quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mastigação de folhas de coca ocorre há 8 mil anos, dizem arqueólogos


Antigas sociedades peruanas começaram a mascar folhas de coca 8 mil anos atrás, apontam evidências arqueológicas.

Ruínas encontradas sob o piso de residências no vale Nanchoc, noroeste do Peru, continham coca mastigada e, junto dela, pedras ricas em cálcio.

Essas pedras teriam sido queimadas para fazer cal, mastigado com a coca para que esta liberasse mais de seus componentes químicos.

Segundo estudo publicado na revista especializada Antiquity por uma equipe de arqueólogos, as descobertas indicam que a mastigação da coca começou na região simultaneamente à adoção da agricultura e milhares de anos antes do que se pensava até então.


Alcaloides


As folhas de coca contêm diversos componentes químicos conhecidos como alcaloides. Nos dias atuais, o mais conhecido entre esses componentes é a cocaína, extraída e purificada por complexos processos químicos.

Mas a mastigação da folha de coca com fins medicinais é um hábito tão antigo quanto a própria civilização inca.

Outros alcaloides da coca têm efeitos levemente estimulantes, ajudam a reduzir a fome e participam do processo digestivo, além de mitigar os efeitos da falta de oxigênio em regiões de altitudes excepcionais.

Indícios prévios da mastigação da coca datavam de cerca de 3 mil anos atrás. Agora, o estudioso Tom Dillehay, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), e seus colegas encontraram amostras de folhas mastigadas que parecem ser de 8 mil anos atrás.

Dillehay disse à BBC News que se surpreendeu por ter identificado o uso da coca “não tanto em um contexto doméstico, como se fosse usada com frequência por muita gente.

Mas (identificamos) o uso restrito a algumas casas e a produção (da folha) em um contexto público, e não individualizado”.

Mas trata-se de uma dinâmica distinta com relação a outras sociedades ocidentais, “nas quais, se você tem os meios econômicos, ganha acesso a plantas medicinais”, disse Dillehay.


Debate


Mais do que prover novos dados arqueológicos sobre uma civilização antiga, a descoberta fomenta uma discussão em curso atualmente.

No momento em que há um esforço internacional para restringir a produção de coca nos países andinos por conta de sua associação com a cocaína, Dillehay faz um contraponto.

“Muitos argumentavam que (a mastigação da coca) é uma tradição histórica relativamente recente – ou seja, dos últimos séculos ou mil anos –, mas (as novas descobertas apontam que) é uma tradição com profundas raízes sociais, econômicas e até religiosas nos Andes”, opinou.

O editor do periódico especializado Journal of Ethnopharmacology Peter Houghton disse à BBC News que as novas descobertas são “significativas” por mostrar que o hábito ocorria milhares de anos antes do que se pensava anteriormente.

E também por encontrar folhas mastigadas e pedras ricas em cálcio nos mesmos locais (acreditava-se que o uso dessas pedras era ainda mais recente do que o da coca).

Que o consumo fosse restrito na época, como apontam as descobertas, não é algo surpreendente, comentou Houghton.

“As evidências de uso disseminado (da coca) no Peru e na Bolívia são relativamente recentes. Antes, (a folha) era limitada a uma classe privilegiada.”


Fonte: BBC

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