Uma análise de DNA de quatro humanos da Idade da Pedra, publicada na
última quinta-feira (26), revela como fazendeiros provavelmente migraram
para o norte da Europa a partir do Mediterrâneo e acabaram se
misturando com caçadores-coletores.
O estudo, realizado por uma equipe sueco-dinamarquesa e publicado na revista científica americana Science,
lança luz sobre um capítulo muito discutido da história humana: Como a
agricultura se disseminou do Oriente Médio para a Europa?
Os cientistas acreditam que a agricultura tenha se originado no Oriente
Médio por volta de 11.000 anos atrás e alcançou a maior parte da Europa
continental há cerca de 5.000 anos.
As últimas descobertas sugerem que técnicas de plantio foram
introduzidas por populações do sul que viviam na região do Mediterrâneo e
levaram seu conhecimento para os caçadores-coletores do norte.
Os cientistas chegaram a esta conclusão após o uso de análise avançada
de DNA em quatro restos mortais da Idade da Pedra na Suécia - um
fazendeiro e três caçadores-coletores - de cinco mil anos atrás.
Os estudiosos conseguiram diferenciá-los, em parte, pela forma como os
restos foram sepultados: o fazendeiro em uma tumba elevada de pedra
megalítica e os caçadores coletores, em covas rasas.
"Nós analisamos dados genéticos de duas diferentes culturas, uma de
caçadores-coletores e outra de fazendeiros, que coexistiram mais ou
menos na mesma época, a menos de 400 km de distância uma da outra",
explicou o autor do estudo, Pontus Skoglund.
A imagem divulgada pela Universidade de Uppsala, na Suécia, mostra um
esqueleto pertencente a uma jovem com 20 anos datado de 4.700 anos
atrás. Uma análise de DNA de quatro humanos da Idade da Pedra revelou
como fazendeiros provavelmente migraram para o norte da Europa a partir
do Mediterrâneo e acabaram se misturando com caçadores-coletores. O
resultado dessa miscigenação é a população europeia moderna, que mostra
fortes influências genéticas dos fazendeiros imigrantes da Idade da
Pedra, embora alguns genes de caçadores-coletores tenham permanecido Goran Burenhult/AFP
"Após comparar nossos dados com os de populações de humanos modernos da
Europa, nós descobrimos que os caçadores-coletores da Idade da Pedra
estavam fora da variação genética das populações modernas, porém mais
próximos dos indivíduos finlandeses, e que o fazendeiro que analisamos
combinava estreitamente com as populações mediterrâneas", acrescentou.
Este dado produz a imagem de uma migração de culturas de fazendeiros
que levaram seus plantios e expertise de semeadura e acabaram se
misturando aos locais, ensinando-os como cultivar a própria comida.
"O perfil genético do fazendeiro da Idade da Pedra combinava com o de
pessoas que atualmente vivem nas adjacências do Mediterrâneo, em Chipre,
por exemplo", explicou Skoglund, estudante da Universidade de Uppsala,
na Suécia.
"Os resultados sugerem que a agricultura se espalhou pela Europa, em
conjunto com uma migração das pessoas", acrescentou Skoglund.
"Se a agricultura tivesse se disseminado exclusivamente como processo
cultural, não esperaríamos ver um fazendeiro no norte com tal afinidade
genética com as populações do sul", emendou.
O co-autor da pesquisa, Mattias Jakobsson, também da Universidade de
Uppsala, disse que os dois grupos "tinham heranças genéticas totalmente
diferentes e viveram lado a lado por mais de mil anos até finalmente se
miscigenarem".
O resultado é a população europeia moderna, que mostra fortes
influências genéticas dos fazendeiros imigrantes da Idade da Pedra,
embora alguns genes de caçadores-coletores tenham permanecido, afirmaram
os cientistas.
O estudo foi financiado pelo Conselho Nacional Dinamarquês de Pesquisa,
pela Academia Real de Ciências Sueca e pelo Conselho de Pesquisas
Sueco, assim como por instituições privadas.
Fonte: UOL
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