Pesquisa comprova que comunidade pré-histórica dominava agricultura, cerâmica e fiação de algodão
"Aos poucos vamos reconstruindo o mosaico de nossa pré-história,
quebrando cada vez mais o paradigma de que a ocupação do Estado somente
aconteceu a partir da vinda do europeu ao nosso Estado".
Assim reagiu o chefe da divisão técnica do Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), Ramiro Teles, sobre o achado arqueológico encontrado no Maciço do Baturité.
Assim reagiu o chefe da divisão técnica do Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), Ramiro Teles, sobre o achado arqueológico encontrado no Maciço do Baturité.
O
fato novo foi a comprovação da idade do homem cujo esqueleto foi
encontrado na área pesquisada. As primeiras amostras de carvão
analisadas - colhidas em vasilhas cerâmicas e na base do crânio do
esqueleto - apresentaram idades radiocarbônicas de 660 ± 30 AP (Antes do
Presente) e 670 ± 30 AP, ou seja, entre os anos 1280 e 1300 da era
cristã.
Para chegar a este resultado, as amostras foram datadas
pelo método do Carbono 14, no Laboratório Beta Analytic , localizado em
Miami, na Florida (EUA).
Aflorando
O
sítio foi descoberto há dois anos, quando artefatos e utensílios de
barro, urnas e fusos afloraram na comunidade quilombola da Serra do
Evaristo.
"Foi a própria comunidade que nos contatou, em vista dos
objetos aparecerem de maneira muito frequente, como em frente à igreja,
ruas e até as escolas", disse Ramiro Teles.
Desse modo, o Iphan,
tendo à frente a arqueóloga Verônica Viana e mais três arqueólogos de
uma empresa participar, iniciaram as escavações para descobrir mais
objetivos que levassem a uma identificação dos povos pré-históricos.
Com
a execução do plano de ação, as escavações foram de fato
compensatórias, com relação ao resultado.
Na área envolvida, foram
encontradas 30 urnas funerárias e mais de 50 machados de pedra, além de
fusos, comprovando, assim, que os povos dominavam o tear do algodão.
A
informação comprovava que grupos indígenas ocuparam o local pelo menos
dois séculos antes da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500. A
pesquisa é financiada pelo Iphan/CE.
Localizada acerca de 500
metros de altitude e a nove quilômetros de Baturité, o sítio
arqueológico teve seus trabalhos de escavação encerrados.
Agora, o passo
seguinte é construir um museu reunindo o material coletado, a fim de
não se perder a identidade territorial dos povos que habitaram no
passado.
Para o arqueólogo Igor Pedroza, que também fez parte da
equipe, o fato mais interessante foi encontrar esqueletos e assim ter
elementos para análises diversas.
Isso leva, conforme salienta, a
esclarecimentos sobre morfologia, estrutura óssea e dados para a datação
e análise ambiental.
Igor lembra que no início das escavações
houve um fluxo bem considerável de visitações, especialmente por
curiosos.
No sentido de preservar as áreas mais sensíveis foram
ministrados dois mini cursos de arqueologia, sendo um para a própria
comunidade local e outra para alunos da Unilab, em Redenção.
"Não
se trata de uma única datação feita no Ceará. Mas podemos assegurar que
esses estudos ainda estão apenas no seu começo", afirmou Igor.
Para
Ramiro, o mérito maior da descoberta foi exatamente identificar povos
que habitavam a região. Os estudos apontam para uma outra etnia,
conhecida por Aratu, diferente dos Tupi, que comprovadamente habitaram o
Cariri em tempos relativamente equivalentes.
Para os estudiosos,
isso seria uma comprovação de que alguns povos de culturas distintas
habitaram o Ceará, bem antes das vinda do português ao Brasil.
Os
achados indicam que a área foi habitada por grupos pré-históricos que já
dominavam a agricultura e tecnologias da fabricação da cerâmica e da
fiação de algodão.
As escavações também demonstram a prática de
sepultamentos em urnas funerárias cerâmicas piriformes (em formato de
peras).
Também foram constatadas a presença de substâncias
orgânicas como peixes, tatus e outros animais, o que leva à crença de
que os sepultamentos eram acompanhados de uma espécie de ritual.
Embora
pertencentes a horizontes culturais distintos, os arqueólogos cearenses
já podem afirmar que os grupos pré-históricos do Evaristo, sem etnia
ainda definida, viveram à época dos grupos Tupiguarani do Cariri
Cearense que se estabeleceram às margens do riacho das Baixas, no
Município de Mauriti.
A pesquisa está na fase final. Após o
processo de escavação em campo e em laboratório, higienização, registro e
demais atividades, o material será catalogado para integrar a coleção
do museu que será construído na comunidade.
FIQUE POR DENTRO
Educação é meio para preservar acervo do local
Além
da ideia de construir um museu, que funcionará na própria comunidade,
de modo a abrigar o acervo da área pesquisada, o Iphan também se
antecipou em promover cursos para preparar as pessoas para conviver com
os achados arqueológicos.
Neste sentido, para promover a educação
patrimonial sobre o assunto, foram realizados minicursos e palestras na
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(Unilab), no Centro Regional Integrado de Administração (Cria) de
Baturité, na Escola 15 de Novembro e no Ponto de Cultura do Evaristo.
Jovens da comunidade foram contratados e treinados para desenvolver as
atividades de campo e laboratoriais, formando, assim, multiplicadores de
toda a pesquisa.
No Sítio Funerário do Evaristo, a proposta é a
construção de um museu, em regime de mutirão, para abrigar as peças
encontradas no local. Segundo Ramiro Teles, o objetivo dessas
iniciativas é fortalecer a territorialização dos achados.
Fonte: Diário do Nordeste
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