segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Os Caça-Fantasmas da Nova Zelândia

Da esquerda para a direita: Brenda Huggins, George Shiels, Victoria Edmonds, Catherine Nichol e Jaime Steel.



 Por Shane Warbrooke


Palmerston North é uma cidade universitária pitoresca na Ilha Norte da Nova Zelândia. A cidade é o lar de jardins, fazendas eólicas, o que as revistas chamam de uma “cena artística vibrante” e da Core Paranormal — uma dedicada equipe de investigadores paranormais e despretensiosos. 


O grupo é liderado por George Shiels, um homem que me contou, orgulhoso, que nunca pisou num Starbucks. Cheguei à cidade para acompanhar essa turma do Scooby-Doo neozelandesa na investigação da Prisão Napier, uma casa de detenção de 150 anos. 


Passei a noite num lugar onde assassinos e estupradores foram executados e enterrados em pé, para que suas almas nunca pudessem descansar.


George foi introduzido ao mundo do sobrenatural depois do falecimento de sua irmã em 2009. Logo após a morte dela, ele começou a enfrentar estranhos fenômenos em sua casa. 


Sua família e amigos ouviam alguém cantar e conversar dentro de um barracão vazio no quintal à noite e, dentro da casa, objetos mudavam de lugar apesar de a porta estar trancada. 


Os visitantes ficavam inexplicavelmente desconfortáveis perto do barracão e Victoria, enteada de George, relatou ter visto fantasmas, o que a deixava num estado constante de terror.


Quando George finalmente informou sobre seu barracão mal-assombrado aos investigadores paranormais locais, eles não se interessaram. 


Aí, no melhor estilo "faça você mesmo" kiwi, George começou a comprar e montar seu próprio equipamento caça-fantasmas para saber o que diabos estava realmente acontecendo.


Vale notar que o empreendimento não nasceu de uma curiosidade mórbida, e sim, de um sentimento de que a comunidade necessitava de informação e acompanhamento em questões paranormais. 


“Quando pedimos ajuda, ela não veio. Precisávamos fazer algo desesperadamente. A Victoria estava quase morrendo de medo.”



George “Chemical Brothers” Shiels.


A equipe de George é formada por Brenda, uma embalsamadora profissional; Victoria, que começou a ver e ouvir “coisas que não deveria” depois que seu pai biológico morreu; Catherine, que trabalha com as câmeras, e um segurança chamado Jamie, que se envolveu com o time depois de experimentar incidentes como alarmes de incêndio que disparavam sozinhos e portas que abriam e fechavam sem explicação. 


Se Victoria e Brenda são as “sensitivas” do grupo — o que significa que elas têm uma intuição forte quando se trata de se comunicar com os mortos — Jamie é a Scully da equipe. Um cético bem-humorado cujo trabalho é procurar explicações mundanas para as coisas que acontecem com eles.


O grupo usa um arsenal hi-tech de caça para rastrear e documentar seus encontros sobrenaturais. Eles têm câmeras infravermelhas e ultravioletas transmitindo para estações de controle; óculos de visão noturna e equipamento FLIR, que permite que eles enxerguem calor, como no filme O Predador


Eles também carregam medidores de campo eletromagnético, termômetros digitais a laser e, o equipamento mais impressionante — uma rede laser. 


Fora o Jamie, a equipe também usa joias de hematita, que supostamente impedem que fantasmas os sigam ou se liguem a eles (para quem não sabe, a hematita é um óxido de ferro com propriedades antiferromagnéticas).


 A mesa de George, com câmeras e equipamentos gerais de caça-fantasmas.


Enquanto nos preparávamos para ir à prisão, George me deu algumas dicas sobre passar a noite com um bando de assassinos mortos: se as coisas começassem a se mover sozinhas, eu devia me afastar, já que, aparentemente, os fantasmas precisam de muito espaço pessoal. 


Além disso, fantasmas “comem” a eletricidade de baterias, então, eu deveria ficar de olho no meu equipamento. Mais tarde, os indicadores de bateria do meu gravador e do meu celular subiram e desceram a noite toda e, em certo momento, a câmera da Brenda usou quatro pares de baterias em menos de dez minutos. #medo


Jamie faz algumas leituras.


Depois das dicas, entramos no Paranormóvel e partimos para a Prisão Napier, que, desde que foi desativada em 1993, opera como um albergue de mochileiros e museu de folclore.



O Paranormóvel.


Victoria e Catherine me levaram para um passeio pela antiga prisão e me mostraram onde íamos concentrar nossos esforços: a forca, onde o público pagava para ver os criminosos serem enforcados, e o cemitério, cheio de gente enterrada em pé. 


Também demos uma olhada no “Buraco”: uma cela escavada na parede de pedra da prisão, onde os pacientes com problemas mentais eram deixados para morrer, e outra cela, onde um detento cometeu suicídio. 


O bilhete de suicídio dele ainda está na parede para que os turistas possam ler. Essa era minha primeira caçada, mas essas pareciam locações clássicas de caçada a fantasmas.



Victoria entra numa das celas.


Começamos fazendo as leituras de base pela prisão. Verificamos todas as áreas, procurando por atividades de temperatura ou eletromagnéticas. 


