Você já reparou que, em praticamente todos os presépios, pinturas
famosas e autos de Natal, a Estrela de Belém é caracterizada como um
cometa?
Apesar desse conceito ter permanecido no imaginário popular, não
se trata de uma verdade científica. Nenhum astrônomo ou qualquer outro
pesquisador até hoje conseguiu determinar, com certeza, a que se
referiam os textos sobre o nascimento de Jesus Cristo.
De um modo geral, eventos astronômicos são ótimos para situar
acontecimentos históricos. Fenômenos como eclipses lunares e solares são
cíclicos e sempre encantaram as pessoas. Por isso, referências em
documentos históricos são utilizadas para precisar datas, uma vez que,
obviamente, ninguém na Antiguidade utilizava os termos cronológicos
adotados hoje -- a.C. e d.C.
O astrônomo Renato Las Casas, professor do departamento de física e
coordenador do grupo de astronomia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), explica que o próprio Rei Herodes, relacionado ao
nascimento de Jesus nos Evangelhos por Mateus e Lucas, teve sua morte
determinada por um eclipse lunar.
A questão é que as análises dos eventos astronômicos ocorridos naquela
época não coincidem com a data estabelecida para o nascimento de Cristo.
Os próprios estudiosos da Bíblia admitem que pode ter havido
imprecisões na determinação do Anno Domini, que acabou sendo adotado
como padrão internacional. "Se procurarmos um objeto fixo [que pudesse
ser a Estrela de Belém], não encontramos. Se pensarmos em objetos
episódicos, as datas não batem", diz o professor.
Era o Halley?
A primeira explicação astronômica que se tentou dar para a Estrela de
Belém foi a de que ela teria sido um cometa. Isso porque sua cauda pode
ser interpretada como uma seta que aponta para determinada direção. Não
poderia haver nada mais simbólico para indicar aos três Reis Magos
(Belchior, Baltazar e Gaspar) onde estavam Jesus, Maria e José.
Las Casas conta que, no século 16, astrônomos creditaram a Estrela de
Belém ao cometa Halley, que, segundo a crença na época, teria "passado"
perto da Terra no ano anterior ao nascimento de Jesus. No entanto, mais
tarde descobriu-se que, na realidade, o Halley "passou" 12 anos antes --
ou seja, muito cedo para ser associado à data.
"Nenhum dos cometas conhecidos, segundo os dados hoje catalogados,
passou por aqui, capaz de ser visto a olho nu, entre os anos 7 antes de
nossa era e o ano 1 de nossa era; período admissível do nascimento de
Cristo", explica Las Casas, que chegou a escrever um artigo sobre o
tema.
Nova, supernova ou movimento de Júpiter
Se não foi um cometa, existe a chance de a Estrela de Belém ter sido
uma nova ou uma supernova -- estrelas que, de repente, "explodem"e têm
seu brilho aumentado até centenas de milhares de vezes.
"Muitas vezes
uma estrela que só pode ser observada com potentes telescópios, no
espaço de algumas horas ou dias se torna um dos objetos mais brilhantes
do céu, permanecendo assim por alguns dias ou semanas", descreve o
professor.
Os chineses, que entendiam bastante de astronomia, registraram uma
dessas na Constelação de Capricórnio cinco anos antes de nossa era. Não
era muito brilhante, segundo os registros, e também não tinha
assimetrias que pudessem transformá-la em um bom indicador para os Reis
Magos.
Assim, Las Casas afirma que essa possibilidade só pode ser levada
em conta se considerarmos que Belchior, Baltazar e Gaspar eram
astrólogos e faziam interpretações com base nos movimentos das estrelas.
Seguindo essa lógica, existe, ainda, a ideia de que a Estrela de Belém
seria um fenômeno ligado ao planeta Júpiter, como uma conjunção ou um
movimento retrógrado. O professor relata que, na época, Júpiter era
considerado a "estrela real" e, portanto, ligada a reinados e coroações.
Faz sentido imaginar que fosse associado ao nascimento de Cristo.
No ano 7 antes de nossa era houve uma tripla conjunção entre Júpiter e
Saturno, mas os planetas não se aproximaram a ponto de ser confundidos
com um único objeto, de acordo com Las Casas. No ano 3 antes de nossa
era, Júpiter se aproximou de Régulus, a estrela mais brilhante da
Constelação de Leão, associada ao "Leão de Judá".
Por último, Las Casas
observa que no ano 2 antes de nossa era Júpiter realizou um movimento
retrógrado, invertendo a direção de seu movimento em relação às estrelas
de fundo. Nenhuma dessas associações pode ser comprovada, pelo menos
com os conhecimentos obtidos até hoje.
Para o professor, se eclipses e outros fenômenos astronômicos ajudaram a
escrever a História, desvendar esse símbolo popular em presépios e
pinturas teria grande utilidade, uma vez que muitos pesquisadores ainda
têm dúvidas sobre a existência do Jesus histórico. "Se conseguirmos
entender o que foi a Estrela de Belém, poderemos ter um indício forte de
que ele realmente existiu", pontua.
Fonte: UOL
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