Palestra de Mônica, postada no YouTube, divulga a "medicina extraterrestre"; médica diz que não mistura atividade profissional e religiosa
Conceito não reconhecido prega que seres de outros planetas podem curar humanos.
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) abriu processo de sindicância para apurar as atividades da médica cirurgiã Mônica de Medeiros, que propaga o conceito da “medicina extraterrestre” pelo país e diz ter contato com seres de outros planetas que fazem cirurgias em humanos.
Consultora de uma revista de ufologia (estudo de objetos voadores não identificados), Mônica, que se diz médium, é diretora do centro espiritualista Casa do Consolador, localizado na zona sul de São Paulo, onde dá cursos que vão do reiki à umbanda.
Em vídeos encontrados no YouTube, Mônica afirma que vê extraterrestres desde a infância e convive com eles.
A investigação foi aberta pelo conselho em 18 de junho. A atividade da médica chegou ao Cremesp por meio de uma reportagem publicada em um jornal de Araçatuba (SP) em agosto de 2009, que chamou a atenção dos conselheiros.
Segundo o Cremesp, um processo de sindicância é aberto quando a atividade parece infringir o Código de Ética Médica.
O Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Bioética não reconhecem o conceito desse tipo de tratamento.
Em entrevista ao R7, Mônica afirma que não foi informada sobre a sindicância e nega que alguém possa ter contato com seres extraterrenos.
- Você já viu alguém incorporar um extraterrestre? Nem eu, filha. Se você souber de alguém que faça isso, me avisa que eu quero assistir.
Isso não existe, nunca ouvi falar. Você tem a incorporação de espírito da terra de quarta dimensão e os extraterrestres não estão na quarta dimensão. Como é que alguém consegue incorporar um? Isso não tem lógica, não tem senso.
Vídeos encontrados no YouTube, entretanto, mostram a médica explicando como é realizada uma cirurgia feita por ETs. Em um telão, o termo “medicina extraterrestre” aparece em letras maiúsculas.
- Tem pessoas que eles [os extraterrestres] operam e temos casos fantásticos de cura. (...) A maioria nem sabe que é o extraterrestre que vai operar.
Você sente que a captação de energia ocorre. Eles estão preocupados em dar uma ferramenta para que a gente desperte.
Na mesma palestra, Mônica questiona se há médicos na plateia. Após uma resposta negativa, ela brincou com o público.
- Graças a Deus, não me levem ao CRM [como é conhecido o Cremesp].
Sirlene Moura Araujo, advogada de Mônica, disse que, ao entrar em contato com o Cremesp na última quarta-feira (7), foi informada de que não havia sindicância.
No mesmo dia, o conselho emitiu um documento, enviado para a reportagem do R7, que certifica a ausência de registros de condenação contra Mônica nos últimos cinco anos.
Entretanto, segundo o próprio órgão, Mônica ainda não foi avisada sobre a sindicância. De acordo com o conselho, a investigação pode durar seis meses para ser concluída e, havendo indício de infração, é aberto um processo de ética profissional.
Conflito de interesses
Para Volnei Garrafa, coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Bioética da UnB (Universidade de Brasília), qualquer pessoa tem direito de exercer sua mediunidade.
Mas, no caso de Mônica, há um conflito de interesses, pois existe a particularidade de usar o termo medicina de maneira religiosa em eventos ou artigos que informam que ela é médica.
- Ela tem o direito como cidadã de exercer o papel de médium, mas a profissão de médica tem outras regras e isso gera um problema que é o conflito de interesses.
Não dá para misturar a questão religiosa com a profissão. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Mônica diz que não alia a atividade profissional com a religiosa. Ao R7, afirmou que trabalha atualmente na “área administrativa da medicina”, sem dar detalhes sobre a empresa e o cargo. E no restante do tempo atende pessoas gratuitamente na Casa do Consolador.
Se comprovada a infração ética, Mônica pode recorrer ao Conselho Federal de Medicina ou sofrer penalidades, de advertências confidenciais à perda do registro médico.
Fonte: R7
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