terça-feira, 20 de março de 2012

Pesquisadores descobrem razão do famoso pescoço dobrado dos fósseis de dinossauros

Fóssil de Struthiomimus altus com a clássica torção de pescoço, conhecida como postura opistótona


O famoso dinossauro emplumado arqueópterix parece ter tido uma propensão a ficar fossilizado em posições dolorosas, com a cabeça dobrada para trás em um ângulo curvado.

É tão comum encontrar fósseis de dinossauros com uma postura contorcida que ela tem até nome: , do grego "tonos", que significa tensionar, e "opistho", para trás.

Desde a década de 1920, os paleontólogos têm discutido como esses dinossauros passaram a assumir tais posições grotescas no momento de seu descanso final.

Alguns teorizaram que correntes de água deslocaram os ossos que estavam em formação, ou que as contrações musculares do rigor mortis levaram a cabeça para trás. Outros achavam que os animais pudessem ter morrido de dor.

Novas pesquisas propõem uma explicação mais simples.

Em um artigo publicado no mês passado pelo periódico Palaeobiodiversity and Palaeoenvironments ("Paleobiodiversidade e Paleoambientes"), Achim G. Reisdorf, da Universidade de Basel, na Suíça, diz que o problema da hipótese da morte acompanhada por uma dor violenta é que os esqueletos são flexíveis.

Para se fossilizar em uma posição de morte traumática assim, o esqueleto teria de ser rapidamente enterrado no local exato em que o animal morreu, sem ser transportado.

Segundo Reisdorf, isso é improvável. Muitos dos dinossauros encontrados com postura opistótona são animais terrestres que caíram em sedimentos no fundo de massas de água e, provavelmente, tiveram que se acomodar antes de chegar a seu lugar de descanso final.

Reisdorf pensou que a água poderia ser a chave do mistério. Assim, ele e um colega, Michael Wuttke, decidiram fazer uma experiência científica culinária.

Eles compraram pescoços de frango frescos de um açougueiro e os mergulharam em baldes de água.

Imediatamente, os pescoços se dobraram para trás em 90 graus. Depois de três meses, já significativamente podres, eles haviam se contorcido ainda mais para trás, em 140 graus.

Esses resultados foram verificados na Universidade Brigham Young por um paleontólogo, Brooks B. Britt, e uma estudante de graduação, Alicia Cutler.

"Quando você segura um esqueleto, percebe que ele parece um trapo flexível. Dá para movimentá-lo em qualquer direção", disse Britt. "Mas assim que colocamos o primeiro frango morto na água, percebemos, 'Nossa, isso é incrível'. A cabeça se curvou para trás imediatamente".

Para testar se as contrações musculares causaram os espasmos, os dois grupos de pesquisadores removeram a pele e o músculo das aves e obtiveram o mesmo resultado.

Eles só conseguiram evitar que os pescoços dobrassem para trás na água cortando os ligamentos entre as vértebras.

De forma independente, as equipes concluíram que os ligamentos do pescoço de frango eram como elásticos _ dobráveis, mas contraídos por padrão a fim de manter a cabeça da ave erguida contra a gravidade.

Os ligamentos do frango morto ainda tentam retornar a sua posição natural, sem estarem esticados, mas o peso morto da ave luta contra isso.

Na água, no entanto, a flutuabilidade e a falta de fricção permitem que os ligamentos se contraiam em sua forma natural, empurrando o pescoço para trás enquanto isso.

As observações foram replicadas em outras espécies de aves, em água salgada e água doce, e em várias profundidades.

Como as aves são dinossauros vivos, os pesquisadores acreditam que o mesmo fenômeno pode ter feito com que dinossauros não-aviários também assumissem a postura opistótona.

Kevin Padian, paleontólogo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, não está totalmente convencido.

Como contorções semelhantes da coluna e pescoço ocorrem quando animais modernos vivenciam traumas, ele argumentou que a postura opistótona de um fóssil poderia indicar que o animal morreu de asfixia, fome, envenenamento ou outras lesões cerebrais.

Reisdorf "pode ter descoberto uma coisa relevante, mas ainda há o que verificar", disse Padian. As novas observações não explicam a existência de fósseis opistótonos encontrados em sedimentos secos, não aquosos.

Nem explicam como mamíferos -- cujos ligamentos têm uma anatomia diferente -- também se fossilizaram com essas posturas.

"Não acho que as duas teorias sejam mutuamente excludentes", continuou ele. "A questão é como dizer o que realmente está acontecendo."

Como uma cena de crime de 150 milhões de anos, os fósseis antigos oferecem poucas pistas para ajudar os paleontólogos a reconstruírem o passado.

Porém, Reisdorf e Britt afirmam que a sua pesquisa descarta, na maioria dos casos, a hipótese da morte agonizante que tinha sido atribuída a esses dinossauros.

"Um longo debate foi solucionado", disse Britt, "e a resposta para ele se mostrou extremamente simples, por fim: basta adicionar água".



Fonte: IG

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