Equipados com telêmetros a laser, GPS e robôs por
controle remoto, um grupo de especialistas está concluindo o primeiro
mapeamento dos aquedutos da Roma Antiga, que consideram ser a "última
fronteira" da arqueologia.
Amarrados a cordas, eles desceram por poços de acesso e
escalaram fendas para acessar os 11 aquedutos que abasteciam Roma, um
labirinto que ainda corre por centenas de quilômetros no subsolo e ao
longo de viadutos impressionantes.
A missão destes espeleo-arqueólogos é atualizar o mais
recente mapa superficial da rede, compilado no começo do século 20 pelo
arqueólogo britânico Thomas Ashby.
Enquanto atravessava um trecho do túnel perfeitamente
preservado do Acqua Claudia, no terreno de um convento franciscano em
Vicovaro, perto de Roma, Alfonso Diaz Boj disse se sentir "orgulhoso" do
estudo.
"Ele combina o que foi o nascimento da arqueologia como ciência
com os mais recentes instrumentos disponíveis", prosseguiu Diaz Boj,
que faz parte do grupo Sotterranei di Roma (Subterrâneos de Roma),
usando capacete com lanterna.
Marcas de picareta dos escavadores romanos ainda podem
ser vistas no calcário do túnel concluído em 38 d.C, sob o domínio do
imperador Cláudio e uma camada de calcificação a cerca de um metro do
chão mostra aonde o nível da água pode ter chegado.
"Estes aquedutos podem não ser tão bonitos quanto uma
estátua ou algumas obras de arquitetura, mas creio que são muito
importantes, são muito belos", afirmou.
Os antigos canais eram verdadeiras proezas de
engenharia, dependendo unicamente da gravidade para assegurar o fluxo
d'água, e podem ser vistos por todo o antigo Império Romano, que se
estendeu da Alemanha ao norte da África.
Sua importância estratégica é reforçada pelo fato de que
Roma tinha um magistrado especial para supervisionar sua manutenção e
que os visigodos os interromperam quando montaram o cerco à cidade.
O Acqua Claudia se estende por 87 quilômetros, das
Montanhas Simbruini ao coração de Roma, e fornecia 2.200 litros d'água
por segundo.
Apenas um dos aquedutos ainda funciona - o Acqua Vergine
- e pode ser acessado em vários locais escondidos perto de Roma,
incluindo uma entrada perto da Vila Médici, que leva a uma escadaria em
espiral até o nível da água.
O Acqua Vergine tem um total de 20
quilômetros de extensão e termina na Fontana de Trevi, fotografada todos
os dias por multidões de turistas.
"A Roma subterrânea é a última fronteira", afirmou
Riccardo Paolucci, outro explorador, enquanto examinava um viaduto em um
vale perto de Vicovaro, que levava a água para mais longe, na direção
da cidade.
"A água era um serviço fundamental para a higiene. Em
uma cidade como Roma, que tinha um milhão de habitantes, havia muito
poucas epidemias", afirmou.
"Havia um conceito de serviço para o povo,
para a cidade. É um conceito-chave que talvez faça falta não apenas na
Roma moderna, mas também globalmente", continuou.
Diaz, Paolucci e os outros do Sotterranei di Roma
trabalham em conjunto com a autoridade arqueológica romana, ajudando-a a
entender o que pode ser visto na superfície do que está abaixo e
inacessível, sem a necessidade de um equipamento especializado.
"Nós somos o que somos por causa do que temos dentro de
nós, e Roma é o que é por causa do que está embaixo dela", afirmou
Paolucci, um espeleólogo que também é chamado em incidentes de
emergência ou sempre que um buraco de escoamento se abre na cidade.
O grupo também organiza visitas guiadas e cursos,
inclusive um sobre aquedutos com início previsto para o próximo mês e
que está ganhando fama internacional. Seus integrantes também foram
incumbidos de mapear os vestígios subterrâneos da antiga Éfeso, na atual
Turquia.
Seu estudo dos aquedutos se baseia em um mapa feito por
Ashby, que foi diretor da Escola Britânica de arqueologia em Roma, entre
1906 e 1925.
A assinatura de Ashby pode ser vista na parede de um
setor do aqueduto Acqua Marcia, que também passa por Vicovaro, ao lado
de grafites e poemas do século XVII, deixados por visitantes que
caminharam pelos antigos canais.
"Os mapas de Ashby estavam à frente de seu tempo", disse
Diaz. "Ele buscava os vilarejos, as tratorias locais, falava com
fazendeiros, caçadores. Ele descobriu o que descobriu graças ao
conhecimento local", afirmou. "É uma técnica que usamos até hoje",
emendou.
Fonte: Terra
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