segunda-feira, 31 de maio de 2010

Na UnB, disco voador e astrologia têm status de ciência

Professor Álvaro Luiz Tronconi


Na pequena sala do professor Álvaro Luiz Tronconi, no prédio principal da Universidade de Brasília, misturam-se livros-texto de suas duas especialidades: física da matéria condensada e percepção extrassensorial.

Doutor em física pela Universidade de Oxford, Reino Unido, Tronconi coordena um grupo de uma dezena de docentes que se reúnem para estudar fenômenos que supostamente existem, mas que estão fora do alcance da ciência "tradicional".

Fundado em 1989, o Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais da UnB promove pesquisas e cursos em quatro áreas: astrologia, ufologia, conscienciologia (relacionada aos potenciais do cérebro humano) e terapias integrativas (propondo novas abordagens na medicina).

Um curso de percepção extrassensorial, por exemplo, envolvia "acessar o mundo extrafísico". Um exercício ajudava a "ver assombração, acessar algo do passado, olhar algo do futuro".


"PRECONCEITO"


Tronconi diz que o núcleo já passou por vacas magras e gordas, dependendo do reitor. "Na atual administração o pessoal é menos radical", alegra-se o pesquisador.

Ele reclama de preconceito contra a área. Com frequência os comitês da UnB negam dinheiro para seu grupo. "Mas eles negaram sem julgar o mérito.

Sempre falaram que era bobagem, que a UnB não podia permitir aquilo porque ia colocar a universidade em descrédito."

Os órgãos de fomento federais também negam verba, fazendo com que o núcleo procure fundações estrangeiras interessadas na área.

Uma pena, diz. Esses conhecimentos poderiam ser úteis para a sociedade.

"Existe a astrologia médica, por exemplo. Aqui em Brasília você até encontra um ou outro médico que, quando você vai lá fazer o exame, ele pega seus dados e diz qual parte do seu corpo é mais vulnerável, o que pode ajudar no diagnóstico."

Ele diz que sensitivos poderiam também ajudar a polícia. Suas opiniões não deveriam servir como palavra em tribunais, diz, mas eles deveriam fazer parte das equipes de investigações.

"Algumas pessoas dizem que é charlatanismo, que é feitiçaria, que é coisa de quem tem distúrbio mental", diz. Mas, segundo ele, os alunos se interessam profundamente pelo assunto.

Entre as atividades de pesquisa recentes está a busca pela compreensão dos episódios de supostos aparecimentos de extraterrestres na Terra.

Uma outra pesquisa tenta mostrar que sensitivos podem dar diagnósticos precisos da doença de alguém.


PERSISTÊNCIA


O último trabalho de Tronconi envolveu levar seis deles para o hospital da UnB para adivinhar o que os pacientes tinham.

A conclusão foi que os sensitivos não conseguiam acertar mais do que um computador chutando doenças aleatórias.

Isso não é motivo para desistir das pesquisas, porém, diz Tronconi.

"Quando há um grande médium, um paranormal, a gente vê que ele é capaz de realizar certos fenômenos", diz.

"Mas chega uma hora que ele está cansado ou estressado e vai fazer uma demonstração. Então percebe que não vai dar conta e arruma um jeito de fazer usando um truque. Isso pode acabar com toda a reputação dele."

Álvaro Tronconi já era professor de física da UnB quando resolveu deixar o magnetismo de lado para estudar paranormalidades.

A mudança foi causada por uma entidade bem deste mundo: uma vértebra. Ela doía muito, e não havia médico que resolvesse.

Foi quando visitou, "a contragosto", uma feira mística em Brasília, e conheceu "bruxos que diziam fazer curas". Descobriu que técnicas pouco ortodoxas eram capazes de reduzir a sua dor.

Segundo ele, só se convenceu que tudo aquilo funcionava quando, com a ajuda de uma massagista, utilizou técnicas de energização contra o seu problema na vértebra.

A sessão durou "uns 30 ou 40 minutos, com ela descrevendo o que estava vendo. Dizendo que sua mão tinha gelado, que estava vendo um extraterrestre jogando uma luz na minha hérnia. Até que disse que eu estava curado."

Os médicos fizeram uma ressonância magnética e confirmaram que ele, por algum motivo, estava melhor.

Ele, então, se interessou em fazer pesquisa na área.


FOTO DA AURA


"Como explicar quando você pensa em uma tia que não vê há dez anos, sonha com ela, e de repente alguém bate na porta e é ela?"

Fez, então, vários cursos. Participou de um workshop de regressão e de um de terapia vibracional (nível 1 e 2 de método Reiki, "um sistema natural de harmonização e reposição energética que recupera a saúde", segundo um site especializado).

Fez ainda uma oficina de autossuficiência energética, e estudou interpretação de fotos Kirlian, que permitiriam ver a aura humana. Apesar de não ser sua especialidade, estudou também astrologia (só o nível básico).

Agora, além do trabalho como pesquisador, atua também como terapeuta. "Já conduzi 260 regressões a vidas passadas", diz. "É um baita de um processo terapêutico."


Fonte: Folha.com

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