Descoberta de espécie inédita, na Chapada do Araripe, dá mais evidência de que o sertão nordestino já teve água do mar.
Deu camarão na Chapada do Araripe, no sertão da divisa entre os
estados de Ceará e Pernambuco, a cerca de 500 quilômetros do litoral.
O
crustáceo foi encontrado no distrito de Romualdo, próximo a Crato, no
Ceará, mas isso foi há cerca de 110 milhões de anos.
Trata-se do
primeiro fóssil deste tipo a ser encontrado na região, pelos
pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca).
A descoberta é
mais uma evidência de que a região, no semiárido nordestino, já foi
banhada pelo mar na era Cretácea — entre 140 milhões e 65 milhões de
anos — ou pelo menos tinha lagoas com certo nível de salinidade.
—
A descoberta de fósseis de dinossauros e tartarugas não davam tanta
evidência sobre a presença de água do mar na região, mas a descoberta do
camarão, inédita, prova que na Formação Romualdo havia água com algum
nível de salinidade. Era uma região isolada do mar, que deveria
invadi-la esporadicamente — explica paleontólogo Álamo Saraiva, da Urca.
Quando
o paleontólogo se refere a dinossauros e tartarugas, faz menção da fama
mundial que a Chapada do Araripe tem na comunidade científica em
relação à pesquisa de fósseis:
— Digo sempre que, se a história da
vida na Terra fosse um livro, a Bacia do Araripe seria um capítulo
inteiro. Há documentação sobre a história da vida na região desde 400
milhões até 1 milhão de anos.
O camarão fóssil encontrado pela
equipe de Álamo é da família Caridea e está na linha evolutiva dos
camarões atuais criados em fazendas, o Machobrachium rosenbergi.
Por se
tratar de um achado inédito, os pesquisadores batizaram com um novo nome
de gênero e espécie, a Kellnerius jamacaruensis.
O nome foi uma
homenagem a Alexander Kellner, pesquisador que ajudou a estabelecer um
núcleo de paleontologia na região.
O fóssil descoberto tem 1,8cm
de comprimento e encontrado depois de 11 dias e 9,5 metros de escavação.
Preservado em uma concreção calcária, conhecida como “pedra de peixe”, o
camarão teve a aparência preservada de forma tridimensional, o que é
mais raro e torna a descoberta mais valiosa.
Desde maio, quando a
pedra em que estava o fóssil foi descoberta, um trabalho de coordenação
motora bastante fina para revelar a forma do camarão exigiu meses de
tratamento na rocha, com lupa capaz de aumentar a imagem 60 vezes e
instrumentos delicados como uma agulha para aplicação de insulina.
—
Quando se encontra um fóssil de um bicho que tinha perninhas e antenas o
trabalho final é muito mais delicado que quando se encontra um
dinossauro, por exemplo. Qualquer movimento errado pode por a pesquisa
em risco — explica o paleontólogo.
A nova espécie será registrada
na publicação neozelandesa “Zootaxa”, especializada em trabalhos que
provem a existência de espécies inéditas.
Fonte: O Globo Online
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