La Libertad (El Salvador), 20/07/11.- Vista da pirâmide principal
no sítio de La Acrópole em San Andrés, situado no departamento de
Libertad (centro), nas margens do rio Sucio, em direção ao centro do
vale de Zapotitán.
Transformado em centro de atenção durante a visita que o presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, realizou a El Salvador em março passado, o
sítio arqueológico de San Andrés é um tesouro escondido do país,
considerado o último reino maia no sudeste da América Central.
Situado
no departamento (estado) de La Libertad, no centro do país,
concretamente nas margens do rio Sucio, em direção ao centro do vale de
Zapotitán, este enclave guarda uma história ainda a ser decifrada sobre a
presença dos maias nesta região da América Central e que a irmana com a
cidade de Copán, também maia e erguida no oeste de Honduras, perto da
fronteira entre ambos os países.
A atenção do mundo recaiu sobre este local quando a primeira-dama dos
EUA, Michelle Obama, e suas filhas, Sasha e Malia, o visitaram em uma
viagem pela América Latina..
Algumas compras de artesanatos
por parte das visitantes e seu interesse durante o percurso ficarão na
memória de quem as recebeu em um lugar cuja história atraiu a família
Obama e que, já desde sua descoberta, é motivo de estudo de vários
pesquisadores, que em 1940 realizaram seu primeiro projeto no local.
Vestígios de uma civilização que ainda desperta curiosidade
Segundo
a Fundação Nacional de Arqueologia de El Salvador (Fundar), o sítio
arqueológico de San Andrés tomou seu nome da fazenda na qual se
encontrava, da qual foram reservados para seu estudo 38 hectares.
Seu centro de monumentos abriga um complexo de pirâmides e construções anexas em uma área de aproximadamente 20 hectares.
No
lugar se destacam pelo menos sete estruturas, entre elas uma denominada
o "grande sino" que, à simples vista, é um montículo cujo interior é
desconhecido, já que ainda não foi estudado.
"A partir de
600 d.C. se iniciou em San Andrés um programa de construção de
monumentos até então inédito na região do vale de Zapotitán”, relata à
Agência EFE o arqueólogo Paul Amaroli, que comandou várias pesquisas
neste local, indicando que no lugar se encontra uma "série de pirâmides
ao redor de uma praça".
"As pirâmides provavelmente eram de
caráter funerário, embora não tenha ficado comprovado que fossem para
túmulos de reis, rainhas e familiares próximos", assegura Paul,
assinalando que seus habitantes "gostavam de manter seus antepassados
por perto".
“O campesinato tinha sua casa e debaixo do piso
ou no terreiro do quintal enterrava o avô ou o pai, para fazer
oferendas, para estar em contato com eles. Em um palácio se aplicavam os
mesmos princípios, queriam ter seus entes queridos por perto (...). Os
monumentos funerários ficavam a pouca distância e em vez de uma simples
pedra são pirâmides com um oratório em cima", detalha o pesquisador.
O
primeiro escavador de San Andrés, John Dimick, dividiu a região de
monumentos em dois setores: uma Acrópole (plataforma que sustenta outras
estruturas) e uma Grande Praça.
As pesquisas permitiram
descobrir que a Acrópole cobre uma pequena praça aberta que foi
preenchida com entre 500 mil e 600 mil tijolos de barro para
transformá-la em uma plataforma elevada e de acesso restrito.
"Preencheram
todo o espaço no meio da praça (...), quase cobriram as pirâmides, e em
cima construíram um palácio, que provavelmente é o reflexo do que está
soterrado. O que se obtém assim é o que se chama de acrópole, uma
plataforma muito grande que sustenta outras", diz o arqueólogo.
Descobertas que "irmanam" San Andrés a Copán
"San
Andrés compartilha muito com Copán", declara Paul, destacando que o
complexo situado no território do que hoje é Honduras foi uma capital
maia a partir do ano 400 d.C.
Ele assegura que "à simples
vista" elas têm em comum o fato de que ambas contam com uma acrópole com
várias pirâmides e junto à acrópole há um palácio e vários prédios.
"O tamanho é um pouco maior que a acrópole de San Andrés. Ao norte da
acrópole de Copán há uma grande praça definida por estruturas longas,
pouco pesquisadas", sustenta.
Segundo o especialista, "San Andrés parece uma versão simplificada de
Copán", não descartando a possibilidade de que a cidade em El Salvador
foi construída sob o amparo da hondurenha.
"Talvez a
dinastia de Copán interveio muito diretamente na fundação da cidade,
enviando um filho para estabelecer uma dinastia local com alguns
guerreiros e trabalhando em uma mesma área étnica, para eles de mesmo
idioma", explica.
Amaroli cita como outra hipótese que esta
cidade em El Salvador "se tornou parente" de Copán, provavelmente
mediante o casamento de uma filha.
O arqueólogo destaca,
por outro lado, que dentro de uma das estruturas estudadas, que é uma
pirâmide de vários níveis, foram descobertos uma oferenda e utensílios
usados em rituais.
Entre os elementos estão uma concha do mar espinhosa
na qual coletavam sangue, uma espinha de arraia usada para os
autossacrifícios, uma vasilha que se presume ter vindo de Petén
(Guatemala) ou Belize, assim como um sílex excêntrico, de tamanho fora
do comum.
"Encontrar um sílex excêntrico dessa magnitude,
porque era de obsidiana, significa não somente o poder organizativo que
tinha o povo, mas também a relevância religiosa que tinham e o poder dos
sacerdotes", declara à EFE o diretor nacional de Patrimônio da
Secretaria de Cultura, Ramón Rivas, que acrescentou que se trata de "um
sílex muito bem elaborado".
Segundo os pesquisadores, os
cetros de sílex originais eram objetos exclusivos das atividades das
elites maias no período Clássico, possivelmente com finalidades rituais.
Uma parte da história maia
"San
Andrés é o último reino maia no sudeste de América Central", afirma
Paul, enquanto que Ramón destaca que as pesquisas apontam para a
evidência de que os habitantes desta região compartilhavam o
conhecimento dos maias.
"Aqui havia cientistas maias, como
astrônomos, analistas sociais e conhecedores das técnicas agrícolas que,
unidos aos sacerdotes, tinham como tarefa organizar a sociedade para
melhorar a convivência mútua", explica Ramón.
Ele ressalta
que "eram sociedades muito bem organizadas que, pouco a pouco, com as
descobertas arqueológicas, se vai tentando entender e interpretar como
podem ter vivido".
Sobre o fim desta civilização, os
cientistas consideram que San Andrés, Tazumal e outros centros do
período Clássico Tardio em El Salvador foram abandonados entre os anos
850 e 900 d.C., em uma versão local do chamado "colapso maia", um
fenômeno ainda não esclarecido e que é ainda tema de debate.
Em
San Andrés houve ainda alguma atividade humana depois do "colapso", mas
efetivamente o local deixou de existir como comunidade, segundo os
pesquisadores.
Paul diz que durante as escavações em San
Andrés foram encontrados restos de vasilhas similares às de Cihuatán,
outro dos assentamentos urbanos da região fundado por volta do ano de
900 d.C., depois do chamado "colapso maia".
"Quase dá a
ideia de uma conquista de um centro já muito enfraquecido, talvez por
causa do ´colapso´, que ficou abandonado. Isso é a última coisa que
acontece em San Andrés até virar colônia", aponta.
Fonte: Info
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