Espécie, reconhecida oficialmente em junho com a publicação de um artigo
na revista científica internacional "Herpetologica", foi descoberta em
2007 durante uma pesquisa conduzida pelo biólogo Michel Garey/Foto: Reuters
Uma nova espécie de anfíbio anuro, como rãs e sapos, foi
identificada na Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba, litoral
norte do Paraná, região da Mata Atlântica que tem mais de 50% de
espécies endêmicas, mas é um dos maiores alvos de depredação do país.
A espécie Brachycephalus tridactylus, reconhecida oficialmente
em junho de 2012 com a publicação de um artigo na revista científica
internacional "Herpetologica", foi descoberta em 2007 durante uma
pesquisa conduzida pelo biólogo Michel Garey e uma equipe de
pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A característica mais evidente que diferenciou esta espécie é que
possui apenas três dedos nas patas anteriores, por isso "trydactilus"
(três dedos), diferente de outros do gênero Brachycephalus que apresentam quatro.
Somente encontrado em topos de morros da Mata Atlântica, regiões mais úmidas e frias, a espécie tridactylus
apresenta coloração alaranjada, com tons de cinza ou verde-oliva nas
laterais do corpo e pontos verde oliva na região do ventre.
Garey, que atualmente faz pós-doutorado na Universidade Estadual
Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto, explica que as pesquisas em
topos de montanhas e morros têm aumentado, o que cria oportunidades para
a descoberta de novas espécies de anfíbios.
Em 2011, aproximadamente 20
novas espécies de anfíbios foram descobertas no Brasil, de acordo com o
pesquisador.
O professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
(USP), Miguel Trefaut Rodrigues, afirma que novas espécies de anfíbios
têm sido encontradas sistematicamente.
"A partir do advento das técnicas com acesso à base genética e fazendo
comparações, a gente percebe que a diversidade que conhecíamos está
muito subestimada", diz o docente. "Além disso, é importante para
conhecer a história dos biomas brasileiros."
A dificuldade de acesso às áreas de pesquisa, porém, como por exemplo as
regiões mais altas da reserva, que podem chegar a 930 metros acima do
mar, e a falta de financiamento para custear as viagens podem
comprometer o desenvolvimento de novos estudos.
"O Estado de São Paulo é uma exceção, porque tem muito dinheiro. Em
outros lugares do país a realidade é outra, é mais difícil. Falta
investimento em outros Estados", disse Garey à Reuters.
A
pesquisa realizada na Reserva Natural Salto Morato foi financiada pela
Fundação Grupo Boticário, que também mantém a Reserva Natural.
Destruição Ambiental
Para o biólogo, a importância de listar mais uma espécie à vasta
biodiversidade brasileira, ainda bastante desconhecida, é pautar medidas
de conservação para preservar os habitats dos animais e dos biomas
brasileiros.
"Toda nova espécie nos faz repensar medidas conservacionistas e também
mostra que ainda tem muito a ser feito", explica.
"Igual à mudança de um
Código Florestal, que, com a proposta de mudança, podemos estar
perdendo espécies que ainda não são conhecidas em muitas áreas do
Brasil, que podem ter potencial farmacológico", acrescentando que é
necessário ser cauteloso.
Segundo o professor Trefaut, muitas espécies não chegaram a ser
conhecidas por causa da destruição ambiental e ainda "há muito por
descrever" na floresta Atlântica, em que a maioria das espécies existe
apenas nesta região.
"Somos completamente ignorantes, não conhecemos a nossa
biodiversidade. Com a destruição da floresta Atlântica, entre 7 e 10% da
floresta permanece. Com essa alta diversidade, imagina o que a gente
não perdeu?"
Para Trefaut, as poucas áreas de preservação que existem são pouco
utilizadas e sem um planejamento para sanar a deficiência de
conhecimento das áreas.
"O ideal seria que cada reserva tivesse um comitê científico, formado
por pessoas capacitadas em cada um dos grupos, e tivesse um
planejamento, mas isso não tem avançado, especialmente face à depredação
que viemos sofrendo", afirmou.
Fonte: Terra
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