Uma espécie de tubarão extremamente rara, de formas e hábitos alimentares incomuns, foi encontrada por pesquisadores da Fiocruz em Arraial do Cabo.
Conhecido como tubarão-de-boca-grande, ele estava encalhado nas
areias da Praia Grande. Descrito pela primeira vez apenas nos anos 80, o
animal foi o 43º representante da espécie encontrado no mundo, o
terceiro achado no Oceano Atlântico e o segundo no Brasil.
Curiosamente,
apesar do bocão e do tamanho (chega a medir quase seis metros), o
Megachasma pelagios não faz o tipo sanguinário: ele só se alimenta de
plâncton.
- É realmente um achado fantástico, já que se trata de um animal
muito raro, do qual só tivemos conhecimento há poucos anos - afirma
Salvatore Siciliano, pesquisador da Escola Nacional de Saúde
Pública/Fiocruz e coordenador da equipe responsável pela descoberta.
O tubarão foi encontrado durante um dos monitoramentos regulares de
praias feito pelo Projeto Habitats - Heterogeneidade Ambiental da Bacia
de Campos, coordenado pelo Centro de Pesquisas (Cenpes) da Petrobras.
Ele não apresentava marcas de que pudesse ter sido ferido por alguma
embarcação ou ficado preso em redes.
- Acreditamos que ele tenha morrido de causas naturais já que a
necropsia que fizemos no local, mostrou que ele estava com o estômago
vazio - conta o biólogo Luciano Lima, integrante da equipe que achou o
animal.
Cientes da importância da descoberta, os pesquisadores tentaram rebocar a carcaça do animal, mas não conseguiram.
- Tentamos colocar o bicho no carro, mas ele era muito pesado. Mas
recolhemos partes, como dentes, nadadeiras e amostras de músculo e
tecido - diz Luciano.
O tubarão-de-boca-grande foi encontrado, pela primeira vez, em 1976,
por acaso, quando um exemplar ficou preso nas hélices de um navio da
marinha americana, no Havaí.
Ao ser analisado, foi revelado, num estudo
publicado em 1983, que se tratava de um tipo totalmente novo: família
(Megachasmidae), gênero e espécie eram inéditos.
O animal tem anatomia e hábitos alimen$singulares. Além do bocão (são
50 fileiras de dentes pontiagudos e curvados para trás), esse tubarão
possui nadadeira pequena e cauda alongada, o que dá a ele um aspecto
desproporcional.
- O que mais chama a atenção é a forma como ele se alimenta - conta
Salvatore. - O tubarão baleia, por exemplo, também se alimenta de
placton, mas é um filtrador, que abre a boca e vai varrendo a água,
aleatoriamente.
O tubarão-de-boca-grande parece mais uma baleia jubarte:
ele vive a 200 metros de profundidade e faz uma migração vertical, à
noite, quando localiza o plâncton e vai até ele se alimentar. Sua boca
funciona como um coador gigante, já que o plancton fica retido nas suas
guelras.
A descoberta vai ser descrita pelos pesquisadores em um estudo, a ser publicado, em breve, na revista "Fish and biology".
- Além disso, estamos em contato com outros pesquisadores para que
seja feita o sequenciamento genético do animal, para que possamos
compará-lo com os outros achados até agora - diz Luciano.
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