A figura do Cristo crucificado da área residencial de Irla na cidade indiana de Bombaim, da qual flui a água, numa imagem de 18 de maio de 2012
Um crucifixo do qual sai água provocou na Índia um conflito entre
católicos - para os quais se trata de um milagre - e um militante da
ciência que pode ser preso, acusado de blasfêmia, por considerar que se
trata apenas de um problema de encanamento rompido.
Em março, milhares de católicos fervorosos partiram em romaria até o
subúrbio de Mumbai para beber a água que saía dos pés de um Cristo
crucificado, convencidos de que se tratava de um líquido milagroso e
purificador.
Após examinar o vazamento, o presidente da Associação
Racionalista Indiana afirmou que o mesmo representava um risco à saúde
de quem bebesse a água, o que provocou a ira de grupos religiosos. Uma
denúncia que o acusa de "propagar o veneno anticatólico" foi apresentada
em Mumbai, o que poderia lhe custar três anos de prisão por blasfêmia.
"Não tentem fazer a Índia voltar ao obscurantismo", alertou
Sanal Edamaruku, 56, em um debate na TV. Um de seus detratores é Joseph
Dias, secretário-geral do fórum secular católico-cristão. Em um
comunicado enviado à AFP, Dias nega que o vazamento de água tenha sido apresentado como um milagre, mas refuta a teoria de Edamaruku.
Oficialmente, a Índia é um país laico, mas a blasfêmia continua
sendo crime no imenso país de maioria hindu, composto por importantes
minorias étnicas e religiosas (budistas, cristãos e muçulmanos).
Evocando o direito à liberdade de expressão, os advogados de
Sanal Edamaruku pretendem recorrer ao Supremo Tribunal, para que o mesmo
se pronuncie sobre esta disposição do Código Penal, que data da época
colonial.
Edamaruku compara a reação dos católicos indianos a dos
fundamentalistas islâmicos, que condenaram à morte o escritor Salman
Rushdie após a publicação de "Versos Satânicos", em 1988.
Rushdie, cujo livro é proibido na Índia por insultar o islã,
denunciou recentemente, em Nova Délhi, o "fanatismo religioso" que, em
janeiro, impediu que ele participasse da maior feira do livro indiana,
em Jaipur.
"Sempre disse que há duas Índias: a do século XXI, que é
progressista, moderna e científica, e a do século XVII, que nos faz
retornar a épocas obscuras de intolerância, hipocrisia e superstição",
criticou Edamaruku.
Ele conhece bem a polêmica. Sua associação, que contabiliza mais
de 100 mil membros em um país de 1,2 bilhão de habitantes, foi criada
em 1949 para promover o debate científico em todos os âmbitos da vida.
Há 30 anos, gurus autoproclamados surgem na Índia, acumulando
uma fortuna graças a seus fiéis. Edamaruku atacou em particular o
célebre Sai Baba, que milhões de indianos consideravam um deus, dotado
de poderes sobrenaturais. Quando ele morreu, foram encontrados em sua
casa quase 100kg de ouro e 2 milhões de dólares em dinheiro.
Fonte: Terra
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