O que parecia ser uma brincadeira de mau gosto tornou-se parte de um quebra-cabeça macabro que tem mobilizado a Polícia Civil paulistana.
Desde o dia 20 do mês passado, quando um crânio foi encontrado em uma
jardineira próxima ao ed. Copan, no centro da cidade, outros sete com as
mesmas características foram achados em diversos pontos de São Paulo,
no que parece ser um caso de bruxaria.
Thaiane de Oliveira, 24, atendente de uma loja de cosméticos que fica em frente à jardineira, lembra-se do dia.
"Cheguei por volta do meio-dia. A princípio, não fui ver. Daí tiraram
foto e só aí que eu fui lá. Quando eu olhei a primeira vez, achei
estranho. Mas depois mostrei a foto pra tanta gente que até acostumei",
disse.
Desde então, outros crânios foram abandonados. E com um mesmo padrão.
Todos estavam envoltos em papel de presente vermelho e foram colocados
próximos a consulados (Rússia, República Tcheca e África do Sul) e em
frente a igrejas mórmons.
Aline Oliveira, 23, recepcionista do prédio onde fica a representação da
África do Sul, na av. Paulista, conta ter se assustado ao se deparar
com o crânio abandonado na entrada do edifício.
"Já pensou? Ficou bastante tempo ali. Deixaram aquilo das oito da manhã
até as quatro da tarde, quando a polícia veio tirar. O pessoal entrando e
saindo o tempo todo, parava, via, perguntava", disse, indignada.
INVESTIGAÇÕES
Para o delegado do 34º DP (Vila Sônia), Paul Henry Bozon Verduraz, um
dos responsáveis pelas investigações, trata-se de um único caso.
Gravações de câmeras de segurança obtidas pela polícia mostram uma
mulher aparentando ter entre 30 e 40 anos, sempre trajando saia até a
canela, depositando alguns dos crânios encontrados.
"Parece um trabalho espiritual. A nossa investigação já está adiantada e
as formas que foram deixados os crânios e os locais, próximos a sedes
de consulados de outros países e a igrejas indicam que pode se tratar de
um trabalho para dar poder a alguém [que teria encomendado a
feitiçaria]", afirma.
Apesar de ainda aguardar o resultado dos exames periciais, o delegado do
3º DP (Santa Ifigênia), Antônio Carlos Tucumantel, que também investiga
os casos, disse que todos os crânios são antigos.
"Não é coisa recente. Têm traços de terra e provavelmente foram retirados de cemitérios", afirmou. Os delegados, porém, não forneceram outros detalhes da investigação, nem
quiseram dar informações sobre quais seriam os possíveis cultos
envolvido nas ações.
CULTOS EUROPEUS
O professor da USP aposentado Reginaldo Prandi, especializado em
sociologia da religião, disse acreditar que o "trabalho" --que dispensou
velas, alimentos, animais mortos e outros elementos típicos de cultos
de origem africanas-- possa ter ligação com bruxaria de origem europeia.
"No Brasil, as religiões afrodescendentes jamais fariam algo relacionado a consulados", comentou. De acordo com o professor, não é comum o uso de restos mortais humanos nas religiões afro-brasileiras.
Ao ser questionada sobre o caso, a Secretaria da Segurança Pública de
São Paulo, por meio de sua assessoria, disse que não sabia mais detalhes
a respeito do assunto, e afirmou também que não centraliza dados sobre
violações de túmulos.
E o mistério continua.
Fonte: Folha de S. Paulo |
Nenhum comentário:
Postar um comentário