Arqueólogos na África do Sul descobriram a mais antiga evidência de humanos usando pirotecnologia para dar forma aos seus instrumentos de pedra.
Pontas de flecha e outros instrumentos da Idade da Pedra podem não parecer tão importantes para um olhar leigo, mas tente construí-los e você descobrirá quão difícil o processo pode ser.
Durante anos de esforços tentando fazer réplicas das lâminas de pedra escavadas na ponta sul da África, o ferramenteiro moderno Kyle Brown – assim como os primeiros seres humanos existentes antes dele – tropeçava no ingrediente que faltava: o fogo.
A maior parte dos arqueólogos acreditava que os humanos desenvolveram a pirotecnologia – uso controlado do fogo – na Europa, há cerca de 25 mil anos.
No entanto, a descoberta de Brown, publicada na Science, arrasta essa data para pelo menos 72 mil anos atrás – e possivelmente para até 164 mil.
As novas constatações complementam outras descobertas, como as de colares de conchas e pigmentos ocre, revelando a avançada capacidade técnica dos primeiros humanos modernos, que surgiram entre 150 mil e 200 mil anos atrás.
Em 2006, Brown, estudante de doutorado da University of Cape Town, na África do Sul, começou a buscar por afloramentos de rochas que tivessem o mesmo silcrete (material duro formado de sílica dissolvida) encontrado nas ferramentas escavadas nos sítios arqueológicos em Pinnacle Point.
Em conjunto com seus colegas, Brown fez aproximadamente dez viagens até o campo, transportando as rochas pesadas de volta para o laboratório e esmagando-as na tentativa de recriar as lâminas de pedra.
“Ocorreram várias falhas”, afirma. A rocha nunca lascava da forma apropriada e as ferramentas produzidas eram maiores e mais grossas do que as antigas.
“Chegamos a um ponto em que havíamos percorrido boa parte da paisagem e não encontrávamos nenhuma rocha apropriada”, recorda Brown.
A equipe, no entanto, havia recentemente escavado ferramentas de silcrete que apresentavam brilho de polimento e se pareciam muito com os instrumentos termicamente tratados dos indígenas americanos, já conhecidos pelos pesquisadores.
Em 2007 esses investigadores também encontraram um grande pedaço de silcrete incrustado de cinzas. “Por desespero”, conta Brown, “coloquei o material em uma chama de fogo”.
Ele enterrou o silcrete em areia, ateou fogo em cima, elevou a temperatura a 300°C por aproximadamente oito horas e então cozinhou esse material por outras oito.
Quando puxou para fora da areia, as rochas lascaram facilmente e apresentaram um brilho lustroso bastante similar ao dos artefatos de silcrete.
Brown, 36, cresceu em São Francisco e começou a fabricar utensílios de pedra ainda adolescente. Seu pai, biólogo de campo, o levou para realizar estudos ecológicos no Vale do Napa, Califórnia, onde o pesquisador coletou vidro vulcânico e tentou copiar as pontas de flecha que encontrou na região.
“Eu não era muito bom naquilo”, admite. Anos mais tarde, já aluno da University of California, Berkeley, um ferramenteiro lhe deu instruções e ele foi fisgado.
Agora, Brown tem algo a nos ensinar, algo que os primeiros Homo sapiens descobriram dezenas de milhares de anos atrás.
Fonte: Scientific American
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