sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Assobio de orangotango pode indicar como evoluiu a linguagem

Bonnie


Que Bonnie assobie não é surpresa para os seus tratadores. O orangotango de 63 kg, que vive no Zoológico Nacional dos Estados Unidos, em Washington, costuma assobiar há duas décadas. Agora, um novo estudo sugere que os sons que ela faz poderiam oferecer pistas sobre as origens da linguagem humana.

"A suposição é de que alguém estivesse assobiando e Bonnie tivesse começado a imitar a pessoa", disse Erin Stromberg, uma das responsáveis pelo tratamento dos animais no zoológico e co-autora do estudo.

Lisa Stevens, curadora encarregada dos primatas e dos pandas gigantes no zoológico, disse que o ponto principal da observação é que o orangotango não havia sido treinado para assobiar.

Embora seja possível ensinar orangotangos a emitir sons novos, por meio de treinamento prolongado, Bonnie representa a primeira indicação de que animais são capazes de imitar independentemente os sons produzidos por outra espécie.

"É algo que ela desenvolveu espontaneamente", disse Stevens. "Não se trata de um truque".


Imitando movimentos


Sabe-se que os orangotangos costumam imitar os seres humanos. Bonnie, por exemplo, ocasionalmente varre o chão por onde ela passa, como os tratadores fazem, ainda que o pessoal do zoológico não encoraje esse comportamento.

Serge Wich, o responsável pelo estudo, membro do Great Ape Trust, uma organização de pesquisa e defesa dos primatas sediada no Iowa, disse que orangotangos já foram vistos fingindo lavar roupas, na Indonésia.

"Sabemos que eles são capazes de imitar essas capacidades motoras, mas jamais havíamos encontrado bons indicadores quanto a sinais ou vocalizações", disse Wich, que apresentou os resultados de sua pesquisa em um simpósio na Universidade de Zurique, Suíça, em 18 de dezembro. "Agora pelo menos temos uma indicação de que eles são capazes de imitar sons" sem que sejam treinados.

O próximo passo seria estudar até que ponto o aprendizado de sons dos primatas é flexível, e se eles são capazes de ajustar seus sons - tom e registro, por exemplo -, a depender do contexto, disse Wich.

"Essas coisas são muito importantes", ele disse, "porque nos oferecem pistas para compreender a evolução da fala humana".


Trabalhando com assobios


Ainda que Bonnie pareça ter aprendido a assobiar simplesmente pelo prazer do assobio - e não como forma de imitação direta ou de atrair atenção -, ela se dispôs a imitar os assobios de Stromberg para o estudo.

"Bonnie respondia com um assobio curto aos assobios curtos e com um assobio longo aos assobios longos", disse Wich.

W. Tecumseh Fitch, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, diz que a pesquisa demonstrou que os orangotangos têm melhor controle sobre sua respiração do que os cientistas imaginavam anteriormente.

Fitch, que se especializa na evolução da fala e não participou do estudo, diz que a pesquisa oferece "nova confirmação de uma velha idéia, a de que os macacos têm controle complexo e voluntário sobre a boca, lábios e língua, exatamente como nós", ele afirmou.

"O que lhes falta é controle sobre a laringe", a parte da garanta que contém as cordas vocais, acrescentou.


Variações vocais


Charles Snowdon, da Universidade do Wisconsin, apontou que os assobios de Bonnie não são tão complexos quanto as imitações de alguns pássaros e até golfinhos.

"Houve muita controvérsia sobre a possibilidade de primatas não humanos aprenderem a vocalizar, ou a modificar vocalizações", disse Snowdon, que estuda a comunicação acústica e seu desenvolvimento e não participou da pesquisa.

"Até agora, havia poucas provas de imitação direta de vocalizações por um primata", ele disse. "A questão realmente interessante é determinar por que é tão difícil encontrar mais provas sólidas de imitação vocal".

Wich apontou que outro orangotango cativo, que no passado vivia com Bonnie mas morreu alguns anos atrás, aparentemente aprendeu a assobiar com ela, de acordo com os tratadores.

Caso os orangotangos aprendam novos sons uns dos outros, isso poderia explicar as variações nos sons geradas por diferentes populações de orangotangos na natureza.

Stromberg diz que faz sentido que esse orangotango tenha a capacidade de imitar sons humanos.

"Bonnie é muito intuitiva", ela disse. "Ela é muito observadora, e sempre olha para as pessoas e presta atenção no que fazem".


Fonte: Terra

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