sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Biólogos mapeiam diferenças no DNA entre raças de cães



A pele enrugada do shar-pei, o tamanho compacto do poodle toy e várias características marcantes dos cachorros de raças domésticas estão sendo mapeadas.

No mais abrangente estudo já feito sobre o DNA dos cães, pesquisadores vasculharam o código genético de 275 animais de dez raças diferentes e identificaram alguns genes responsáveis pela aparência desses animais.

O resultado do trabalho, descrito em um estudo publicado nesta terça-feira (12) na revista "PNAS", mostra as marcas da interferência humana no DNA dos cachorros.

Durante séculos, as técnicas de criação e reprodução canina têm produzido animais moldados de acordo com a vontade dos humanos.

Essas alterações não são necessariamente favoráveis aos bichos, mas, por meio de seleção artificial, foram incorporadas às raças.

Os cães de raça acabaram virando uma ótima plataforma de estudos para geneticistas, pois variam muito de características.

Um estudo americano do ano passado, por exemplo, já tinha mapeado as diferenças de pelagem entre os cachorros.

"Os cães são um objeto de estudo fantástico, porque têm uma das maiores variações de fenótipos [características manifestas] entre os mamíferos", disse à Folha o líder da pesquisa na "PNAS", Joshua Akey, da Universidade de Washington.



DNA responsável


A partir da análise de mais de 3.500 amostras de DNA, os cientistas identificaram 155 regiões do genoma dos cachorros que, potencialmente, seriam responsáveis por traços característicos, como a cor do pelo e o tamanho das patas.

Ao cruzar as informações, eles avaliaram a incidência das combinações genéticas e os efeitos que elas causam sobre as raças.

Embora preliminares, os resultados sugerem que a maioria dos aspectos marcantes das raças seriam causados por um gene específico, ou por um pequeno grupo deles.

"Isso é um passo importante, porque mostra que os criadores deram novos atributos a seus cachorros simplesmente recrutando uns poucos genes responsáveis por esses traços em outras raças", avalia Mark Neff, da Universidade da Califórnia em Davis, que coordenou a análise.

Alguns dos grupos mapeados, que reuniam em média 11 genes, foram achados em raças parecidas. Por isso, os cientistas atribuem a eles os aspectos gerais da composição física dos cães.


Miniatura


A aparência de miniatura dos animais do grupo toy, por exemplo, adviria de uma variação do gene IGF1, que influencia suas dimensões.

Outros genes têm efeito exclusivo em certas raças. Uma variação do gene HAS2, por exemplo, causa o enrugamento da pele do shar-pei.

Uma das descobertas mais importantes do estudo, segundo os cientistas, foi a correspondência da ação de certos genes também em humanos.

O gene HAS2, nas pessoas, provoca deformações graves na pele. As mesmas variações no gene HGMA2, apontado pelos cientistas como possível responsável pela regulação do tamanho do dachshund, também causam nanismo no homem.

Como os cães vivem no mesmo ambiente e, muitas vezes, sofrem das mesmas doenças que as pessoas, o estudo de suas características pode ajudar na pesquisa sobre doenças humanas, dizem os cientistas.

"A descoberta da localização e da função dos genes nos cães ajuda a identificá-los no homem e foi uma das nossas motivações", afirma Akey.


Fonte: Folha Online


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