No Palácio Beau Séjour, em Lisboa, ainda vive o barão da Glória
Neste livro contam-se histórias de fantasmas, testemunhos da tradição oral portuguesa.
'Histórias
de um Portugal Assombrado’ (Ed. Esfera dos Livros) é mais do que uma
viagem por entre as casas assombradas, os fantasmas e os mistérios
difíceis de explicar.
É também, e acima de tudo, uma viagem pela
tradição oral portuguesa – sejam as lendas do passado sejam os novos
mitos urbanos – que a autora, Vanessa Fidalgo, jornalista do Correio da
Manhã, recolheu de lés a lés do País.
Neste
Portugal assombrado que o livro desvenda, há almas que deambulam por
casas e antigos hospitais, mouras encantadas que continuam a assustar os
vivos, amores trágicos que deixaram espectros a pairar, crimes
hediondos com vítimas e vilões que não encontraram descanso. Nas suas
páginas, contam-se histórias que o tempo não apagou.
Foi
uma reportagem da jornalista sobre o tema, aqui, na revista Domingo, em
Abril de 2011, que deu origem a este livro.
"Acreditar em fantasmas não
é consensual. Mas este não é um livro que faça a apologia de nada,
tanto que, tal como no jornalismo, foram ouvidas partes com opiniões
diferentes", assume Vanessa Fidalgo.
As histórias
que foi recolhendo não a arrepiaram mas "impressionaram. Nomeadamente
as que envolviam relatos de violência ou crueldade".
Já a maior
dificuldade foi sentida nas cidades. "Enquanto que nos meios pequenos é
fácil que as pessoas falem de mistérios, na cidade sente-se algum
preconceito. No fundo, este assunto mexe com questões existenciais do
indivíduo e da sociedade."
Seguem-se excertos do livro, que chegou esta semana às livrarias, comentados pela autora.
NOITES MAL DORMIDAS
"[No]
Hotel da Bela Vista, na Praia da Rocha, em Portimão, [...] o cardápio
podia incluir gemidos, lamúrias inexplicáveis, pancadas nas paredes a
meio da noite e o fantasma da ex-proprietária a atravessar os corredores
e a tirar o sono a muitos dos seus antigos funcionários [...]. ‘Eles
contam que ouviam barulhos e viam o vulto de uma senhora, a antiga dona,
a passar no corredor. E curiosamente, os ruídos só acontecia no quarto
onde ela falecera, que era o número 108’."
Este
local, onde várias gerações de funcionários avistaram um fantasma, é
rico em histórias para contar. "Recebeu personalidades ilustres,
funcionou como porto de abrigo de fugitivos na altura da II Guerra
Mundial e ainda tinha outro segredo: quando fizeram obras, descobriu-se
que um antigo funcionário tinha guardado cartas por enviar de hóspedes
estrangeiros. O hotel encaminhou-as e recebeu respostas de netos e
bisnetos dos destinatários", conta a autora.
BARÃO DA GLÓRIA
"De
um dia para o outro, os documentos e dossiers mudavam de sítio. Sabendo
nós que o palácio tinha ficado fechado e sozinho durante a noite [...],
os trabalhos de arquivamento foram interrompidos por ruídos, sons e
ecos, coisas que, enfim, por mais que se quisesse não se conseguiam
explicar."
O fantasma do Barão da Glória,
‘residente’ no Palácio do Beau Séjour, em Lisboa, foi revelado à
jornalista por quem diariamente ali trabalha. "Telefonei para o Gabinete
de Estudos Olisiponenses, localizado no Palácio, a perguntar se tinham
material sobre este tema que eu pudesse consultar, e os funcionários
disseram-me que também eles tinham um fantasma e que eu devia contar a
história."
TEATRO LETHES
"É
uma bailarina que se enforcou lá há anos e que aparece. Ela apareceu a
alguém, a um colega e a uma senhora que trabalhavam lá. Pelo menos, eles
saíram de lá a correr a sete pés, [...] não há ninguém dentro do Teatro
Lethes, na parte de baixo aquilo é a Cruz Vermelha, e se estiver tudo
em silêncio, a meio da noite, ouvem-se passos [...] Da bailarina que o
povo fala pouco se sabe, a não ser que – segundo as falas das gentes
inconsoláveis com o seu fado – terá sofrido um terrível desgosto de
amor."
A história é uma das preferidas da autora.
"Principalmente porque o nome Lethes foi inspirado na lenda do rio
grego com o mesmo nome, cujas águas teriam o poder mágico de apagar as
más memórias, curiosamente o oposto do que aconteceu com o Teatro",
explica a jornalista.
SAIAM DAQUI!
"‘Saiam
Daqui, vão-se embora!’ – vociferou uma voz metálica e grotesca assim
que os elementos da equipa de investigação de fenómenos paranormais Team
Anormal passaram um registo de EVP pelo software de limpeza de ruídos. A
gravação fora feita poucas horas antes, no interior do Palacete de
Marques Gomes, uma antiga mansão abandonada e prostrada aos pés do rio
Douro, na margem de Vila Nova de Gaia [...] era a prova de que ‘as almas
do outro mundo existem e andam por aí!’"
De lá,
conta a autora, "muita gente já fugiu a sete pés. Esta história é
verdadeiramente assustadora: quem não fugiria ao ouvir ‘saiam daí’ no
meio de umas ruínas solitárias?"
A AUTORA DA REPORTAGEM DA ‘DOMINGO’ QUE DEU ORIGEM AO LIVRO
Vanessa
Fidalgo, a autora de ‘Histórias de um Portugal Assombrado’, é
jornalista do Correio da Manhã desde 1997. Natural de São Domingos de
Benfica, em Lisboa, onde nasceu a 15 de Maio de 1978, licenciou-se em
Comunicação Social, na variante de Publicidade e Marketing, pelo
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas no ano 2000. Na
revista Domingo, para onde actualmente escreve, assinou em Abril de 2011
a reportagem ‘Ainda Há Histórias de Casas Assombradas’, que viria a dar
origem a este livro sobre um Portugal assombrado e desconhecido.
De
norte a sul do País e nas ilhas, a jornalista entrevistou protagonistas
(e testemunhas) de histórias que falam de fantasmas, espíritos e casas
assombradas, de lugares marcados pelo mistério e pelo fantástico, num
levantamento exaustivo deste imenso (e rico) património cultural que
remonta a passados mais ou menos longínquos.
Fonte: Correio da Manhã
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