A impressão duradoura sobre a Lua que as missões Apollo nos legaram é a de um corpo celeste cinzento, empoeirado, desolado e morto.
Mas instrumentos deixados no satélite pelos astronautas da Apollo registraram terremotos e oscilações de rotação que oferecem sinais quanto à presença de um núcleo ainda fervilhante.
Agora, uma rocha coletada mais de 36 anos atrás - durante a missão Apollo 17, o último voo tripulado à Lua -, revela que o núcleo derretido pode ter apresentado movimento rotacional no passado e, com isso, gerado um campo magnético.
Dado o fato de que as planícies de lava na superfície da Lua indicam um passado vulcânico que pode ter durado quase dois bilhões de anos, "não creio que essa observação deva surpreender", disse Ian Garrick-Bethell, que acaba de se doutorar pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT).
Mesmo assim, as descobertas de Garrick-Bethell e de seus colegas, publicadas pela revista Science, podem ajudar a resolver um debate já antigo.
Muitas das rochas trazidas da Lua apresentam traços de um sinal magnético, o que sugere que se resfriaram originalmente de um magma formado quando a Lua tinha um campo magnético.
Isso surpreendeu muitos cientistas que imaginavam que a Lua fosse pequena demais e fria demais para ter abrigado um dínamo eletromagnético no qual correntes elétricas originadas da convecção de ferro derretido geram um campo magnético.
As provas não eram conclusivas porque a superfície da Lua foi repetidamente atingida por meteoritos, e o choque do impacto também pode deixar uma assinatura magnética nas rochas.
Mas uma rocha com 4,2 bilhões de anos de idade conhecida como troctolito 76535 - (rocha formada pelos minerais olivina e plagiocásio -, recolhida por Harrison Schmitt, o único geólogo treinado entre os astronautas do projeto Apollo, oferece um panorama intocado sobre a história primitiva da Lua.
A rocha é significativa porque se formou quando a Lua tinha apenas 300 milhões de anos de idade, e estudos anteriores demonstraram que ela jamais foi alterada pela força de um impacto.
A pesquisa de Garrick-Bethell demonstra dois campos magnéticos distintos no interior da rocha, ou ao menos nos pequenos fragmentos que ele examinou.
O primeiro, diz, surgiu quando a rocha se cristalizou pela primeira vez, a talvez 50 km de profundidade e em um processo que demorou milhões de anos.
Depois, parece que um impacto de meteorito conduziu a rocha para mais perto da superfície mas sem atingi-la diretamente, o que a aqueceu o bastante para apagar parte de seu campo magnético original e criar um segundo, em posição distinta do primeiro, em um resfriamento que durou milhares de anos.
O resfriamento lento parece descartar a possibilidade de que os campos tenham sido causados por impactos de meteoritos, dizem os pesquisadores.
Eles chegaram às suas conclusões ao colocar lascas da rocha em campos magnéticos cada vez mais fortes que "apagavam" o magnetismo da amostra aos poucos.
Isso permitia determinar se os átomos estavam alinhados na mesma direção, o que seria de esperar caso o magma se tivesse resfriado em um campo magnético.
Um campo equivalente a 2% do terrestre produziria o magnetismo observado no troctolito 76535, disseram os pesquisadores.
Fonte: Terra
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