Novos estudos revelam que todos têm DNA arcaico, como o neandertal.
Até
pouco tempo atrás, a História do homem moderno era considerada simples e
direta: há cerca de 60 mil anos, um grupo de Homo sapiens deixou seu
berço na África Subsaariana, subindo o Rio Nilo rumo ao Oriente Médio e
Europa, e iniciou a ocupação do resto do planeta, gradualmente levando à
extinção espécies mais arcaicas, como os neandertais.
Estudos recentes,
no entanto, não só apontam que a migração do homem moderno a partir da
África começou muito mais cedo do que se pensava como ele conviveu — e
até se relacionou — com outras espécies de hominídeos, o que deixou
traços que podem ser encontrados em seus genes até hoje.
Uma série
de artigos publicados na edição desta semana da revista “Nature” resume
este novo roteiro sobre as origens do ser humano moderno e como ele se
espalhou pela Terra.
Chris Stringer, pesquisador do Museu de História
Natural de Londres, destaca que praticamente todas as pessoas vivas hoje
carregam em seu DNA as marcas da miscigenação do Homo sapiens com seus
irmãos mais antigos, como os neandertais.
DNA neandertal em americanos
Os
europeus e americanos, por exemplo, teriam 2,5% de seus genes vindos
dos neandertais, enquanto as populações aborígenes da Austrália e Nova
Guiné somariam ainda 5% de genes dos chamados denisovans, outra espécie
arcaica de hominídeos recém-descoberta que habitou cavernas na Mongólia
dezenas de milhares de anos atrás.
Por fim, os próprios povos atuais da
África Subsaariana carregam 2% de DNA arcaico de origem ainda
desconhecida. Segundo Stringer, isso ajudaria a explicar as variações
regionais desenvolvidas pela nossa espécie sem, no entanto, significar
que algumas seriam melhores ou mais desenvolvidas do que outras.
“Aqueles
com agendas alternativas podem tentar usar estes dados para classificar
populações humanas modernas em termos de diferentes graus de
modernidade”, alerta o pesquisador em seu artigo na “Nature”.
“Alguns de
nós podem ter mais DNA de populações arcaicas do que outros, mas a
grande maioria de nossos genes, morfologia e comportamento derivam de
nossa herança africana comum. Por isso, o que nos une deve ter
precedência sobre o que nos diferencia uns dos outros”, defende.
Além
do desenvolvimento das tecnologias de sequenciamento de DNA, que
permitiu esse levantamento da herança genética, descobertas
arqueológicas recentes estão permitindo montar uma nova história sobre
como ele dominou o planeta.
Ao contrário do que se achava, a migração do
homem moderno da África para o resto da Terra não foi um movimento
único e linear, e sim uma sucessão de ondas em várias direções, com
consequentes encontros.
Para o Oriente, o êxodo teria começado até 125
mil anos atrás, bem antes do que se imaginava, sugerem ferramentas
achadas na Península Arábica e na Índia. Os objetos — punhais e
raspadores — estavam cercados de cinzas que teriam vindo da gigantesca
erupção do vulcão Toba, na Ilha de Sumatra, que os geólogos calculam ter
ocorrido há pelo menos 74 mil anos.
Depois de atravessarem o Mar
Vermelho, esses Homo sapiens teriam seguido duas rotas. Uma delas, pelo
litoral, os teria levado até o que é hoje a Austrália, enquanto a outra
teria seguido pelo interior da Ásia, levando ao encontro com os
denisovans.
Embora bem mais recente, a ocupação da América também
teria começado pelo menos mil anos mais cedo do que se pensava.
Era
consenso entre os pesquisadores que o homem moderno teria chegado ao
continente há cerca de 13 mil anos. Em Monte Verde, no Chile, restos de
um acampamento já sugerem que o Homo sapiens vivia na região há pelo
menos 14,6 mil anos.
Fonte: O Globo Online
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