortáveis se focando em uma cultura ou ruína específica.
Lekson se esforça constantemente - alguns diriam demais - para fazer conexões entre ilhas isoladas de conhecimento.
Com publicação prevista para o verão americano, seu novo livro, "A History of the Ancient Southwest" (Uma história do antigo sudoeste), irá mais além, oferecendo um tipo de teoria unificada para os movimentos populacionais que têm confundido arqueólogos do sudoeste há muitos anos.
"Steve é realmente aquele que nos arrastou esperneando e gritando para uma arqueologia de visão global", disse William D. Lipe, professor emérito de arqueologia da Universidade Estadual de Washington.
"De muitas maneiras, as idéias e publicações de Steve orientaram boa parte da pauta arqueológica para o sudoeste nos últimos 20 ou mais anos." Isso não significa, acrescentou Lipe, que ele concorde com a idéia do meridiano Chaco.
Em uma caminhada ao redor de Paquimé, Lekson apresenta sua evidência. Casas Grandes, o nome espanhol das ruínas, e as estruturas de vários andares remetem às "grandes casas" palacianas em Chaco e nas Ruínas Astecas.
Nas estruturas internas, a movimentação de recinto a recinto se faz através de passagens em forma de T, como as existentes em áreas Anasazi.
Na Casa dos Pilares, uma fileira de três colunas forma uma entrada grandiosa. "Ninguém por aqui possuía colunas, exceto em Chaco", disse Lekson.
Coincidência ou relação?
Paquimé também dá pistas de outras influências. Quadras esportivas, usadas para jogos cerimoniais, são semelhantes às encontradas no México meridional e na América Central.
Efígies, nas quais o barro foi moldado na forma de aves e outras figuras, se parecem com as construídas há muito tempo pelos índios americanos em Ohio Valley.
Uma longa fileira sinuosa de barro e pedra chamada Monte da Serpente parece ondular como uma cobra.
"Isso percorre de norte a sul", disse Lekson. "Adoro isso." Ele aponta para uma colina proeminente no horizonte, chamada de Cerro de Moctezuma.
Quase invisíveis em seu pico estão as pedras dos destroços de um posto de observação de séculos de idade. Nas proximidades, disse, há um outro monte de cobra serpentando de norte a sul. "Não é tão fácil de enxergar", disse. "Você precisa acreditar."
Existem muitas evidências de que os antigos americanos estavam bem cientes dos pontos cardeais.
Observe o céu à noite tempo suficiente e fica claro que existe uma estrela que não se move enquanto as outras circulam ao seu redor: a Estrela Polar ou Polaris. Motivadas talvez por esse conhecimento, algumas estruturas cerimoniais em Chaco estão alinhadas no eixo norte-sul, com paredes de terra em Paquimé ziguezagueando como se fossem "traçadas em um gráfico gigante ou com o velho brinquedo infantil quadro-mágico".
Pelo sudoeste, modernas religiões populares normalmente citam quatro montanhas sagradas, uma para cada direção, e a população conta histórias de ancestrais rumando ao sul por causa das coisas ruins que aconteceram no norte.
Fonte: Terra
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