Para muitos astrônomos, o ataque frontal da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) à Lua terminou de maneira chocha na última sexta-feira.
O veículo de observação Lunar Crater Remote Observation and Sensing Satellite (LCROSS) colidiu com a Lua perto de seu polo sul, como planejado, mas o choque não resultou em um jato brilhante de detritos, como eles esperavam.
No entanto, os cientistas que controlam a missão afirmam que um clarão térmico foi avistado, bem como uma cratera, de cerca de 20 metros de diâmetro, aparentemente causada pelo impacto.
Eles se entusiasmaram mais com uma pequena alteração de brilho registrada por um espectrômetro, a qual poderia sinalizar a presença de água, que alguns cientistas acreditam possa existir em forma de gelo no fundo da cratera que foi o alvo da colisão.
"Quando vi o espectro luminoso gerado pela colisão eu logo percebi que havia alguma coisa ali", disse Anthony Colaprete, o diretor científico da missão LCROSS, em entrevista coletiva concedida horas depois do impacto.
A missão consistia de dois elementos: o estágio superior vazio de um foguete Atlas V Centaur, com peso de 2,3 mil quilos, e uma "espaçonave de acompanhamento" carregada de câmeras de sensores, que seguiu o estágio do Centaur a uma distância de quatro minutos, em sua rota de colisão.
O alvo era a cratera de Cabeus, que os cientistas esperam contenha alto teor de gelo em estado de profundo congelamento em uma área que fica em sombra permanente.
Duas semanas atrás, Colaprete decidiu ordenar uma mudança de rota de último minuto, e Cabeus foi escolhida como alvo para a colisão, depois que o Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), um veículo orbital da Nasa que tinha missão complementar à do LCROSS, detectou indícios de presença ampliada de hidrogênio no interior da cratera.
A sequência de impacto foi acompanhada não apenas por meio de telescópios posicionados no espaço, tais como os do LRO e o Telescópio Espacial Hubble, mas também por centenas de telescópios profissionais e amadores posicionados na América do Norte, onde as condições celestes eram em geral propícias.
Mas nenhum dos observatórios envolvidos, nem mesmo os telescópios de 10 metros do W. M. Keck Observatory, no Havaí, reportaram ter observado de imediato um jato de destroços.
Colaprete afirma que a aparente ausência desse fato de destroços talvez se relacione ao ângulo com que o LCROSS atingiu a superfície ou à rigidez do material que compõe a crosta lunar na área, que pode tanto ser solo lunar macio como uma porção rochosa sólida da superfície. Mas ele informou que o LCROSS claramente colidiu com alguma coisa.
"Nós vimos uma cratera, nós vimos um clarão, e com certeza alguma coisa deve ter acontecido para causar essas duas coisas", ele disse. "Não estou convencido de que não tenhamos registrado imagens de fato de detritos ejetados".
Em Washington, centenas de pessoas - uma mistura de funcionários da Nasa, assessores do Congresso e pais acompanhados de seus filhos - estavam reunidos no saguão do museu de mídia Newseum para assistir a uma transmissão ao vivo do impacto, em um telão de 10 metros de largura.
Buzz Aldrin, um dos tripulantes da missão Apollo 11, a primeira a levar um homem à Lua, assistia sentado e em silêncio, enquanto um menino vestido em um macacão alaranjado da Nasa dobrava o seu panfleto, intitulado "vamos levantar poeira na Lua", para fazer um aviãozinho de papel.
Charles Bolden, o administrador da Nasa, apanhou uma xícara de café e subiu ao balcão, para conseguir visão melhor do telão.
Enquanto o momento do impacto se aproximava, a plateia se mantinha silenciosa, sem saber exatamente o que deveria observar, e em que porção da tela.
Um clarão branco ocupou a tela por um instante, e a imagem em seguida passou a ser um panorama colorido de baixa definição, obtido por uma câmara infravermelha.
"Bacana", comentou Bolden, ainda que ele não soubesse ao certo o que havia acabado de ver. Talvez fosse o impacto em uma imagem infravermelha? "Havia um grande ponto vermelho", ele disse.
E, com isso, a festa do LCROSS acabou. A plateia aplaudiu e deixou o museu em silêncio. Alguém perguntou a Bolden se era importante para o sucesso de missões científicas que elas apresentassem um componente dramático.
"Precisamos preparar o público, de maneira a que eles saibam o que devem esperar", respondeu. "É preciso administrar as expectativas".
Fonte: Terra
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