segunda-feira, 7 de maio de 2012

História do homem reescrita




Novos estudos revelam que todos têm DNA arcaico, como o neandertal.

Até pouco tempo atrás, a História do homem moderno era considerada simples e direta: há cerca de 60 mil anos, um grupo de Homo sapiens deixou seu berço na África Subsaariana, subindo o Rio Nilo rumo ao Oriente Médio e Europa, e iniciou a ocupação do resto do planeta, gradualmente levando à extinção espécies mais arcaicas, como os neandertais. 


Estudos recentes, no entanto, não só apontam que a migração do homem moderno a partir da África começou muito mais cedo do que se pensava como ele conviveu — e até se relacionou — com outras espécies de hominídeos, o que deixou traços que podem ser encontrados em seus genes até hoje.


Uma série de artigos publicados na edição desta semana da revista “Nature” resume este novo roteiro sobre as origens do ser humano moderno e como ele se espalhou pela Terra. 


Chris Stringer, pesquisador do Museu de História Natural de Londres, destaca que praticamente todas as pessoas vivas hoje carregam em seu DNA as marcas da miscigenação do Homo sapiens com seus irmãos mais antigos, como os neandertais.


DNA neandertal em americanos


Os europeus e americanos, por exemplo, teriam 2,5% de seus genes vindos dos neandertais, enquanto as populações aborígenes da Austrália e Nova Guiné somariam ainda 5% de genes dos chamados denisovans, outra espécie arcaica de hominídeos recém-descoberta que habitou cavernas na Mongólia dezenas de milhares de anos atrás. 


Por fim, os próprios povos atuais da África Subsaariana carregam 2% de DNA arcaico de origem ainda desconhecida. Segundo Stringer, isso ajudaria a explicar as variações regionais desenvolvidas pela nossa espécie sem, no entanto, significar que algumas seriam melhores ou mais desenvolvidas do que outras.


“Aqueles com agendas alternativas podem tentar usar estes dados para classificar populações humanas modernas em termos de diferentes graus de modernidade”, alerta o pesquisador em seu artigo na “Nature”.


“Alguns de nós podem ter mais DNA de populações arcaicas do que outros, mas a grande maioria de nossos genes, morfologia e comportamento derivam de nossa herança africana comum. Por isso, o que nos une deve ter precedência sobre o que nos diferencia uns dos outros”, defende.


Além do desenvolvimento das tecnologias de sequenciamento de DNA, que permitiu esse levantamento da herança genética, descobertas arqueológicas recentes estão permitindo montar uma nova história sobre como ele dominou o planeta. 


Ao contrário do que se achava, a migração do homem moderno da África para o resto da Terra não foi um movimento único e linear, e sim uma sucessão de ondas em várias direções, com consequentes encontros. 


Para o Oriente, o êxodo teria começado até 125 mil anos atrás, bem antes do que se imaginava, sugerem ferramentas achadas na Península Arábica e na Índia. Os objetos — punhais e raspadores — estavam cercados de cinzas que teriam vindo da gigantesca erupção do vulcão Toba, na Ilha de Sumatra, que os geólogos calculam ter ocorrido há pelo menos 74 mil anos.


Depois de atravessarem o Mar Vermelho, esses Homo sapiens teriam seguido duas rotas. Uma delas, pelo litoral, os teria levado até o que é hoje a Austrália, enquanto a outra teria seguido pelo interior da Ásia, levando ao encontro com os denisovans.


Embora bem mais recente, a ocupação da América também teria começado pelo menos mil anos mais cedo do que se pensava. 


Era consenso entre os pesquisadores que o homem moderno teria chegado ao continente há cerca de 13 mil anos. Em Monte Verde, no Chile, restos de um acampamento já sugerem que o Homo sapiens vivia na região há pelo menos 14,6 mil anos.


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