segunda-feira, 9 de julho de 2012

Hitler protegeu jurista judeu pessoalmente, diz historiadora

Hitler (o primeiro à direita) e Hess foram destacados para a frente de Flandres, no outono de 1914, servindo no que ficou conhecido como o "Regimento List 'até 1918



Uma historiadora alemã sustenta que Adolf Hitler defendeu pessoalmente um jurista judeu, seu antigo superior militar na I Guerra Mundial, e o protegeu, pelo menos temporariamente, da perseguição nazista, segundo um relatório publicado na quarta-feira pelo jornal 'Jewish Voice from Germany'.


Segundo a especialista Susanne Mauss, Ernst Hess trabalhava como juiz em Düsseldorf e tinha sido comandante da companhia na qual Hitler combateu na I Guerra Mundial. Ele esteve a salvo até 1941 graças à intervenção pessoal em seu favor do ditador nazista.


O caso está documentado em uma carta datada de agosto de 1940 do comandante das SS, Heinrich Himmler, na qual ordenava todas as autoridades nazistas a 'deixar Hess tranquilo, em todos os sentidos, segundo o desejo do 'Führer'.


Durante a desapropriação de bens pertencentes a judeus em favor de cidadãos de origem 'ariana', Hess (1890-1983) foi suspenso como juiz, depois se mudou com sua família em 1936 para Bolzano, no Tirol italiano, afirma a historiadora.


Ernst Hess comandante de Adolf Hitler na Primeira Guerra Mundial foi, apesar de suas raízes judaicas, poupado do genocídio desencadeado pelos nazistas



Segundo a carta de Himmler, Hess entrou em contato com Hitler através de um companheiro de guerra em comum, o capitão Fritz Wiedemann, que entre 1934 e 1939 foi ajudante do ditador.


Também por carta, Hess, convertido ao protestantismo, pedia para ser considerado, segundo as leis raciais de Nuremberg, como cidadão 'semi-judeu' e não inteiramente judeu.


Embora Hitler tenha rejeitado a solicitação, ordenou às autoridades através de Himmler para transferir a pensão de Hess para a Itália.


A carta enviada por Heinrich Himmler, Reichsführer das SS e chefe supremo dos campos de extermínio, datada de 27 de agosto de 1940, concedendo a Hess "ajuda e proteção de acordo com os desejos do Führer"


Além disso, o juiz foi aliviado da obrigação de levar o nome de 'Israel', que o identificava como judeu, e recebeu um novo passaporte em março de 1939 sem a letra 'J' (de judeu) impressa em vermelho.


O chefe da Chancelaria do Reich, Hans Heinrich Lammers, e o cônsul geral alemão na Itália, Otto Bene, também intercederam por Hess.


Depois do pacto entre Hitler e Benito Mussolini e a italianização fascista do sul do Tirol, a família Hess se viu obrigada a retornar à Alemanha em 1939 e se transferiu para o povoado bávaro de Unterwössen.


 Ernest Hess (primeiro à direita) com sua unidade na I Guerra Mundial


Em 1941, Hess recebeu a notícia de que já não estava sob a proteção de Hitler e foi internado no campo de concentração de Milbertshofen, próximo de Munique, onde teve que realizar trabalhos forçados.


Segundo a historiadora, seu casamento com Margarethe, uma mulher não judia, o salvou da deportação, enquanto sua filha foi obrigada a realizar trabalhos forçados para uma companhia elétrica.


No entanto, a mãe de Hess, Elisabeth, e sua irmã Berta foram deportadas por ordem de Adolf Eichmann, artífice do plano de extermínio judeu.


 Hess com sua esposa Margarethe e a filha Ursula no início dos anos trinta



Berta morreu no campo de extermínio de Auschwitz, enquanto a mãe conseguiu fugir nas últimas semanas da guerra do campo de concentração de Theresienstadt para a Suíça. Depois da guerra, Hess se tornou presidente de uma companhia ferroviária na cidade de Frankfurt.


Para Rafael Seligmann, editor do 'Jewish Voice from Germany' - publicação trimestral com uma tiragem média de 30 mil exemplares -, está claro que os ajudantes de Hitler cumpriam incondicionalmente as ordens do 'Führer', seja como salvador ou como assassino em massa.


Seligmann acrescentou que é obrigação de um jornal judeu descrever também desta forma o sistema criminal dos nazistas.


A historiadora descobriu no arquivo regional da Renânia do Norte-Wesfalia o revelador documento durante os preparativos de uma exposição no ano passado.


Até o momento só se conhecia outro caso em que Hitler intercedeu por um judeu: o médico de sua mãe, Eduard Bloch, da cidade austríaca de Linz, que até sua emigração, em 1940, teria estado sob a proteção do ditador.


Fonte: Veja

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...