Uma cobra marrom de árvores é caçada em uma floresta de Guam
A ilha de Guam, território americano no oeste do
oceano Pacífico, foi invadida por uma espécie de cobra que, em apenas 60
anos, conseguiu se reproduzir e atingir uma população total de dois
milhões. As cobras agora ameaçam a fauna local.
A cobra marrom de árvores tem cerca de um metro
de comprimento, uma cor amarela intensa na parte de baixo e vive na
densa floresta tropical que cobre a ilha.
O território americano no Pacífico tem apenas 50 quilômetros de
comprimento e dez quilômetros de largura, mas abriga os 2 milhões de
exemplares da espécie, considerada uma das mais bem-sucedidas espécies
invasoras.
"Acreditamos que elas chegaram no final da
Segunda Guerra Mundial. (...) Parece que elas vieram da ilha de Manus,
na Papua Nova Guiné", afirmou o biólogo James Stanford, do US Geological
Survey.
O biólogo explica que o equipamento usado pelos
Estados Unidos na Papua Nova Guiné, durante as batalhas da Segunda
Guerra Mundial na região do Pacífico, foram enviados para a ilha de
Guam. Uma destas cobras provavelmente foi junto em um navio ou avião.
"E daquelas poucas, ou talvez até de apenas uma
(fêmea) já fecundada, agora temos uma população em uma escala que é
inacreditável", acrescentou.
Rede elétrica
O veneno destas cobras é fraco, mas, mesmo assim, elas causam muitos problemas. As cobras conseguem chegar a todos os lugares e os moradores da ilha são acordados pelo movimento dos animais em suas camas.
O sistema de fornecimento de energia elétrica da
ilha sofre regularmente com a invasão das cobras na rede de
distribuição, causando blecautes que já foram apelidados de "cortes
marrons", em referência ao nome da cobra.
Mas, o maior impacto é entre os outros animais nativos da ilha, que estão sendo dizimados.
Um exemplo é uma ave nativa de Guam, o koko.
Atualmente, esta ave pode ser vista na ilha apenas em gaiolas, em um
centro de reprodução da espécie.
Cheryl Calaustro trabalha no centro de reprodução das aves nativas koko
"A cobra marrom de árvores teve um impacto
devastador. Dez entre 12 espécies nativas de aves desapareceram em 30
anos", afirmou Cheryl Calaustro, do Departamento de Agricultura de Guam.
"As aves evoluíram sem predadores. Eram bem
ingênuas. E, quando a cobra chegou a Guam, comeu ovos, filhotes e
adultos. Gerações inteiras desapareceram", acrescentou. No entanto, as cobras não pararam apenas nas aves.
"Nós pensamos que seria limitado. 'Ok, se acabar
com as aves, (a população de cobras) vai cair'. Mas não foi este o
caso, elas apenas trocaram de alimento - roedores, lagartos, pequenos
mamíferos", explicou James Stanford.
Armas diferentes
Os moradores estão enfrentando as cobras com
armas diferentes. Uma das operações é lançar de helicópteros camundongos
contaminados com veneno e equipados com paraquedas, que servirão de
alimento para as cobras.
"No momento estamos usando o acetaminofeno
(paracetamol). Geralmente é usado como analgésico e antitérmico em
humanos, mas é 100% letal em todas as cobras marrons de árvores", disse
Dan Vice, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
O governo americano está tentando acabar com as
cobras e também tentando evitar que o problema se espalhe. Para isso,
eles contam com a ajuda de pequenos cães da raça Jack Russel terrier.
Elmo trabalha nos depósitos de cargas de Guam (foto: Rebecca Morelle)
Um deles é Elmo, que pode ser visto trabalhando
com seu uniforme verde, farejando caixas em depósitos movimentados perto
do aeroporto de Guam, procurando pelas cobras.
Se Elmo consegue captar algum cheiro diferente no depósito, ele
alerta um dos inspetores do governo americano e ganha sua recompensa.
O cão trabalha com outros da mesma raça, um
pequeno exército destes animais, todos farejando cada uma das cargas que
vão sair da ilha.
"É um projeto monumental. Estamos trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana", disse Vice.
Impacto econômico
Deixar que uma cobra embarque em um avião poderia ter consequências devastadoras. "Pesquisadores em economia tentaram prever o
impacto destas cobras no Havaí. Eles descobriram que poderia custar US$
400 milhões ou mais se esta cobra se estabelecesse (no Havaí)", afirmou
Dan Vice.
"Os impactos ocorrem em todas as áreas da
economia. Incluindo o sistema de saúde, pois as cobras atacam as
pessoas, os danos ao sistema de energia elétrica, a queda de rendimentos
devido ao declínio do turismo e do ecoturismo."
O temor é que seja tarde demais para acabar com a
infestação destas cobras, mas Vice afirma que isto não impedirá que os
moradores tentem erradicar a espécie. "Nosso objetivo no longo prazo é erradicar a cobra", disse.
"Os problemas aqui são tão profundos que não
queremos que eles se espalhem para nenhum outro lugar, e a única forma
de conseguir isto é erradicá-los completamente."
Fonte: BBC
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