No final, tudo foi fotografado, no caso das coisas se moverem durante a noite. Nós nos concentramos em pontos especiais. George estava me explicando seu sistema de cabos quando Brenda chegou correndo. “Fui empurrada”, disse ela, “do lado de fora da sala 7”.


Corremos para a cena do incidente. George me disse: “Seja lá o que estiver aqui, ele ou ela está se acostumando com a gente e aparecendo cada vez mais a cada vez que voltamos”. 


Chegamos à sala 7 e Brenda fez um gesto de ser jogada para o meio do corredor. A temperatura caiu sensivelmente, marcando a primeira vez em que notei algo que não podia ser explicado facilmente. Algumas câmeras infravermelhas foram montadas na área e voltamos para onde estávamos antes.


Os Irmãos Metralha oferecem um alívio cômico.


Logo paramos de novo; Brenda viu o nome “Cassidy” num flash. Nós nos dirigimos para a antiga sala de desintoxicação, que agora guarda as informações dos antigos detentos. 


Ali também fica uma daquelas pinturas de cenas hilárias, onde você enfia a cabeça para tirar fotos. O cenário apresentava os inimigos mortais do Tio Patinhas: os Irmãos Metralha. 


Brenda e Victoria acharam o nome Cassidy numa lista de criminosos que foram enforcados na prisão. Com alguma sorte, esse cara podia aparecer durante a noite.


As câmeras têm gravadores digitais embutidos, e a equipe também carrega câmeras portáteis e câmeras fotográficas digitais. Jaime leva uma câmera FLIR. 


A rede laser foi montada no pátio dos enforcamentos, cobrindo a área com linhas e pontos de laser verde e vermelho. A ideia é que, se algo invisível ao olho humano se mover, isso vai interromper a luz verde e mostrar movimento pela rede. 


George sobe na forca e é reduzido a uma sombra negra que se move pela rede. Lá no topo, ele pede aos fantasmas para que se manifestem, explicando pacientemente por que estamos aqui. 


Nada. Então, ele pergunta se os espíritos preferem falar com as garotas. “Sou sempre a isca”, reclama Victoria. “Você tem que achar a maneira certa de se comunicar”, diz George. “Se eles estão tratando isso como um Whare Tapu (um lugar sagrado), eles não querem que a área seja perturbada.”


No decorrer da noite, o medidor de campo eletromagnético disparou loucamente. A temperatura caiu do nada várias vezes. Em certo momento, fiquei tão desconfortável na sala onde a Brenda foi empurrada que tive que sair imediatamente. 


Passando pela porta, experimentei uma sensação que só posso explicar como aquele arrepio que sobe pela nuca, só que no rosto. Brenda disse que, provavelmente, foi alguma coisa passando através de mim. 


Circulamos por todos os pontos quentes para verificar perturbações enquanto as câmeras gravavam em silêncio. Do lado de fora, no pátio de exercícios, sentimos um cheiro de carne em decomposição no ar e a Brenda disse que esse é o cheiro da morte. A Catherine fez algumas fotos de uma sombra que se mexia.


De volta ao centro de controle, enquanto assistimos às gravações das câmeras, vejo uma esfera de luz atravessando um dos monitores. Em certo momento, todos os oito monitores de movimento acendem ao mesmo tempo, sem que nada possa ser visto na tela. 


Brenda e Victoria ficavam cada vez mais desconfortáveis no decorrer da noite e disseram sentir que os espíritos as estavam observando. As duas foram fisicamente afetadas, descrevendo dores estranhas pelo corpo.



O monitor das câmeras.


George pressiona, convidando os fantasmas a se mostrar manipulando os medidores de FEM, ficando visível ou tirando itens do lugar. Na maior parte, a única resposta que conseguimos são da flutuação eletromagnética. 


Mas quando retornamos ao pátio de enforcamento e ao cemitério, experimentamos algo estranho. Nos dois locais, vimos claramente esferas de luz azul se movendo pela rede laser. Algo estava acontecendo. 


George parecia perturbado. “Saia da minha cabeça. Saia da minha cabeça, seu bastardo!”, ele gritou. Ele aperta a base do nariz e volta para nós, ainda um pouco trêmulo. Jamie verifica se ele está bem e nós continuamos. Vamos de um ponto a outro por mais algum tempo, mas logo fica claro que a noite já tinha atingido seu pico.



George chama os fantasmas.


George parece um pouco desapontado enquanto arrumamos as coisas para ir embora; ele teve resultados melhores antes. Ele me lembrou um pai desanimado depois de uma pescaria frustrada. Eu, por outro lado, fiquei feliz por tudo acabar assim. 


Já vi muitos filmes de terror e sei que mexer com o mundo dos espíritos pode acabar com uma menina morta saindo de uma televisão, ou com um quadro de um mago do século XVII chamado Vigo voltando à vida, então, fiquei satisfeito. 


Conheci gente legal, vi e senti coisas estranhas e inexplicáveis, e saí dessa aventura com um novo respeito por pessoas que ganham a vida caçando fantasmas.




Fonte: Vice

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