segunda-feira, 9 de março de 2009

AS MÚMIAS MONSTRO DO JAPÃO

Ocultas em salas de templos budistas e museus em todo o Japão, estão uma série de múmias monstro - vestígios preservados de demônios, sereias, Kappa, Tengu, Raijū, e até mesmo monges bem humanos. Aqui estão alguns notáveis espécimes para os aventureiros e corajosos de coração.

Múmias de demônios


Pode parecer estranho que templos budistas e ocasionalmente museus japoneses guardem perdidos demônios mumificados (oni), mas provavelmente faz mais sentido mantê-los fora das ruas, sob o olhar atento de um sacerdote, e longe dos olhares curiosos.



O
Templo Zengyōji na cidade de Kanazawa (prefeitura de Ishikawa) é o lar da cabeça mumificada de um demônio de três faces.


Diz a lenda que um sacerdote descobriu a múmia no templo, guardada em uma câmara do século 18.
Imagine a sua surpresa. Ninguém sabe de onde veio a cabeça demoníaca, e nem como, nem porque, ela acabou guardada.

A cabeça mumificada tem duas faces sobrepostas na frente, com uma outra (semelhante a de um kappa) na parte posterior. O templo expõe a cabeça ao público uma vez no ano, em torno do equinócio da Primavera.


Outra múmia misteriosa de demônio pode ser encontrada no Templo Daijōin na cidade de Usa (prefeitura de Oita).



Dizem que a múmia era uma relíquia familiar.
Mas depois de sofrer algum tipo de infortúnio, a família foi forçada a se livrar dela.

A múmia demônio teve vários proprietários antes de acabar nas mãos de um devoto do Templo Daijōin, em 1925. Após o devoto adoecer, a múmia ficou sob suspeita de ser amaldiçoada.


O homem rapidamente se recuperou quando a múmia foi colocada sob os cuidados do templo. Ela permaneceu lá desde então. Hoje a múmia demônio de Daijōin é reverenciada como um objeto sagrado.

Uma múmia muito menor, que seria de um bebê demônio, esteve em poder do Templo Rakanji em Yabakei (prefeitura de Oita). Infelizmente, a múmia foi destruída em um incêndio em 1943.


Múmias de sereias


No período Edo, no Japão - em particular nos séculos 18 e 19 - as múmias de sereias foram uma visão comum em festivais populares chamados misemono. Ao longo do tempo, a prática da mumificação de sereias floresceu como uma forma de arte, e pescadores aperfeiçoaram técnicas de costura, e cabeças de macacos eram costuradas com perfeição nos corpos de peixes.

A múmia da foto abaixo é um exemplo clássico de uma sereia de festival. Parece que é constituída de partes de peixes e de outros animais, costuradas com corda e papel.


A criatura mumificada foi obtida por Jan Cock Blomhoff enquanto servia como diretor de Dejima, a colônia holandesa no Japão no porto de Nagasaki, entre 1817-1824. Ela agora está no Museu Nacional de Etnologia, em Leiden.

Outra velha múmia sereia exposta em um museu de Tóquio há vários anos, pertencia ao fundador do Museu Agrícola de Harano.



A origem da múmia é desconhecida, mas foi encontrada em uma caixa de madeira que continha passagens de um sutra budista escrito em sânscrito.Também na caixa havia uma fotografia da sereia e uma nota afirmando que pertencia a um homem da Prefeitura de Wakayama.



Múmias Kappa


Tal como as múmias de sereias, muitas múmias Kappa (criaturas do rio) foram elaboradas por artistas do período Edo utilizando partes de animais, como macacos, corujas e raias.


Estes kappa mumificados, que agora estão em um museu holandês, consistem de várias peças de animais reunidas em um conjunto harmonioso. Acredita-se que tenham sido criadas para festividades no período Edo.

Outro kappa mumificado pode ser encontrado no Templo Zuiryūji em Osaka. O humanóide de 70 centímetros de comprimento supostamente remonta a 1682.


Outra notável múmia kappa pode ser vista em um lugar aparentemente improvável - uma empresa da cidade de Imari (prefeitura de Saga).


De acordo com um panfleto da empresa, a múmia foi descoberta por carpinteiros no interior de uma caixa de madeira escondida no teto quando substituíam o telhado há mais de 50 anos.


A criatura era uma velha curiosidade familiar transmitida por gerações. Os proprietários da empresa construíram um pequeno altar dedicado a múmia.


Raijū


Com uma limitada compreensão científica do céu, a pessoa comum no período Edo no Japão olhava para cima com grande reverência e mistério. Criaturas sobrenaturais chamadas raijū, ou "Bestas do trovão " - habitavam as nuvens de chuva, e ocasionalmente caíam na terra quando os relâmpagos apareciam.

Os primeiros registros escritos conhecidos do raijū datam do final do século 18, embora a criatura tenha características do nue - criatura que habita nuvens - uma quimera descrita pela primeira vez no conto de Heike, uma epopeia histórica do século 12.



