O grupo mais belo e esquisito de répteis pré-históricos do Brasil tem um novo integrante. Trata-se do Tupuxuara deliradamus, um pterossauro cujas asas podem ter medido 4,5 m de ponta a ponta e que sobrevoava a região de Santana do Cariri, no sul do Ceará, há mais de 100 milhões de anos.
O bicho foi descrito pelo paleontólogo Mark Witton, da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), em artigo na revista científica "Cretaceous Research", e mostra que a diversidade de répteis voadores no Ceará da Era dos Dinossauros provavelmente era grande.
Rombo
Afinal, essa já é a terceira espécie do gênero Tupuxuara a ser descoberta pelos cientistas. O T. deliradamus se diferencia das demais, entre outras coisas, por causa do formato peculiar de uma abertura em seu crânio, a chamada fenestra nasoantorbital.
O buraco tem forma que lembra um diamante --daí o nome de espécie deliradamus, uma tentativa de dizer "diamante louco" em latim.
O que, aliás, explica tudo: como fã da banda de rock progressivo Pink Floyd, Witton resolveu dar ao bicho um nome que ecoasse a canção "Shine on you crazy diamond" ("Brilhe, seu diamante louco"), a qual, por sua vez, homenageia o primeiro líder da banda, Syd Barrett (1946-2006).
No auge do sucesso, Barrett surtou e abandonou o grupo. "Conversei com um amigo enquanto estudava o fóssil, e nós dois concordamos que a homenagem era a coisa certa a fazer", diz Witton.
Além das asas avantajadas e do "bico" sem dentes, os pterossauros do gênero Tupuxuara, assim como seus primos próximos, do gênero Thalassodromeus, são caracterizados por imensas cristas ósseas no alto da cabeça. A função desse tipo de cocar nos bichos extintos ainda não está clara.
Alguns pesquisadores, como o brasileiro Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), postularam que a crista era uma espécie de radiador.
Cortada por uma densa rede de vasos sanguíneos, ela seria responsável por dispersar o calor do corpo dos bichos durante o voo.
Witton, porém, não aposta nessa interpretação. "Uma coisa que notamos é que essa rede de vasos está apenas na superfície da crista, não chega ao fundo dela.
Isso indica que ela não era boa para transportar o calor dos órgãos internos para fora e vice-versa", diz.
"Por outro lado, vemos que a crista só fica realmente grande em indivíduos maduros. Isso sugere que ela podia ser um sinal de maturidade sexual", avalia.
Diplomacia fóssil
O fóssil que permitiu a descrição da nova espécie --um crânio parcial e uma mandíbula também parcial-- estava depositado na Universidade de Portsmouth e agora passará uma temporada na Alemanha. Isso levanta uma questão espinhosa: o que o material está fazendo fora do Brasil?
Trata-se, na verdade, de um problema crônico. Museus do Primeiro Mundo adquirem sem problemas os fósseis de atravessadores, uma vez que não reconhecem a legislação que impede a saída desse material do Brasil sem autorização.
"Acho que precisamos de mais colaboração internacional. Seria possível trabalharmos junto com os cientistas do país de origem dos fósseis", diz Witton.
Fonte: Folha Online
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