Os detalhes sobre a aparência do raijū variam. Alguns documentos do período Edo, alegam que o raijū era semelhante a um esquilo, gato ou doninha, enquanto outros descrevem-no como sendo parecido com um caranguejo ou hipocampo.


No entanto, a maioria concorda com as descrições do raijū quanto aos dedos palmados, garras acentuadas, dentes longos, a capacidade de algumas vezes poder atirar relâmpagos. A besta aparece por vezes, também, com seis pernas, ou três rabos, sugerindo também a capacidade de trocar de forma.


Um documento ilustrado de um raijū, que caiu do céu durante uma violenta tempestade na noite de 15 de junho de 1796 em Higo-kuni (hoje Prefeitura de Kumamoto).


Aqui, o raijū é descrito como um caranguejo com um casaco de peles preto medindo cerca de 11 centímetros (4 polegadas) de espessura.


Outro famoso encontro teve lugar em Tsukiji na área de Edo em 17 de agosto de 1823. Duas versões diferentes do incidente oferecem descrições da besta.



Um documento mostra o raijū como sendo do tamanho de um gato ou doninha, com um grande olho protuberante e um único chifre longo, como o de um touro ou rinoceronte, projetado do topo da sua cabeça. No outro, o raijū tem um olho mais arredondado e falta o seu chifre.


No Volume 2 do Kasshi Yawa ( "Histórias da Noite do Rato"), uma série de artigos sobre a vida cotidiana em Edo, o autor Matsuura Seizan escreve que não era incomum criaturas parecidas com gatos cairem do céu durante tempestades.


O volume inclui a história de uma família que cozinhou e comeu uma dessas criaturas depois que caiu no seu telhado. Dada a frequência
das observações do raijū , não é nenhuma surpresa que alguns tenham virado múmias. Na década de 1960, O Templo Yūzanji, na prefeitura de Iwate, recebeu uma múmia de raijū dada por um devoto.


A origem da múmia, bem como a forma que o devoto a obteve, é um mistério. A múmia se parece à primeira vista com a de um gato, mas as pernas são bastante longas e o crânio não tem nenhuma órbita ocular visível.



Uma múmia raijū semelhante está em exibição no Templo Saishōji na Prefeitura de Niigata.


Múmia Tengu


Outra lendária criatura sobrenatural do céu é o Tengu, um perigoso demônio muitas vezes representado na arte como parte humana e parte pássaro.



O Museu Hachinohe (Prefeitura de Aomori) no Norte do Japão, guarda uma múmia Tengu, que pertenceu a Nambu Nobuyori, líder do clã Nambu que dominou Hachinohe em meados do século 18.



A múmia, que parece ter uma cabeça humanóide e penas e pés de um pássaro, teria origem na cidade de Nobeoka (
prefeitura de Miyazaki ), no sul do Japão.

Teorias sugerem que a múmia Tengu veio do norte do Japão e depois foi repassada para familias samurai, algumas das quais estavam profundamente interessadas em colecionar e comercializar estas curiosidades.




Monges auto-mumificados



Alguns templos budistas do norte do Japão guardam "múmias vivas", conhecidas como sokushinbutsu. Os corpos preservados são de monges, que aparentemente de boa vontade, se mumificaram na busca do nirvana.



Para se tornar uma
múmia viva, os monges tinham de ser submetidos a um longo e difícil processo de três etapas.

Passo 1: Durante 1.000 dias, os monges comiam uma dieta especial de nozes e sementes e se ocupavam de um rigoroso treinamento físico para eliminar a gordura do corpo.

Passo 2: Por outros 1.000 dias, eles só comiam cascas e raízes, diminuindo gradualmente a quantidade.


Perto do fim, eles bebiam um chá feito a partir da seiva da árvore urushi, uma substância tóxica utilizada normalmente para envernizar tigelas, que causaria mais perda de fluidos corporais.


O chá era fabricado com a água de uma nascente sagrada no Monte Yudono, conhecida por conter um elevado nível de arsênico. A mistura cria um ambiente livre de germes dentro do corpo, e ajuda a preservar a carne e os ossos.


Passo 3: Por fim, os monges se retiravam para uma câmara subterrânea ligada à superfície por um minúsculo tubo de bambu para respirar. Lá, eles meditavam até a morte, quando eram selados em sua tumba. Após 1.000 dias, eram desenterrados e limpos. Se o corpo estivesse bem preservado, o monge era considerado uma múmia viva.


Infelizmente, a maioria dos que tentaram a auto-mumificação foi vencida, mas os poucos que conseguiram, alcançaram o status de Buda e foram consagrados em templos. Somente duas dúzias dessas múmias estão sob o cuidado dos templos no norte de Honshu. O governo japonês baniu a prática da auto-mumificação no final do século 19.


Fonte: Pink Tentacle

Um comentário:

Alyson disse...

Fascinante essa matéria!Nem sabia deste curioso aspecto da cultura japonesa!

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